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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O meu 11 de setembro em New York

Antes de mais nada, como era de se esperar, começaram as aulas e, portanto, sumi do blog, do Facebook, enfim, da internet. Nem lembrava da minha última postagem, então, me dei conta de que essa é a minha primeira postagem desde que começaram as aulas de inglês.
Vou tentar falar um pouco de cada coisa. Primeiro, pela aula de inglês, que começou segunda-feira. São aulas de segunda à sexta, das dez da manhã à uma da tarde até metade de novembro. São oito níveis, fiz uma prova, uma entrevista e entrei no nível cinco. Ou seja, depois que terminar, se eu tiver disposição e grana, posso continuar. Ainda não sei o que vou fazer, mas por ser todas as manhãs, talvez eu espere um pouco para fazer o estágio seis. Enfim, curso de inglês em país de língua inglesa, imagino eu, é tudo parecido. São aproximadamente 20 na minha turma, mas é fluxo contínuo. Você vê todo o livro em dez semanas, então, você pode entrar no capítulo cinco e faz a volta até terminar no quatro (entendeu?). Pra mim foi fácil de se adaptar a esse método, pois é assim que trabalha a Topway de Pelotas, onde estudei um ano antes de vir. E é exatamente aquilo que falavam na Topway (depois cobro pela propaganda, ok?): como são pessoas de todos os lugares do mundo, só se fala inglês, o tempo inteiro. O professor é o clone (sem exageros!) do Moacyr Scliar. Prometo que, antes do fim do curso, dou um jeito de tirar uma foto dele comprovando minha tese. Ele é bem humorado e dinâmico, como tem que ser um professor que segura três horas de aula.
A turma é muito boa também, tem figuras inimagináveis de todos os cantos do mundo: Venezuela, China, Arábia Saudita, Japão, Itália, Burquina Faso, México, Colômbia, República Dominicana, etc. Fico pensando no conhecimento que o professor deve ter, pois cada um conta um pouco da história e da cultura do seu país, então, tantos anos dando aula, ele sabe muita coisa. Ah, e claro, tem três paulistas também, mas evitamos ao máximo conversar em português antes da aula ou no intervalo (só no primeiro dia, em que estava meio perdido, conversamos um pouco em português).
Bom, mas fora isso, o que eu queria escrever mesmo aqui hoje é sobre o 11 de setembro que passei em Nova York. Eu ia escrever um texto original aqui, mas como acabei de escrever um texto para o site do jornal Meu Bairro, e não tenho muito a acrescentar em relação ao que escrevi lá, vou postar o mesmo texto... Afinal, sou da teoria do Juremir Machado da Silva (um dos responsáveis por eu estar aqui) de que o conhecimento é pra circular mesmo (Ok, não sei se esse tipo de texto que posto aqui dá pra se chamar de "conhecimento". Mas enfim, as minhas bobagens também são jogadas aqui para, quem sabe, ter algum tipo de circulação. Não sei se é muita aula que estou tendo, ou se é porque até aqui estou sendo o aluninho exemplar, que vai a todas as aulas, cumpre todos os horários, e tal, mas o fato é que parece que não estou conseguindo dar uma "fluência bukowskiana" ou um tom "gonzo" para qualquer coisa que escrevo... Aliás, como disse aqui, por enquanto estou apenas despejando narrativas completamente pessoais para, depois, quem sabe, escrever algo mais reflexivo, mais "caliente" e, maybe, novelístico ou ficcional... (pois pontos de inspiração aqui é o que não falta).
Enfim, eis meu 11 de setembro em New York City:


Obviamente que para quem vai passar um ano em Nova York, como eu, há uma expectativa grande em relação ao 11 de setembro. E ele chegou, passou, e nada aconteceu além das tradicionais homenagens, referências, coberturas jornalísticas, etc. Na verdade, como já comentei aqui, agora que começaram as aulas o meu ritmo mudou 100% e, como alguém que está inserido numa rotina aqui, se não fosse correr atrás das memórias relacionadas ao atentando poderia até ter nem lembrado da data. Explico-me.
Somente na terça-feira, quando fui checar na minha agenda o que teria para fazer no outro dia, é que fui me dar conta que já era 11 de setembro. Fiquei curioso, pois tinha aula na terça de noite no doutorado e, na quarta de manhã, dia 11 de setembro, de inglês. Esperava que as pessoas falassem sobre o que aconteceu 12 anos atrás. Mas nada. Terça de noite, passou batido. Nenhuma referência em nenhum momento da aula, nem nas conversas dos corredores. Na aula de inglês, no intervalo, conversei com uma mulher da República Dominicana, que mora em Nova York há 25 anos, mas se eu não tivesse tocado no assunto, também passaria batido. Saí da aula e fui resolver algumas questões particulares nos bancos e poderia ter ido para casa, ter encerrado o dia sem ver ou ouvir nenhuma referência sobre o 11 de setembro. Mas, como essa provavelmente era a minha única oportunidade de passar um 11 de setembro em Nova York, peguei o metrô e fui conferir o que estava acontecendo ao redor do antigo local das torres (onde hoje tem o memorial e onde estão construindo as novas torres). Já tinha ido lá outra vez e, confesso admirado, que no outro dia tinha muito mais gente do que no próprio aniversário do ataque. Sei lá, talvez as pessoas fiquem ressabiadas ou com medo de ir lá na data temendo novos ataques... Mas em nenhum momento senti clima de medo, expectativa ou algo assim no ar.
A não ser dentro da Trinity Church, onde havia pessoas rezando, possivelmente algumas que participaram mais proximamente da tragédia ou parentes e amigos das vítimas. A referência mais forte ao atentado era possível sentir no local onde fica o corpo de Bombeiros mais próximo do WTC, que é justamente de onde partiram os primeiros socorros às vítimas. Lá haviam várias homenagens aos bombeiros que trabalharam na tragédia e aos colegas mortos. Já o Memorial do 11 de setembro (o lugar exato onde estavam as torres) passou o dia inteiro fechado.
Obviamente, havia polícia por toda a parte e um helicóptero dando voltas ao redor da nova torre. Ah, e claro, todos os canais de notícias de Nova York estavam ali, com intervenções ao vivo a todo o momento.
Na TV, olhando de noite, esse era um assunto muito abordado, em boletins, reportagens e entrevistas. E vai ser assim pra sempre, todo o 11 de setembro, de todos os anos. E, claro, em toda a região onde estava o antigo WTC há prédios em obra, alguns sendo construídos novamente e outros ainda sendo reformados (na foto, a construção do novo World Trade Center).
Às vezes a impressão é que o negócio aconteceu ano passado.
Na volta pra casa, passei pelo Grand Central, a principal estação do metrô nova-iorquino, que fica na rua 42, e liga Manhattan aos outros bairros e também a outras cidades, e lembrei das ameaças feitas por terroristas contemporâneos de atacar as estações de metrô das principais cidades do mundo (a coisa mais certa é que se atacassem novamente Nova York o Grand Central possivelmente seria o palco da tragédia). Dentro dos trens, há cartazes dizendo para você não acreditar que alguma mochila possa ser esquecida acidentalmente e, no alto falante, também alertam para que, se você ver algo suspeito, ligar para a polícia. Mas a cara de quem está no trem não se altera, pois é assim todos os dias, então, na verdade ninguém espera um novo ataque (talvez, acho que a preocupação possa aumentar no dia em que os Republicanos voltarem ao poder e resolverem sair por aí atacando todo mundo...). Isso faz sentido, pois não adianta se preocupar, você tem que ir de um lugar para o outro, então, você precisa pegar o metrô, com ou sem ameaça de atentado... Ou você faz isso, ou não trabalha, não estuda e não faz mais nada (e corre o risco de morrer de ataque cardíaco deitado na sua cama). Então, as pessoas simplesmente seguem em frente.
Bom, finalizando o meu 11 de setembro em Nova York, na volta pra casa aconteceu algo totalmente inesperado. Encontrei um cara com o símbolo do jornalismo gonzo tatuado na parte de trás do pescoço. Primeiro, tirei uma foto, sem ele ver. Depois, não resisti, e fui conversar com o cara. Perguntei se ele era de Nova York e ele, meio assustado, respondeu: "Yes, what's going on??". Então me apresentei e expliquei sinteticamente a minha pesquisa. Peguei o contato do cara e ele me deu várias dicas. Agora, é só correr atrás, afinal, esse foi apenas o primeiro mês. Ainda faltam 11! Aguarde-me!

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