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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Doce ilusão

Essa breve “arrancada” do Grêmio nas últimas duas rodadas, nada mais é do que uma doce ilusão. Mais uma, em 11 anos de seca. É mais ou menos como o cara que está perto da casa dos 40 e está sentado na mesa de um bar e vê aquela garota de 18 anos, de pele macia e umbigo de fora com piercing, lhe encarando e sorrindo incessantemente. Ele olha para os lados para ter certeza de que é com ele, vê que não tem mais ninguém em volta, e já começa a antegozar sua própria conquista. O bom e velho lobo sempre em ação, pronto para uma nova caça, pensa consigo mesmo. Então, a garota se levanta do grupinho de garotas que forma um belo círculo no meio do bar, caminha em sua direção, os cabelos balançando da mesma forma que a bandeira do seu Grêmio balançava em dia de final de campeonato na década de 90, sempre sorrindo, até que ela para na frente dele e diz.
“Eu lembro de você”. Ele engasga. Pensa que é alguma admiradora secreta, alguma rapariga nova que, de repente se apaixonou platonicamente por ele ao saber de todas as conquistas que teve ao longo de seus quase 40 anos de vida. Então ele gagueja, “le-lembra?”. E ela arremata, como o Romário fazia na frente de qualquer goleiro, de qualquer tamanho, de qualquer time adversário: “Sim, você estudou com minha mãe. Tem uma foto da turma de vocês no quarto dela. Quer que eu mande um abraço pra ela, tio?”. Então, aquele sorriso colgate vai se desmanchando aos poucos, até virar um sorriso amarelo, e ele responde sem muita convicção. “Pode. Pode mandar um abraço meu para a sua mãe...”. Ela ainda dá o golpe final: “Tá bom tio, vou mandar! Ti-au”, e vira-se e volta, rebolando sua carne rija e suculenta até a mesa das gurias.
É exatamente isso que está acontecendo com os torcedores do Grêmio. Eles pensam que porque venceram do mediano Cruzeiro e do rebaixável Sport, podem ganhar o título. Falo em título, pois, para mim, o que importa é título. De nada vale conquistar uma vaga para a Libertadores. Isso não é troféu. Isso só adia o sofrimento gremista, pois, se ganhar a tal vaga, os gremistas pensam que está tudo bem, achando que podem ganhar a Libertadores do ano que vem, e então, no ano que vem, são eliminados da Libertadores, perdem mais um Gauchão para o Inter e lá se vai mais um ano sem título.
No caso, dois, porque esse já terá passado em branco. E, no fim das contas, o sorriso do gremista, ao final de cada temporada, vai ficando tão amarelo quanto o do cara de quase 40 anos. Ele acreditou, ele se iludiu, e ele se decepcionou. Pois eu, depois de me sacrificar para ver o fiasco da Copa do Brasil contra o Palmeiras, no Olímpico, só acredito vendo. Só acredito depois que o árbitro apitar o fim do jogo e o capitão tricolor erguer o troféu. Assim como o cara de quase 40 anos só deveria acreditar após ir às redes e ver o corpo nu da garota de 18 deitado ao seu lado.
Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no J Missões de sábado.

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