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sexta-feira, 4 de março de 2011

Ácido gremista


No meio da pressa de uma sexta-feira punk, achei um tempinho para viajar na maionese e escrever o seguinte texto, sobre o jogo de ontem:

Quando começou o jogo na noite de quinta-feira no estádio Olimpico, Leopoldo abria uma latinha de cerveja. A bola rolou e quando o León começou a envolver o Grêmio, Leopoldo, ou simplesmente Léo, como era chamado pelos amigos, passou a beber mais rápido. A angústia começava a tomar conta da sua cabeça. A cada passe errado, três goles grandes de cerveja iam goela abaixo. Quando, antes dos cinco minutos do primeiro tempo, de fora da área, Vigil arriscou ao gol de Victor, Léo já estava semi-bêbado e, quando Orejuela ficou cara a cara com Victor na área, tentou driblar o goleiro, mas demorou para concluir e, Léo já estava podre de bêbado. Foi um trago recorde. Em toda a sua vida, Léo nunca tinha ficado bêbado tão rapidamente na vida.
O Grêmio não conseguia chegar e Léo bebida. Quando ele achou que a bebida já não estava mais fazendo efeito, ele lembrou que tinha um pote de ácido que ganhara do seu bisavô, um velho beat da geração de 1950, que viveu o auge da última grande revolução cultural em pleno solo norte-americano. Nervoso e bêbado, Léo passou a revirar a casa a procura do ácido. Enquanto isso, ele ouvia pela TV o sofrimento tricolor para vencer um time que, até a manhã de quinta-feira, ele sequer havia conseguido decorar o nome. Aquilo era enlouquecedor. Léo precisava do ácido, ou não suportaria tanta ruindade diante de seus olhos. E, quando ele achou o tesouro que ganhara do bisavô, no Olímpico, Douglas levantou a bola na área em cobrança de falta e André Lima subiu para acertar uma cabeçada: 1 a 0.
Léo resolveu respirar. Ficou olhando para o pote de ácido, enquanto lembrava, como se fosse hoje, a tarde em que ganhou do bisavô o presente. O velho, que mal conseguia falar, murmurou, com voz rouca, o seguinte conselho: “Essa aqui é minha relíquia. Ganhei-a de um grande amigo meu, o mestre Kerouac. Agora você ainda é pequeno, mas você ainda vai ouvir esse nome. Quero que você use isso em algum momento de desespero, de muito sofrimento...” e, ao concluir o conselho, o velho apagou, agonizando.
O time de Léo estava ganhando, portanto, ele julgou não ser esse o momento certo para beber o ácido. Entretanto, veio o segundo tempo. E, mesmo ganhando, quanto mais o tempo passava, mais ele se desesperava com a ruindade de seu time. Nem mesmo o pênalti inventado aos nove minutos, e a bela cobrança de Borges amenizou os ânimos de Léo. Quando o jogo estava aos 40 minutos ele decidiu: usaria o ácido. Léo abriu o pote e tomou tudo de um gole só. E, na manhã ensolarada de sexta-feira, ele leu nos jornais o resultado do jogo: 2 a 0. Sem lembrar de nada que tinha visto na noite anterior, ele ficou satisfeito, afinal, seu Grêmio havia ganho o jogo e conquistado os três pontos. A vida voltava a ser bela.

Texto publicado no Jornal das Missões deste sábado.

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