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domingo, 12 de novembro de 2017

Uma aventura sem sair de casa

A festa de 7 anos da minha filha foi uma aventura. Pelo menos para mim. Primeiro, teve toda a pressão psicológica. Ela faz aniversário em novembro mas começa a perguntar se vai demorar muito para a festa desde fevereiro. Isso te coloca na obrigação de organizar uma festa que, no mínimo, não seja um desastre. Quanto mais o tempo passa, aumenta o questionamento: “quanto tempo falta? 3 meses? Isso é muito, pai? Vai demorar? Ah, não... isso é muito!”. Então, chega o dia. No caso, ontem. Levantei relativamente cedo para tirar a Bolinha (a cadelinha dela) que estava acampada na garagem devido ao tempo chuvoso da semana anterior. Aliás, tenho muito a agradecer ao São Pedro por ter colaborado, pois não seria fácil manter 15 crias cheias de energia dentro de casa durante um dia inteiro. Depois de ajeitar a garagem, enquanto a mãe cuidava da comida, meus pais, meu irmão, minha irmã e eu íamos arrastando cadeiras e mesas para seus respectivos lugares. Para ganhar tempo, fui pegar um frango assado com meu pai no mercado para o almoço, pois ninguém teria tempo para cozinhar. Mesmo tendo chegado o dia da festa, as perguntas continuavam?
- Quanto tempo falta, pai?
Eu olhava no relógio e respondia:
- Cinco horas.
- Ah, não! Isso é muito! – e cruzava os braços e fazia beiço.
- E agora, falta muito?
- Duas horas.
- Ah, não! Tudo isso?? É muito!!!
Até que chegou o primeiro convidado. E depois outro. E mais outro e mais outro em ais outro. Quando vi a casa havia sido invadida por crianças de seis e sete anos que corriam rápido demais para que um adulto pudesse acompanhar os seus movimentos. E não ficavam todas juntas. Umas corriam pela sala, outras iam atrás das cadelas, outra apareceu carregando o controle remoto da TV para o pátio, enquanto outro grupo altamente organizado invadia os quartos e os banheiros. Numa dessas, chaveei nosso quarto para não entrarem. Meia hora depois, minha irmã chegou perguntando sobre a chave do quarto, pois eu, sem querer, havia trancado a Laura, irmã mais velha da Larissa, de 16 anos. Nisso, chegam os nossos convidados, adultos, e logo percebo que não vou conseguir ficar sentado para conversar com eles. Lá pelas tantas, a Laura inventa de entrar na piscina. Imediatamente se forma um círculo com as 15 crias ao redor da água batendo com os espaguetes na água tentando acertá-la. Dizer, pedir ou berrar para que se afastassem, pois senão alguém iria cair, era algo inútil. A única alternativa, depois de ver que eles jamais me obedeceriam, foi esperar que o primeiro caísse. Não levou muito para isso acontecer.
Um gurizinho caiu de roupa e tudo para dentro d’água. Detalhe: a piscina inteira é funda. Enquanto eu fotografava, a Laura fazia o resgate e as outras 14 crias que estavam ao redor desataram a rir do pequeno infeliz. Depois, foi duro convencê-lo a usar uma roupa da Larissa. A solução foi emprestar o uniforme, que é unissex. “Mas eu não vou colocar calcinha da Larissa! Nem morto”, dizia ele. “Fica só de calção”, respondi. Enquanto eu abria o porteiro para um pai, a patroa pedia algum favor e a minha irmã vinha avisar que alguma cria fez alguma arte. Nesse meio tempo, chegou um cara para da Corsan para verificar a falta de água que ocorria desde a uma da tarde. Ele examinou tudo e disse que o problema era na casa. Então, veio um senhorzinho ver o que podia fazer e, sinceramente, ele ficou solto no telhado da casa, pois eu não conseguia cuidar do velhinho lá em cima e das crianças aqui embaixo ao mesmo tempo. Sinceramente, fiquei zonzo. E a cerveja que eu bebia me deixava mais confuso.
- Tio, me da um refri?
- Pai da Lari, guarda esse balão pra mim.
- Tio, que horas a Lari vai abrir os presentes?
- Pai da Lari, não da pra abrir os presentes agora?
- Tio, a gente quer ver os presentes da Lari!
Até que dei o braço a torcer e deixei ela abrir os presentes. As crias brigavam entre elas para que a Lari abrisse primeiro o que cada uma tinha dado.
- Abre o meu! O meu! O meu! O meu é melhor! Olha Lari, é aquilo que tu queria!
Falavam todos ao mesmo tempo. Um ou outro passava correndo, fazendo barulho de tiro PUM! PUM! PUM!
Outros seguiam ao redor da piscina. Outros, corriam atrás das cadelas. Uma guriazinha passou carregando a gaiola do hamster e depois voltou sem nada nas mãos. Outras crias pegaram um joguinho de tabuleiro e passaram a jogar no meio da calçada e, pouco depois, abandonaram-no lá mesmo. Enquanto eu juntava, um guri martelava um parafuso numa porta. “NÃOOOOO!”, berrei. Depois, outro passou correndo segurando uma pedra relativamente grande, querendo atirar em alguém. “NÃOOOOOOOO!” gritei de novo, e tomei a pedra da mão dele. Uma guriazinha estava ao redor da piscina, e minha irmã disse:
- Sai dai.
- Eu não.
- Se alguém cair, eu não vou juntar – disse minha irmã.
- Azar o teu, vocês que são os responsáveis – disse a cria.
Depois meu irmão foi mexer com outro gurizinho, dizendo que iria atirar ele na piscina, ao que ele respondeu:
- Não, isso não se faz. Não se pode jogar crianças na piscina.
Quando me dei por conta, estava brincando de bangue-bangue com outros. PA! PA! PA! PUM! TOMA ESSA, eu gritava, enquanto eles retrucavam: ENTÃO SEGURA ESSA BOMBA ATÔMICA!
Aos poucos, os pais começaram a chegar e as crias foram deixando a casa. Eu não achava o controle da TV. Fiquei duas horas procurando até que a Lari achou o troço erguido numa estante. Lembrei que, no meio da confusão, eu o escondi lá. Escondi das crias e de mim mesmo. A noite veio e a Lari queria brincar com todos os brinquedos. Fui dormir depois da meia noite. Exausto. Agora, terei um ano de descanso até a próxima aventura...

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