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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Key West – Bate pronto de Miami

Bom, antes de mais nada, tenho que esclarecer que esse será um longo texto. Deixei acumular muita coisa por dois motivos principais: primeiro, o de que ninguém lê essa porra – o número de comentários mostra isso. E, segundo, porque esses foram os últimos dias com a minha família aqui (a patroa e as crianças voltaram para o Brasil ontem), então, quis aproveitar o máximo de tempo para curtir o pessoal, principalmente para brincar com a minha pequena e pegar bastante ela no colo e fazer cosquinhas.
Bueno, já que esse será um texto longo, e eu sei que você, leitor imaginário, é um vagabundo que não gosta de ler nem placa de trânsito, então vou dividir a porra toda por tópicos e subtítulos, ok? So, let’s go.
Começo justamente pelos últimos dias da patroa e das crianças. Como já devo ter comentado em algum lugar da web, elas ficaram dois meses comigo em New York e três semanas em Miami. Bom, terei que abrir aqui o primeiro parêntese, pois tenho que comentar um pouco sobre Miami. Mesmo eu lendo sobre e vendo os mapas na internet, eu não tinha ideia do que era Miami. Na verdade, Miami é gigante, em extensão (não em população). Praticamente não há prédios e, em vários trechos, você anda quadras gigantescas sem passar por nada, a não ser por viadutos e postos de gasolina. Então, tudo é longe. Nós ficamos no Sudeste da cidade. Era fácil irmos para Downtown, onde tem o Bayford Park, nosso lugar mais visitado. No entanto, as praias famosas são longe. Miami Beach é outra cidade e dá meia hora de carro e duas horas de ônibus. Então, resolvemos curtir os arredores de onde estávamos, incluindo Dowtown, e um parquinho que a Larissa adorou aqui perto. Resumindo, decidimos alugar um carro nos últimos três dias delas aqui, que eu acabei estendendo para quatro, para poder ir para Key West.
Negócio é o seguinte: um dia antes de pegarmos o carro fomos para uma prainha paradisíaca que fica a 20 minutos de ônibus daqui – perto do Sea Aquarium. Pena que só descobrimos ela nos últimos dias. Mas enfim, valeu muito a pena. Já no primeiro dia com o carro, fomos para Hollyood Beach, que fica a uns 40 minutos de Miami. Vale a pena, é bonita e paradisíaca – e é a tal praia dos famosos aqui. O único problema é achar lugar para estacionar. No segundo dia, fomos para Miami Beach. Era aquilo que já tinha visto na primeira vez que fui com a Lari, de bus.
Uma praia extensa mas com uma cidade viva e muita gente. Ou seja, uma das diferenças de Hollyood para Miami Beach é que na primeira você não tem uma cidade viva. É mais a praia e condomínios residenciais, casas de praia, etc. Já na segunda, há uma cidade com muito movimento, bares e restaurantes lotados, lojas famosas, trânsito foda e tudo o mais. Enfim, no terceiro dia acabamos optando por um passeio mais light, pois o avião delas era de noite, então, fomos até a Toy R Us, loja de brinquedos onde a Larissa fez a festa e, depois de fazer birra, chorar e se atirar no chão, acabou ganhando o gato Tom, aquele que tem o aplicativo no celular, só que de pelúcia e que faz tudo que o gato digital faz: grita, uiva, repete o que fala, etc.
No fim, acabei levando elas no aeroporto de Miami (exatamente na hora de Grêmio 3x0 Nacional), aonde fiquei com o coração apertado ao ouvir a minha pequena fazendo beiço e chorando dizendo que iria ficar com saudades de mim... Depois, meio desnorteado, acabei perdendo o carro no estacionamento gigante e levei uma hora para achar....

Grey Shark
Como disse, alugamos um carro. Fiz a reserva pela internet, seguindo as dicas da minha colega e amiga Lirian Sifuentes, que também fez o sanduíche nos States e passou por Miami. Peguei um carro econômico no site, mas eu não pude escolher o modelo. No site tinha lá uns cinco tipos, que poderia ser qualquer um deles – e só tinha o nome, mas como não entendo patavina de carros, pra mim era como se os nomes fossem em grego. Fui na locadora no domingo de manhã, pois o horário de retirada era onze horas. Havia uma fila. Primeiro, tive o prazer de, pela primeira vez, ter uma discussão em inglês. Eu cheguei 10h45 e já era 11h45. Os dois atendentes estavam ocupados. E eu estava lá, zanzando na sala de recepção, quando entrou um cara e duas mulheres. Eles se dividiram, e o cara e uma das mulheres ficaram atrás de um dos balcões de atendimento e a outra mulher, sozinha, foi para o lado em que eu estava. Quando um dos caras se liberou, ela chegou direto dizendo que tinha uma reserva e blá, blá, blá... Eu sou calmo, mas já fico irritado com isso no Brasil, então, imagina aqui! Ainda mais que se tratava de um grupo de americanos!! Não resisti, e disse para a atendente “excuse me, but I arrived here first”... E a americana me olhou com cara de nojo e disse que eu não estava na fila (!?!?! – que fila se só eu estava lá, caralho!). Aí eu disse que estava lá há quase uma hora e discutimos mais um pouco, até que a atendente (que era uma molóide, pois ela certamente me viu antes) me atendeu. O negócio foi rápido, e em dez minutos eu saí para a garagem com a chave do carro e a cadeirinha da Larissa. Estava eu lá, mosqueando de novo, esperando me trazerem o carro, quando de repente chegou O CARRO. Yes, man, um Elantra da Hunday cinza. O cara disse “it’s here”. E eu pedi para ele conferir meus papeis para ver se era esse mesmo o carro. Ele olhou e disse “yes”. Caralho!!! Bom, como todo mundo que vem para cá coloca nome nos carros, e o Hunter Thompson fez isso com o seu “Red Shark”, eu tratei de roubar a ideia dele e apelidar o “meu” de “Grey Shark”. O problema é que, de início, eu não sabia como funcionava a marcha automática. Mas rapidinho peguei o jeito. O problema foi me acostumar com a ausência da embreagem, então, eu pisava no freio e o carro dava um soco (aconteceu umas três vezes, até que me acostumei de vez – quero ver desacostumar quando voltar ao Brasil). Aê o troço todo da saída da locadora pareceu uma comédia. Pois eu estava todo bobo alegre, andando pelas vias gigantescas de Miami, com meu carro novinho, ar condicionado no gelado, ouvindo a música da hora a todo o volume, quando de repente um carro passou colado ao meu, eu joguei ele para o outro lado e quase bati numa mulher, que ficou buzinando e me seguiu até passar por mim colocando a mão na cabeça e perguntando “are you crazy?”. Eu fingi que não ouvi e segui indo. Na real, esse foi o único susto. Menos mal que a patroa e as crianças não estavam a bordo...
E, com o Grey Shark, fizemos os passeios todos citados antes, até que na quarta-feira eu botei o pé na estrada para a grande aventura: Key West!

Bate pronto Miami-Key West
Vou começar do início. Lembro que quando eu estava traduzindo um dos livros biográficos do Hunter Thompson, ainda no Brasil, li que ele havia morado na Flórida. Então, tentando descobrir aonde exatamente ele morou, achei o seguinte: a primeira vez dele foi longe de Miami, na Universidade do Estado da Flórida, onde a minha outra amiga Eloísa Klein fez o sanduíche dela. Não lembro a cidade, mas não é tão perto. Foi nessa cidade que ele serviu a Força Aérea Americana. Depois, nos anos 1980, ele morou um tempo numa das ilhas de Florida Keys. Fui pesquisar sobre isso e logo descobri que se tratava de um aglomerado de ilhas, saindo do continente. Ou seja, são as praias mais ao sul dos Estados Unidos. Não achei exatamente em qual das ilhas Hunter Thompson morou, mas é possível que tenha sido em Key West, a mais famosa. Então, foi assim que descobri a existência dessa ilha que, fui ver depois, era uma cidade.
Antes de ir para lá, li muito sobre as ilhas, inclusive o texto do blog da Lirian, que também foi para lá e me deu muitas dicas via Facebook. Há muitas opiniões divergentes na internet e no boca a boca do pessoal que fez essa viagem. Então, num momento de jornalismo de turismo, se você for para o arquipélago, faça a sua programação e busque o que você tem interesse, senão você vai ficar perdido. Bom, antes de ir, também descobri que um dos maiores jornalistas-escritores de todos os tempos morou lá: Ernest Hemingway. E, que lá há o museu onde era a casa do cara. Então, comecei a minha rota por aí.
Bom, a viagem, vendo pelo Google Maps e pelos comentários deveria durar três horas e meia de carro. Ah, antes volto para o início mais uma vez. Eu conheci um casal de brasileiros no metrô, e eles me disseram que havia vans de turismo que levavam o pessoal para lá. O problema é que a van sai as oito da manhã, chega ao meio dia, e volta às cinco da tarde. Ou seja, eu teria apenas cinco horas lá. Mas, como imaginava uma ilha pequena, até achei que dava (aqui outra dica: evite ir de van). Pois é, se der, escolha um carro, pois a van custa 72 dólares. Foi então que fiz um cálculo simples: renovar o carro por mais um dia sairia mais barato (talvez o mesmo preço, com a gasolina). E assim fiz.
Meu plano inicial era sair às oito e meia para chegar ao meio-dia. Para a minha sorte, acordei às seis e meia sem sono e resolvi antecipar tudo. Sai às sete e meia (com uma passadinha rápida no 7 Eleven para pegar comida e não gastar lá) e cheguei meio dia. Ok, cheguei ao meio dia porque fiz três paradas nas outras ilhas no caminho. Agora algumas impressões pessoais:
1) Pelo que eu lia na internet achava que a viagem inteira fosse nas pontes, vendo o oceano. Na real não é bem assim. Da saída de Downtown você anda duas horas por estradas normais. Ok, tem o oceano ao redor, mas a vista é limitada. Então, na verdade, é mais ou menos uma hora vendo o oceano.
2) Se você for, ou pesquise antes para ver os lugares que vai parar, ou faça como eu, e quando ver uma entrada para estacionar na beira do mar pare. Foi assim que achei o parque dos Veteranos, uma mini-prainha paradisíaca (foto).
3) Não tem como você reduzir o tempo de viagem. Não é como no Brasil, que dizem “se você for rápido, você faz em três horas”. Esquece isso, cara pálida. Os carros não vão muito além do limite de velocidade, simplesmente porque se fazem isso te param no próximo posto policial. Então, mesmo que a pista esteja livre, você não vai conseguir ir tão rápido quanto deseja. Então, no mínimo, se você for reto e não parar, vai levar três horas e meia (eu levei isso para voltar, sem parar nunca, de noite – e mesmo assim peguei engarrafamento na entrada de Miami).
4) Enfim, o esforço todo vale a pena, pois as paradas são fodásticas e Key West é sensacional.
Bom, claro, a parte emocional. Eu estava empolgadíssimo, sem sono. Liguei o volume no rádio a todo o volume. O carro tremia. E tem um milhão de rádios, uma diferente da outra, então você acha música boa para a viagem inteira. Uma que tocou umas três vezes é “Because I’m happy”, que me deixava arrepiado com o som e a vista pela janela do carro. Eu berrava feito um maluco dentro do carro, uivava feito um lobo desperucado e dançava no volante como a galera que aparece no clipe da música. A todo o tempo eu pensava: “caralho, não acredito! Estou eu, aqui, na Flórida, em um Hunday com câmbio automático, um GPS do caralho que não deixa eu me perder, com toda essa vista, indo para um dos lugares mais fodas do mundo!!!! Uhuuuuu, porraaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Numa das paradas, depois que eu cheguei, apareceu um grupo de motociclistas. Pareciam os Hell’s Angels. Mas eles pediram pra eu tirar uma foto deles (uma com a máquina deles, então, aproveitei e tirei uma com a minha). Na real, eram turistas da Suécia que falavam um inglês tão precário quanto o meu.
Ah, quando eu saí de Miami, acabei botando como ponto de destino no GPS o museu do Hemingway, porque fiz o seguinte cálculo: o museu fecha às cinco, então, vou lá primeiro. E deu tudo mais ou menos como planejei. Com as paradas, cheguei em Key West ao meio dia. Aí outro problema para, se você pretende ir para lá de carro, se preparar: lugar para estacionar. Ao redor do museu é um problema. Andei por uns 20 minutos até achar um lugar (e não havia estacionamento pago como opção).

Ernest Hemingway House and Museum

Bom, cheguei na casa do cara tirando fotos. Caralho! Não acredito que tô aqui, cacete!!! Porra!! Passei a vida ouvindo falar que o cara é um dos mais fodas da humanidade, caras de todos os tipos elogiam ele, desde os desbocados e menosprezados Bukowski até os eruditos, e eu tô aqui, porra!!!!!!!
A entrada é 13 dólares, mas que se foda, é uma chance única na vida! Entrei todo bobo alegre e me surpreendi: a casa é gigante e o pátio também! Imaginei que ele fosse como os outros, que moravam em quartinhos alugados, mas não. Hemingway, que nasceu 1899 e morreu em 1961 (assim como Thompson, suicidou-se), vivia bem, e muito bem. Ele se mudou para lá com a mulher nos anos 1920, mas não descobri até quando – pois ele se matou em outro lugar. Enfim, a casa era dele, e ele deixou como herança para os seus gatos. E realmente os gatos são os donos da casa.
Tem um cemitério de gatos, com o nome de todos, desde os anos 1920 até hoje. E nos móveis, onde há fitas para as pessoas não tocarem, há gatos dormindo sem ligar para os turistas embasbacados. E, claro, há quadros, livros, móveis do escritor, etc. Para quem ama literatura e jornalismo, e, como eu, jornalismo literário, é algo inexplicável. Há uma piscina, que o guia turístico disse que na época Hemingway pagou oito mil dólares, um jardim gigante, e uma outra casa menor, mas também de dois pisos, onde no primeiro é a loja e no segundo está o templo de Hemingway: a peça com a máquina de escrever, a cadeira e a biblioteca do escritor. Genial!
Daria para ficar uma tarde inteira só lá, mas como haviam os outros lugares, eu fiquei mais ou menos uma hora. E então, partiu praia!

Trago de água salgada
A primeira praia que fui era ali perto. Mas, como eu pretendia ir costeando o litoral, busquei o carro e botei em South Beach. Lá o estacionamento é com parquímetro. Marquei para ficar lá até 5h45. Primeiro, fui na praia, onde tirei uma porrada de fotos, tomei banho e depois sentei em cima da bandeira do Grêmio. Fiquei ali um tempo, olhando a paisagem, vendo os pelicanos caçando no meio dos banhistas e o povo tendo aulas de canoagem. Dali, como o planejado, segui a pé. Primeiro parei em Dog Beach.
Como o nome diz, é a praia dos cachorros. Lá só há donos de cachorros no mar com os cachorros, ou os donos fora do mar atirando bolinhas para os cachorros. Mas é uma mini praia. Passando, cheguei em Higgs Beach, uma outra praia paradisíaca, onde há o Aids Memorial, que vai mar a dentro, onde as águas são transparentes, você pode ver peixinhos coloridos, e no chão há o nome de pessoas que morreram vítimas de Aids.
Não pesquisei a fundo, mas deduzo que é mais ou menos isso. Havia um grupo de adolescentes lá, e uma loira gordinha de short sumário escrevendo com giz na parede “Key West Hig School”.
Ah, e esqueci de contar, a primeira praia se chama Southernmost Beach, simplesmente porque é a praia mais ao sul de todos os Estados Unidos e fica somente a 90 milhas de Cuba (pouco mais de 100 quilômetros).
Havia uma fila de turistas para tirar fotos no marco do ponto mais ao sul do país, inclusive, um grupo de monges que, apesar do calor, estavam com aquela roupa grossa, tirando foto com Ipads, Iphones e afins.
Bom, dessas praias, eu queria ir para um parque, que, pelo mapa que peguei, tinha uma praia bonita. Outra dica: chegando na cidade pegue um mapa em um dos vários pontos com mapas grátis – ali estão indicadas as praias públicas, pontos turísticos, etc. É fundamental! E, como já disse, um carro também, pois você pode ir dum canto a outro quando bem entender, algo impossível a pé – e não há transporte público, só aqueles ônibus pequenos de turistas... e táxi cor de rosa.
Enfim, rapidinho, com a ajuda do GPS, eu e o Grey Shark estávamos no tal parque. 4 e 50 o ingresso, mas foda-se, vale a pena. É um parcão, com área para acampar, fazer comida, bastante árvores, espaço para pesca, andar de barco a vela, etc.
E muito lindo também. No final da tarde fica mais foda ainda, porque o sol bate contra o mar. E, óbvio, há a praia para banho. Vale muito a pena. Pra quem vai ficar mais de um dia, fica a dica. Mas, como o tempo era curto e já eram quase seis, eu me mandei para a última praia do trajeto, Smathers Beach. Era final de tarde e o céu estava colorido. A praia praticamente deserta. Havia um casal, com a mulher vestida de noiva, e um cara tocando violino... Casaram ali, na beira da praia... Tirei muitas fotos.
Mais adiante, um cara que parecia um Bob Marley comandava uma aula de batucada. Cena sinistra. Melhor que filme. Paisagem mais linda do que qualquer foto. Me senti vivo. Me senti foda. Me senti, porra, não tem como descrever. Caralho, eu, um zé ninguém, que nasceu em Santo Ângelo, viveu a vida no interior do Rio Grande do Sul, que não estudou nos melhores colégios, repetiu o primeiro ano do Ensino Médio, pegou recuperação em praticamente todas as disciplinas a partir da quarta série e que fez faculdade numa universidade pequena, e que só estudou (e estuda na PUC) com bolsa, que se fudeu em tudo que é tipo de emprego dessa vida (mensageiro, panfleteiro, babá de cães, jornalista em jornal e rádio com chefes malucos), etc, estava ali, porra, vendo aquela paisagem toda, no fim de uma tarde sensacional....
Mas, enfim, como tudo acaba, o dia também terminou e, nessa hora, quando entrei no carro para voltar a Miami, senti o cansaço... Porém, às três horas e meia de volta foram divididas entre o cansaço e a satisfação. No fim, valeu – e muito! – a pena...
Caralho, se você chegou ao fim desse texto, então parabéns, você é um herói. Mas a satisfação é tanta, que tive que despejar tudo aqui...
Bueno, amanhã volto para a neve, New York City, aonde, ao que descobri a pouco, deve nevar no sábado. E depois... bom, depois só Deus sabe...
Hasta!

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