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quinta-feira, 24 de março de 2011

DEM e outras falcatruas

Analisando alguns acontecimentos políticos, fico pensando como o Brasil seria diferente se a população se interessasse por política 30% do que se interessa por futebol. A maioria dos torcedores da dupla Gre-Nal sabe de cabo a rabo a escalação de Grêmio e Inter, a história dos dois, de onde vieram seus treinadores, seus jogadores e, alguns um pouco mais fanáticos, sabem até do passado de seus dirigentes. Entretanto, no campo político, isso não ocorre.
Estou lendo Notícias do Planalto, de Mario Sérgio Conti, que detalha minuciosamente todo o trajeto de Fernando Collor de Mello, da campanha ao impeachment, em quase 700 páginas. Já li aproximadamente 400 e, concluo antecipadamente, que esse é um livro que deveria ser lido por todos os brasileiros. Poderia se considerar uma espécie de bíblia da política brasileira. Entretanto, lendo tal obra, e descobrindo milhares de falcatruas que, apesar do impeachment de Collor, eu nem imaginava que tivessem acontecido, lembrei-me de outros acontecimentos históricos esquecidos pelos brasileiros. Um deles diz respeito aos Democratas, mais conhecido como DEM, fundado em 2007.
Mas vamos esmiuçar um pouco essa história. O problema desses partidos (re) fundados recentemente é que, para limpar o nome sujo de falcatruas do passado, muda-se o nome da sigla, afinal, sabe-se que o pobre eleitor está mais preocupado com o resultado do jogo entre Inter e Mazembe e nem perceberá tal manobra política. Então, muda-se o nome, ganha-se espaço na mídia e, aí, tenta-se criar a imagem do novo partido bonzinho que veio para combater os velhos corruptos da política brasileira e por aí vai. Sei, nobre leitor, isso tudo deve dar embrulho no seu estômago, mas aguente.
Peguemos, aleatoriamente, o caso do DEM. O primeiro nome que o DEM teve foi Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Isso mesmo, astuto leitor, aquele velho partido da ditadura militar. Veja um trecho do que diz o programa do partido, escrito em 1975: "Expressão política da Revolução de Março de 1964, que uniu os brasileiros em geral, contra a ameaça do caos econômico, da corrupção administrativa e da ação radical das minorias ativistas, a ARENA é uma aliança de nosso povo, uma coligação de correntes de opinião, uma aliança nacional". Traduzindo: esse partido defendia a tortura para quem pensasse diferentemente dos militares, a ditadura, a censura à imprensa, a não liberdade de expressão, o pensamento uniforme. Pensamento uniforme no mesmo sentido político adotado pelos ditadores mais cruéis, como Mussolini e Hitler, mas com outros fins. Entretanto, quando a ditadura caiu por terra, fez-se o que se faz até hoje: mudou-se o nome do troço todo. E, assim, o ARENA virou PDS, que depois virou PFL, que, por sua vez, virou DEM em 2007. Tivemos recentemente o mensalão do DEM, que resultou, entre outras coisas, na expulsão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do partido. Aliás, primeiro se faz isso: expulsa aqueles corruptos desatentos que caem nas redes da mídia e, não resolvendo o problema, muda-se o nome da sigla.
Agora, assim como fico me perguntando quem ganhará o Gre-Nal da Libertadores, também me pergunto: qual será o próximo nome do atual DEM? OFD (Os Filhos da Ditadura)? PUB (Pensamento Único Brasileiro)? ADB (Abaixo a Democracia no Brasil)? Enfim, só o tempo dirá. Assim como só o tempo dirá quem se consagrará no Gre-Nal da Libertadores...
*Texto publicado no Jornal da Manhã do próximo sábado.

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