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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O contra-sonho

Há muito tempo venho cultivando a minha mini-fazenda no Orkut. Uma distração leve, desestressante. De certa forma, até entorpecente. Como já escrevi em outro texto, compro vacas, porcos, ovelhas, planto milho, lírio, algodão, abóbora moranga, enfim, faço de tudo na minha mini-fazenda. Tenho vários carros e várias casas. Porém, estava pensando esses dias: por que tanta satisfação em uma fazenda virtual se eu nunca morei e nem pretendo morar em algo semelhante? Pensei, pensei, pensei, até que conclui que, como diria McLuhan, o meio é a mensagem. Ou seja, no caso do estudioso canadense, ele apontou que o que importa não é o conteúdo dos meios de comunicação, mas sim, os próprios meios. Nesse sentido, no meu caso, a minha atração não é pela fazenda em si, mas sim pela lógica desse tipo de jogo: ganhar dinheiro para poder comprar mais. Esse é o princípio dos jogos onde você administra uma cidade, um café, uma boate, uma casa, um clube de futebol, enfim, o que menos importa é o conteúdo, mas sim, o a lógica do jogo.
Fiquei me questionando quanto a isso porque existe por aí um plano de me levarem para um sítio, fazenda, ou algo do gênero. Aliás, não só eu, mas mulher e filhas também. E se tem alguma coisa que, literalmente, me mataria de tédio em pouco tempo (uma semana, um mês, um ano?) seria isso: uma fazenda. Nada contra quem goste de estar em paz consigo mesmo no meio da natureza e dos animaizinhos, mas, sinceramente, isso não é para um jornalista urbano como eu. Pelo menos, não para um jornalista de 28 anos.
Fazer isso seria o mesmo que pegar o meu diploma de jornalista, todos os livros que li sobre jornalismo, a minha monografia, meu projeto experimental de conclusão de graduação, meu artigo vencedor do Iniciacom na categoria Cultura de 2005, minha dissertação de mestrado, enfim, seria o mesmo que colocar tudo isso numa caixa e jogar num rio (sim, porque sítios e fazendas geralmente têm rios). Livrando-me dos meus apetrechos, eu simplesmente teria a vida que mais me causa embrulho no estômago: limpar estábulos, colher na horta, plantar, pegar os ovos das galinhas (para os outros, já que eu não como), tirar leite das vacas, limpar vários hectares de grama sei lá eu como, cuidar das máquinas (como se eu entendesse alguma patavina de máquina), limpar as bostas das ovelhas e das vacas com uma enxada para, no fim do dia, completamente sujo, cansado e embostado (sou meio desajeitado com atividades domésticas e fazendísticas), tomar um banho, dormir cedo (SOU BOÊMIO!), para no outro dia fazer tudo de novo, pois os animais seguem produzindo e cagando e as plantas seguem crescendo (e a grama também, e alguém tem que cortar, sabe cumé....). Enfim novamente, como disse, até admiro quem gosta de viver assim, até porque precisamos de agricultores para termos comida no supermercado, e acho que eles devem ser supervalorizados. Mas, eu ir morar em um sítio ou fazenda é mais ou menos como colocar um jogador de vôlei a jogar futebol, ou um jogador de futebol a jogar basquete, ou um jogador de basquete a jogar tênis. Ou, fazendo uma metáfora futebolística, seria como botar um goleiro de centroavante, um meia habilidoso na zaga ou um zagueiro trombador como meia de criação. Desculpem a pieguice mas, tipo assim: não rola. Vejo-me mais como um coiote levando estrangeiros para os Estados Unidos no México do que como alguém que vai trabalhar na terra. Entretanto, volto a frisar mais uma vez: admiro muito quem gosta desse tipo de vida, inclusive, meu pai cresceu morando “pra fora” e adora trabalhar com terra, bichos, plantas, etc. Mas, cada um cada um, ou, como diria aquela musiquinha ultra-enjoada: cada um no seu quadrado.
Aproveito o espaço cedido por mim mesmo para também responder às críticas da minha amada Mamuxca, que critica vários textos meus, dizendo que estou me indispondo com certas pessoas, empresas, políticos, etc... Mas, pensando agora, às 3 da madrugada, lembro de uma resposta que o escritor Charles Kiefer me deu em uma entrevista, quando lhe questionei sobre o quê o levava a escrever? “Não sei, simplesmente se não escrevo começo a passar mal, o coração dispara, parece que vou ter um treco, morrer...”, foi mais ou menos o que ele disse. E assim é comigo: se tem um assunto que está entalado na minha garganta, tenho que escrever. É da minha natureza. E, para ter sobre o quê escrever, tenho que estar no agito, no movimento, no meio da circulação de pessoas, e não numa fazenda. Agora, aproveitando o momento de desabafo (pra variar...) também vou usar esse nobre espaço cedido muito gentilmente por mim mesmo para responder aqueles que criticam quem escreve sobre si mesmo (coisa que praticamente todos os cronistas contemporâneos fazem: David Coimbra, Juremir Machado da Silva, Martha Medeiros, meu primo Gérson Alemão, Mr. Gomelli, July, etc...): minha literatura (se é que podemos chamar assim) é escrita para salvar a mim mesmo de minha própria insanidade. Caso alguém mais se salve (sabe-se lá de quê?) já estarei no lucro.
Um forte abraço a todos os leitores, que eu estou indo para o meu retiro acadêmico-espiritual (Intercom em Caxias do Sul e depois seminário na PUCRS). Um dia, se Deus quiser, eu volto.

7 Comentários:

  • Tche Ritter... longo, mas muito legal o texto. Desabafos são bons porque normalmente muita gente pode se identificar com eles...

    eu também nunca fui do meio rural, embora quase toda minha família seja... seria horrível pra mim, também, ter que ir morar no campo... complicado mesmo...

    Sobre escrever sobre si... acho que nossos problemas não são só nossos... e como tu bem escreveu, o objetivo é ajudar a si próprio também... obviamente, que se mais alguém tirar algum proveito... tá ótimo... falou tudo cara... muito bom...

    quanto a se indispor contra os outros... acho assim: chega de ficar escondendo a forma de pensar só pra agradar quem quer que seja. Eu escrevo o que penso sobre os temas que bem entendo. Quem não gostar, simples, que não leia. Sei lá...ninguém é obrigado a concordar com ninguém... hehe...

    assim como tu se estendeu no texto, meu coments ficou gigantesco tbm... que merda...

    ah, que honra ser citado no mesmo espaço que David Coimbra... o dia que tiver 10% da capacidade de narração dele, eu serei feliz... hehe...

    abração ae manolo e boa viagem...

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 30 de agosto de 2010 às 23:55  

  • Porra Alemao!

    Mas no final o importante é o que importa...

    Bao intercao ae

    Por Blogger Zaratustra, às 31 de agosto de 2010 às 06:29  

  • diria cn no alge do seu mau humor, no qual eu me encontro: tah e daí? hauhuahua já que tu tanto gosta de agito não precisa do teu dvd uhuhuhuhuhu

    Por Blogger Carolina, às 31 de agosto de 2010 às 15:45  

  • porra alemao, e o que tem a ver o Alf no meio do post? Ta comendo gatos agora?

    Por Blogger Zaratustra, às 1 de setembro de 2010 às 02:16  

  • O Raduan Nassar escreveu dois livros geniais e foi morar numa fazenda. Lavoura Arcaica é um dos livros mais incríveis que a literatura brasileira já produziu. Mas acho que você realmente não faz a linha. Tu tá mais pra João do Rio que pra Raduam Nassar. Aliás, tô lendo as crônicas do Nelson Rodrigues sobre futebol. Já leu? É incrível. Absurdamente incrível. Remete a uma idealizada de jornalismo que, acho, levou muitos otários como nós a acreditar nessa profissão ao ponto de escolhê-la como meio de vida. Fico lendo os teus texto aqui no teu blog e percebo que tu ainda guarda um pouco desses ideais. Apesar de todo perrengue, acho que tu se amarra mesmo em ser jornalista. Eu cansei faz tempo. Não acredito no jornalismo. E acredito cada vez menos na literatura. Acho que tudo que havia para ser dito, já foi dito. E pouco mudou. Mas não liga pra mim, não. Eu tô ficando velho. Abraço, cabrón.

    Por Blogger ababeladomundo, às 1 de setembro de 2010 às 09:40  

  • porra alemão! é que no detalhe, o Alf (o teimoso) está com uma caneta, escrevendo..auhauahuahauhauauha. ri mto aki do teu comentario..auahauha. pensei q alguem poderia pensar isso..auahuahuaa
    já do comentario do ababelado, tipow, axo q se eu n acreditasse na porra toda n teria pq fazer mestrado.... como vou dar aula pra alguem se nem eu acredito nisso? enfim, acho q o que nos entorpece e nos fazer desistir é qdo entramos no ciclo vicioso do mercado.. ai, realmente, eh de desanimar...

    Por Blogger Eduardo, às 1 de setembro de 2010 às 10:27  

  • Como disseste, cada um, cada um... cada macaco no seu galho... ao contrário do teu pai, eu sempre morei na cidade, e morreria de tédio se morasse pra fora, em sítio ou sei lá o que... puxaste por mim, com certeza...
    E acho mais: lé com lé, cré com cré, dá mais certo... bjs, amado!

    Por Blogger Nara Miriam, às 4 de setembro de 2010 às 12:42  

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