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sábado, 7 de outubro de 2017

O ladrão de grama

Durante os 12 meses em que fiquei nos Estados Unidos, foram inúmeras as paisagens que vi e que me tiraram o fôlego. Em Nova York, teve a ponte do Brooklyn, a vista de cima do Empire State e do Rockfeler Center, o Central Park, os passeios de barco pelo rio Hudson vendo a ilha de Manhattan de longe, a Estátua da Liberdade, o World Trade Center One, as luzes da Time Square, a neve, etc. Em Chicago, os pubs frequentados por Al Capote, o Cloud Gate, o Navy Pier, o Lago Michigan. Na Califórnia e em Miami, nem se fala: Key West, Florida Keys, Hollywood Beach, Santa Monica, Ocean Beach, Malibu, Miami Beach, San Diego e muito mais. Sem contar com o urbanismo turístico de Las Vegas e o clima mix de cidade grande com tranquilidade bagunçada de Denver, Louisville ou Pittsburgh. Teve as montanhas de Aspen. Teve toda a estrada de ida e volta de costa a costa, de Nova York até San Diego de busão e de San Diego até Nova York de carro. Teve a chegada no JFK de avião, baixando por meio de arranha céus cinematográficos, teve a visita a Hemingway House e o por do sol em Fort Zachary Taylor Park, um parque ao lado da US Naval Reservation, em Key West. Teve alguns tragos homéricos em Pacific Beach, San Diego, com umas parcerias do caralho, que nunca vou me esquecer e que espero reencontrar. Enfim, teve de tudo um pouco, e curti intensamente pra caralho cada um desses momentos.
A questão é que, sempre chama a atenção a frieza dos nativos diante das paisagens que vimos. O sujeito de San Diego que não curte praia, o cara de Nova York que odeia cidade grande, o maluco de Miami que queria estar embaixo da neve, o magrão de Chicago que sonha em fugir para o sul. Isso permitiria parafrasear o romance de Felipe Pena: “O marido perfeito mora ao lado”, livro que comprei no último Intercom, mas que ainda não li, e que em seu título sintetiza a ideia do “a grama do vizinho é sempre mais verde”. Porém, não é esse o sentido que quero dar para essas reflexões, mas sim, o de que nos acostumamos com tudo o que nos cerca e acabamos nos esquecendo das belezas que deixamos de ver, e que, no entanto, sempre alguém de fora pode ver e dar mais valor. O mesmo vale para uma companhia, para a beleza de um olhar, para o gosto de um beijo (principalmente dos que não vem da boca), de uma gozada que transcendeu o prazer físico, ou mesmo de uma paisagem que fica próxima de nossa casa. E essa paisagem pode estar na natureza, pode estar nos olhos e no rosto de alguém, no pôr do sol em um rio próximo de casa, na infantilidade de dois cachorros filhotes brincando, no sorriso da moça que nem sonha que você a deseja mais que tudo em segredo... Sempre enxergamos a beleza da grama do vizinho, da mulher do vizinho, do marido do vizinho, do cachorro do vizinho, mas poucas vezes olhamos para as belezas do que estão perto de nós. Com o tempo, sabemos diferenciar se o que está perto de nós é belo ou não (não apenas esteticamente falando, mas principalmente, espiritualmente) e também percebemos que muito do que imaginávamos ser belo, na verdade é horrendo. E, assim, passamos a saber separar o joio do trigo, o problema é dar valor aos raros cristais que aparecem misturados ao joio e ao trigo. Tão difícil quanto reconhecê-los, é mantê-los ao nosso alcance. Pois, de joio e de trigo nossas vidas estão cheias. E, quando encontramos um cristal, queremos vê-lo todos os dias. Como pude fazer com as belezas de Manhattan e de San Diego. Pelo menos, for a while. É isso que pude fazer com seu olhar, seu corpo e seu sorriso. Também for a while. Pois o vizinho da direita viu que minha grama era mais verde que a dele, e a roubou de mim. E agora? Negócio vai ser roubar a grama do vizinho da esquerda... E se aparecer um outro ladrão de gramas, já sei o que fazer: eu vou te subornar com meu amor. ;)

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