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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Puritanismo futebolístico

Em “O sonho americano e o homem moderno”, publicado pela primeira vez no Brasil em 1972, o inglês Walter Allen aborda a formação do sonho americano, que é o pai do sistema atual do mundo ocidental, onde todos têm a possibilidade de ascender social e economicamente, em uma perspectiva histórica. Ele compara os puritanos ingleses que chegaram aos Estados Unidos acreditando que estavam chegando em uma “terra prometida” onde não haveria espaço para a diversidade religiosa nem para o questionamento da palavra de Deus que estava na bíblia, conforme a interpretação de alguns que se autodenominavam os detentores do poder e que se autodenominavam de “os escolhidos Dele”. Ou seja, eram fundamentalistas religiosos que não permitiam nenhuma outra interpretação da bíblia que não fossem as suas próprias.
Na medida em que ia lendo o livro, fui percebendo que o puritanismo não é algo exclusivo da religião e tem seu espaço no mundo futebolístico. Não falo no sentido clubístico, mas no sentido da evolução do futebol. O impedimento, por exemplo. Pra que serve o impedimento? Para dar emprego aos bandeirinhas? Para os comentaristas de TV ter o que debater no outro dia? Para derrubar sistemas táticos? Enfim, na minha avaliação, não tem serventia nenhuma, a não ser para impedir o que o torcedor mais gosta: o gol. Daí o seu nome: impedimento.
É a regra mais besta e burra que um esporte pode ter. Imagino que 50% dos impedimentos são mal marcados (ou são marcados quando não há, ou não são marcados quando há). Como ninguém sugere o fim da regra do impedimento? Quando vamos evoluir até o ponto de voltarmos às origens? Sinceramente, acho que nunca, pois com certeza se alguém, além desse que vos escreve, propor isso na FIFA, por exemplo, será execrado e taxado de louco, da mesma forma como quem questionava os puritanos na origem da história norte-americana ia parar na forca ou na fogueira.
Outra coisa, essa com certeza você, nobre leitor, vai achar mais absurda da minha parte.
Mas não seria melhor, e mais puro para os puritanos futebolísticos, que o futebol fosse jogado de pés descalços? Se assim fosse, não teríamos enganação. O sujeito estaria em contato direto com a bola. É o futebol na pureza da sua essência. Bate com o dedão embaixo da bola para encobrir o goleiro. Dá carrinho de sola sem deixar as marcas das travas na canela de ninguém. Aliás, até a caneleira seria dispensável. Que maravilha! Ah, mas não pode, senão os fabricantes de chuteiras e caneleiras, que patrocinam o espetáculo, ficariam zangados. E a última coisa que os puritanos do futebol querem é ver seus financiadores zangados.
Esses são devaneios que tenho, enquanto a corrida de tartarugas, que é esse campeonato brasileiro por pontos corrido, não chega ao fim. Amanhã tem Atlético-MG e Grêmio. Se o Grêmio perder, segue onde está. Se empatar, fica no mesmo lugar. E se ganhar, não avança nenhuma posição na tabela. E o Inter? Bom, o Inter já está em ritmo de férias há algum tempo. Que venha o ano novo!
Um bom final de semana a todos.
*Texto publicado no JMissões de sábado.

1 Comentários:

  • Porra alemao! To sumido alemao, mas a vida é assim e vice-versa.

    Sempre achei o impedimento uma merda e continuo achando, e sempre defendi o fim dessa regra pelos mesmos e lúcidos motivos por vossa mercê elencados.

    Achei interessante a ideia de jogar descalço. Realmente seria muito melhor para o espetáculo, porém uma heresia, sabe-se.

    porra alemao!

    Por Blogger Zaratustra, às 24 de setembro de 2012 às 18:10  

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