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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Nós, os órfãos do Felipão

A primeira vez em que fui ao estádio Olímpico foi em 1995. Eu tinha 14 anos e estava na oitava série do Colégio Sepé Tiaraju. Lembro que nem mesmo a derrota por 3 a 2 para o Botafogo de Túlio, pelo Brasileirão (que o Botafogo ganhou naquele ano) desanimou o torcedor gremista, que só pensava no Mundial e na decisão que teria contra o Ajax no final do ano. De lá para cá são mais de 15 anos indo com frequência ao estádio Olímpico. E em todos esses anos, nunca vi um público tão grande ficar tanto tempo em silêncio como ocorreu na última quarta-feira, na derrota para o Palmeiras pela Copa do Brasil. Antes do jogo o clima era de decisão. Quando eu ia indo pela Erico Verissimo, passaram carros e motos da Brigada Militar para trancar a rua. O ônibus conduzindo os jogadores do Grêmio passou sendo ovacionado pela multidão que se encaminhava para o Olímpico. Fora do estádio, a torcida cantava, gritava, uivava de êxtase. O clima era totalmente de festa na Azenha. Embaçado pelo entusiasmo, comprei um bandeirão e uma toca do Grêmio. Fui para o estádio enrolado na bandeira, pensando que, finalmente, depois de mais de dez anos da última conquista tricolor de peso, o orgulho gremista estava começando a ser resgatado. A festa durou apenas até a bola rolar. Felipão fez o que todos os treinadores sempre tentam fazer quando enfrentar o Grêmio no Olímpico: calar a torcida. Desde o início o Palmeiras não deixou o Grêmio jogar. Paravam os jogadores tricolores de qualquer jeito: com falta leve, com falta violenta, com entrada dura na bola, com empurrão, com puxão de camisa, etc. Exatamente a cara do Felipão. E, aos poucos, a torcida do Palmeiras, que estava quieta, começou a cantar. E a do Grêmio, que estava agitada, foi ficando cada vez mais quieta. E pior: só abria o bico para chiar, xingar e vaiar, coisa rara no Olímpico. Já vi o Olímpico cantar o jogo inteiro em partidas em que o Grêmio caiu, como na derrota para o Boca na final da Libertadores. Mas dessa vez, o silêncio da torcida gremista, que lotou o Olímpico, foi uma espécie de maracanaço tricolor. Foi constrangedor. Foi triste. Foi inesquecível. Pela primeira vez na vida vi a Geral do Grêmio ficar completamente em silêncio. Nenhuma bandeirinha tricolor ousava tremular nas arquibancadas. Foi uma rendição total à capacidade do Felipão Quando o jogo terminou, esperei o estádio esvaziar. Então saí, com a cabeça baixa, tentando entender o nó tático que o Felipão deu no Luxemburgo (mais uma vez). Andei novamente pela Erico Verissimo, até encontrar uma lancheria. Comi um xis galinha sem ovo e sem maionese vagarosamente, antes de seguir meu rumo. Na rua deserta, vi uma cena surreal: um torcedor de cabeços brancos vinha calmamente em minha direção, mas sua camisa não era tricolor, e sim, verde-limão marca página do Palmeiras. Ao me ver, enrolado na bandeira do Grêmio, ele baixou a cabeça. Franzi a testa e fui andando em sua direção, estranhando aquela figura corajosa e pitoresca que caminhava vagarosamente com sua camisa luminosa na escuridão do início da madrugada porto-alegrense. Aproximei-me dele e o cutuquei. Ele não reagiu. Pensou que eu era mais um torcedor violento e bêbado desolado que havia deixado o estádio e que estaria pronto para lhe agredir. Ao ver que ele não iria me dar atenção, simplesmente murmurei, em tom de súplica: “devolvam-nos o Felipão”. Então ele ergueu a cabeça e sorriu. Eu acenei e segui o meu caminho. Hasta. *Texto publicado no J Missões.

1 Comentários:

  • Foi exatamente o que vi, o Felipão, com um time inferior ao do Grêmio, deu um nó tático no Luxemburgo.
    O problema do Luxemburgo é que ele se acha a última bolachinha recheada do pacote, não tem humildade. E aí acontecem esses desastres.
    O meu Inter sábado, voltou com os titulares, e aí acharam que seria uma vitória ao natural contra o Botafogo, esqueceram de combinar com os botafoguenses.

    Por Blogger Marcos, às 18 de junho de 2012 às 03:33  

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