Rito de acasalamento
Pois bem, e aqui estamos nós, fazendo metaforicamente o mesmo ritual no século XXI, independente de nacionalidade, cor ou classe social. A cena que vou narrar agora é comum na raça humana, e aposto que todos os leitores já estão carecas de ver. No entanto, a forma como tudo aconteceu foi tão clara e direta que, mesmo sabendo que “os animal tem uns bicho interessante” – como cantaram os Mamonas Assassinas -, fiquei embasbacado. Enfim, vamos à cena, sem julgamentos, conforme nos ensinaram os papas do jornalismo objetivo.
Saio do shopping Dolphin Mall, em Miami, Flórida, Estados Unidos. Estou caminhando pela calçada. Uma loira vistosa caminha poucos metros a minha frente. Veste calças brancas justas, blusa verde e tem cabelos dourados que vão até a cintura, que balançam no mesmo ritmo de suas ancas e nádegas, de um lado para o outro. Poucos carros passam pelo local, pois há faixas de segurança, quebra-molas, etc, afinal, é o pátio do shopping. Um cara comum, que não chega a ser um galã de novela da Globo, passa em um conversível branco. Cena normal em Miami, pois aqui parece que todo mundo tem conversível, afinal, é verão o ano inteiro (em fevereiro, inverno nos Estados Unidos, a média é de 25ºC). Ela, que está na fase de acasalamento, em meio a outros carros e outros motoristas, escolhe esse. Pede para ele parar para tirar uma foto. Ele fica todo animado. Ela tira a foto com o motorista e o carro. Conversam alguma coisa que não posso ouvir, e o carro segue adiante. O motorista de trás, em um BMW conversível, assistiu toda a cena. Ele vai dirigindo vagarosamente ao lado da loira, roncando o motor forte, como se fosse um lobo uivando para a loba no cio. Ela atende ao chamado, afinal, ele é o principal macho em potencial ao redor, e, na competição por atrair à fêmea, o carro equivale ao canto do passarinho ou a dança do macaco (pelo menos nessa cena, não estou dizendo que é sempre assim na raça humana – às vezes é o melhor carro, noutras o melhor dançarino, o melhor conversador, o mais bonito, o mais rico, o mais isso, o mais aquilo).
Bom, voltando à cena do carro em Miami, após essa breve competição pela fêmea, ela escolhe o seu macho. Tira uma foto e depois entra no conversível, onde vão fazer o restante do ritual de acasalamento, que no caso do ser humano, não tem como objetivo final a reprodução. Porém, assim como no caso dos animais, depois que o macho cobrir a fêmea, ele vai se retirar e guardar as suas habilidades de conquista para a próxima no cio... Afinal, como os outros bichos dessa imensa floresta, somos todos animais, não? E eu?
Eu também. Mas de momento, só observo.
Um bom resto de semana a todos.
*Texto a ser publicado no JMissões.
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