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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Viva o CD DVD do centrão!


Estava vendo uma matéria no jornal do SBT há pouco, que me deixou indignado. Apreenderam milhares de mercadorias falsas em várias capitais do país, entre elas, Porto Alegre. Acredito que muitas pessoas acham isso bem bom, e algumas até devem resmungar: “porque essa gente não arruma um emprego descente?”. Olha (suspiro), é complicado. No ano passado eu fui para Porto Alegre, com meu diploma de jornalista debaixo do braço, experiência com carteira assinada, experiência em estágio, prêmio acadêmico de âmbito nacional e por ai afora, e o que consegui? Um estágio não remunerado (que já disse que profissionalmente foi uma ótima experiência) e um emprego remunerado como panfletero. “Ó o empréstimo ai senhô! Um empréstimozinho aê sinhóra! Dinheiro na hora é aqui ó, sem demora!”. Esse era eu me esgoelando no centro de Porto Alegre, no lado dos “CD DVD! CD DVD!” e dos “compro ouro, compro ouro!”.
Como já falei em outro texto, era como se todo mundo se ajudasse ali no centrão, afinal, estávamos todos na mesma. Ou quase na mesma. Eu tinha um diploma, mas que não me garantia nada. Os outros não tinham nada, nem a possibilidade de recuperar o estudo perdido e deixado para trás. Já os mais novos não têm incentivo nenhum para o estudo. Um país que aposta no Bolsa Família e em outros tipos de doações para a comunidade e que não aposta em educação não pode ir muito longe (eu sou um exemplo disso, estou cozinhando meu fígado em uma frigideira sem usar óleo – porque não sobra dinheiro - para tentar fazer um mestrado, quando na verdade deveriam incentivar eu e outras pessoas a seguirem sempre estudando para, juntos, desenvolvermos essa porra toda que chamam Brasil).
Agora, imaginem essas milhares de pessoas que trabalham no mercado informal de Porto Alegre vendendo produtos piratas (camisetas, mochilas, cds, dvds e tudo mais) sem esse emprego. Coloque-se na situação de uma dessas pessoas. Sem qualificação nenhuma, elas vão procurar emprego aonde? Essa infelizmente ainda é a única forma de manter essas pessoas fora do crime armado. E digo isso porque eu estive lá no meio. Eu acordava às cinco horas da manhã de inverno para chegar no trampo às seis e meia para começar o berredo que ecoa todos os dias na capital do Rio Grande. E sei que têm alguns que além desse emprego também trabalham no crime armado, no tráfico e tudo mais, mas muitos não. Como já falei e não cansarei de repetir, você tem lá pai de família ralando para levar um pão para o filho pequeno em casa, você tem lá gurizada trabalhando o dia inteiro e acreditando nos estudos, mesmo sem incentivo NENHUM do governo para o estudo, você tem lá gente trabalhando e vendendo drogas ao mesmo tempo, você tem lá gente que está trabalhando nisso, mas que em outro momento pode pegar uma arma e te assaltar, ou seja, você tem DE TUDO no meio desse mercado todo. Agora, se você deixar umas três, quatro, até cinco mil pessoas sem emprego do dia para a noite, aonde eles vão trabalhar??? Que empresa vai dar emprego para essa gente???? As prefeituras vão abrir vagas para novos funcionários públicos?? Vão trazer mais empresas para o Estado??? Alguém me responda, pelamordeDiós! É foda. É muito foda. Ou, como diria o Zé Simão, se fosse foda ainda era bom. Mas é foda no pior sentido da palavra.
Agora, nova pergunta: em um país como o Brasil, onde não se incentiva em nada a educação, onde você se quebra estudando, e tem que pagar para estudar, onde você não recebe uma passagem de ônibus para se deslocar de onde você mora para a faculdade, onde os professores são desvalorizados, onde quem está lá embaixo não tem nenhum estímulo para continuar a estudar, já que o vizinho estudou e não deu em nada, como um país desses vai se dar ao luxo de se preocupar com direitos autorais?? Como??
Eu não entendo. Queria entender, mas não entendo. Ainda mais se você vê dinheiro público sendo usado para pagar salários astronômicos de alguns políticos, dinheiro sendo jogado fora como se estivesse escorrendo para o esgoto para pagar salários de altos cargos do Exército (enquanto o pobre do soldadinho rala pra ganhar uma merreca – e ao invés de pegarem gente que precisa disso pegam playboys só para sacanear), enfim, dinheiro, dinheiro, dinheiro, que parece que querem canalizar para ele andar em uma direção única, sempre voltando para a mão de quem já tem a porra do dinheiro.
Mas apesar de TUDO isso, certas atitudes de algumas pessoas que ainda lutam para mudar isso me fazem crer que dá para mudar um pouquinho dessa merda toda. E como me disse certa vez um jogador de futebol: “o que parece pouquinho pra gente é muito para outros”.
Eu ia encerrar o texto com essa frase, mas eis que, fuçando no nariz com o dedo indicador tive uma brilhante idéia para amenizar o problema de todos os camelôs que estão querendo exterminar do centro de Porto Alegre: distribuam essas duas, três, quatro mil pessoas na casa dos artistas, dos donos das gravadoras, dos políticos, dos policiais, dos sargentos do exército (não sei porque cargas da água escrevi exército com E maiúsculo lá em cima, mas enfim...), dos moralistas e de toda essa corja que larápios que acreditam que podem desenvolver um país sem investir em educação. Façam me o favor! Às vezes eu penso que querem me deixar louco. Só pode... só pode...

3 Comentários:

  • Concordo plenamente com vc!!Esse país é uma palhaçada!!Há muito tempo perdi as esperanças...Parabéns!Adorei seu texto!

    Por Blogger Gláucia Flores, às 18 de julho de 2008 às 13:39  

  • duduuuuu lendo o teu texto concordo com mtas coisas e discordo de outras... tb acho um absurdo prenderem as mercadorias destas pessoas enfim... mas de outro não é radicalismo dizer q o país não investe nada em educação... o Brasil eh um dos países q mais investe em pesquisas... o problema vem da educação fundamental para chegar ateh aí... eu não to fazendo mestrado a custas do governo? todo mundo ganha bolsa aki.. depois investir no bolsa família não é mal... mas isso eh outra discussão... sim tem que se investir mais educação,mas enfim... discuto contigo em casa hehehe

    Por Blogger Carolina, às 19 de julho de 2008 às 12:26  

  • pow, mor vacilo isso mes... Aqui no Rio tb é comum toda hora ter rapa em cima dos cameleiros.

    o q eu já vi d nego grande chorando...

    Por Blogger BrnLng, às 25 de julho de 2008 às 13:10  

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