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domingo, 22 de outubro de 2017

O insaciável desejo do inalcançável

A felicidade plena é inalcançável. Sempre queremos o que não temos. O marido e a esposa perfeita moram ao lado. Não precisa ser o famosíssimo Lacan nem o renomado professor de Comunicação e romancista Felipe Pena para nos darmos conta facilmente desses fatos. Aliás, estou terminando de ler “O marido perfeito mora ao lado”, de Pena. Um bom livro. A minha única crítica é que, apesar do título ser um dos mais criativos que já vi, não tem nada a ver com a história. Ou melhor, tem um pouco a ver. Mas não muito. Entertanto, não é sobre isso que quero falar. É sobre aquilo que temos (ou não temos) e que queremos ter.
Sempre sonhamos com algo que queremos muito: o brinquedo novo, a nota 10 na disciplina tal, o diploma, o emprego perfeito, o alto salário, a namorada/namorado perfeito/a, o carro do ano, a casa na praia, a viagem para Paris, Londres ou Nova York, a Smart TV de última geração, o videogame perfeito, o celular recém lançado... Enfim, você pode dizer que essa é a premissa lacaniana do desejo, mas foda-se Lacan, deixa eu teorizar a porra toda um pouco também... Já li um pouco de Lacan e do meu brother Felipe Pena, mas também tenho direito a ser metido a teórico das coisas sem pé nem cabeça que regem a humanidade...
Então, meu foco aqui é falar sobre aquilo que queremos e não temos (ou temos, mas depois que temos, queremos mais ou outras coisas) nos relacionamentos (de uma noite ou uma vida) e no futebol. Vejam bem, meu bem, assim como adaptando a teoria lacaniana para a contemporaneidade podemos dizer que, assim que nos mudamos para uma casa ou apartamento maior e melhor já começamos a sonhar com um ainda melhor, assim como quando trocamos de carro, depois de um tempo, começamos a almejar um carro mais novo, mais moderno e melhor, também podemos (e geralmente é o que é feito) desejar novamente o que não temos no que diz respeito a relacionamentos e ao esporte (ou que já tivemos e não temos mais). Confuso, não? Também reli essa última frase umas cinco vezes e não consegui pensar em algo melhor. Foda-se, quando estiver são eu releio e, se tiver paciência, posso mudar (o que acho que não será o caso). Então, comecemos pelo futebol. O time do sujeito ganha o estadual. O torcedor almeja agora o nacional. Ganha o nacional. Comemora, mas em pouco temo, sonha com a Libertadores. Depois o mundial. Pode até ganhar, como Grêmio, São Paulo, Inter, Corinthians.. mas, assim que volta a não ganhar, ele esquece a festa que foi feita por ter ganho um dia e quer ser campeão de novo. Ele não se contenta em apenas lembrar como foi bom ter sido O CAMPEÃO dez anos atrás. Ele quer mais. Ele quer pelo menos uma copinha do Brasil ou um brasileiro. Porque sempre queremos mais. Nos relacionamentos é mais ou menos o mesmo.
Lutamos pra conquistar alguém, fazemos mágica, abrimos nosso coração e, não por falta de sinceridade ou de pureza do sentimento, mas quando conquistamos, depois de um tempo, queremos conquistar de novo. E esse de novo ou será outra pessoa ou, então, perdemos a pessoa que conquistamos e, ao perde-la, passamos a deseja-la novamente. Esse é o clássico do sujeito ou sujeita que errou, perdeu o ou a amada e, só então, passa a correr atrás dela/dele. Poderia ser feito um puta artigo relacionando a teoria de Lacan com Californication, que é todo regido a partir do fato de que a sujeita cansa das putarias de Hank Moody e, depois que ele a perde, ele dá a vida para ganha-la de volta. Mas, se ele a ganhasse de volta (não sei se ganha, estou vendo a última temporada) provavelmente ele buscaria outras novamente, pois não conseguimos nos acomodar. Temos que sempre querer mais. Claro, as energias podem ser voltadas para N coisas: de repente alguém que tomou no cu até não poder mais resolve mudar o foco e gastar todas as suas energias a ajudar quem precisa, a fazer trabalho social e voluntário, ou pode concentrar toda a sua ambição no jogo (como torcedor ou apostador). E a vida tem que ser assim. O músico que lança um álbum que estoura pra caralho vai sempre querer que o próximo seja o melhor da história. O jogador que ganha o título de melhor do mundo, vai querer ganhar esse título todos os anos, mas a cada ano vai querer que aquele seja o melhor de todos. O escritor famoso (se é que isso ainda existe) que lança um livro que se torna best-seller e é ovacionado pela crítica vai querer lançar um ainda melhor na sequência. E, numa escala cotidiana, fazemos isso a todo tempo: queremos que o próximo amor seja O AMOR da nossa vida. Que aquela festa seja A FESTA inesquecível. Que aquela viagem seja uma PUTA VIAGEM. Que aquele emprego seja O MELHOR DE TODOS e que nunca mais vamos querer trocá-lo por outro. E assim vai...
E como lidar com tudo isso? Vá saber... Se eu soubesse, postaria a solução pra essa porra toda... Acho que ter consciência de toda essa nossa necessidade é um primeiro passo para algo... Enfim, para algo que eu também não sei o que é, mas que um dia, quem sabe, saberemos... Hasta!

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