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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A crise dos 7 anos

Antes de completar sete anos de casamento, já prevendo a crise dos sete, o casal resolve procurar um analista especialista em ganhar dinheiro com casais em crise.
- Como é o sexo de vocês?
- Sexo, que sexo? – pergunta ele.
- É. Explique-se doutor?
- Bom... Vocês não fazem mais... sexo?
Os dois se olham com canto de olho e explodem em uma longa gargalhada.
- Ahhhh ahhhh ahhhhh, doutor, o senhor é uma parada... – diz o homem. Retomando o fôlego, ele completa – bem, na verdade faz... deixe-me ver... um mês e.... um mês e cinco dias que não rola nada...
- Um mês e sete dias – corrige a mulher. – A última vez foi no feriado de 20 de setembro, quando o Bernardo foi dormir na casa do tio dele e nós dois bebemos bastante e acabamos tirando a roupa e tal....
- É mesmo, é mesmo – confessa o marido, sem coragem para admitir que não lembra de absolutamente nada disso.
- Bom – interrompe o doutor. – Então vamos começar pelo básico. Para vocês superarem a crise e voltarem a viver como dois pombinhos, primeiro vocês devem voltar a descobrir o prazer carnal um no outro.
Os dois se olham, desconfiados. O doutor já esperava essa surpresa, afinal, é sempre assim. Ele respira fundo e continua.
- Minha metodologia é diferente da maioria dos demais profissionais. Defendi na minha tese de doutorado que um relacionamento depende incondicionalmente de sexo. De nada adianta amizade, carinho, compreensão, se nada acontece debaixo dos lençóis. Então, vamos tratar vocês começando justamente pelo final: partindo do sexo até chegarmos aos outros pontos.
Os dois permanecem calados, olhando seriamente para o doutor.
- Bom, como diria o analista de Bagé, vamos apurar o negócio que a sala de espera ta cheia de louco me aguardando. Como tema de casa quero que vocês tentem fazer sexo e que sejam sinceros um com o outro. Doa a quem doer, falem a verdade sobre o que estão sentindo. Conversem. Não trabalhem para depois simplesmente dormir. Falem sobre o que vocês pensam um para o outro, com sinceridade, sem censura. Essa primeira etapa é a mais difícil. Caso vocês passem por ela, as outras serão fáceis.
O doutor se levanta, abre a porta, e lhes deseja uma boa sorte e um bom trabalho.
- Obrigado, doutor – diz ele.
- Obrigada, doutor – diz ela.
A noite aparece e os dois deitam na cama. Chegou a hora. O homem pensa em ir até a geladeira e abrir uma latinha de cerveja para facilitar o trabalho. “Assim consigo imaginar coisas mais facilmente”, pensa. Acaba desistindo, pois sabe que ela detesta o seu bafo de cerveja. Enquanto isso, ela pensa em inventar que está menstruada ou com dor de cabeça. Mas logo desiste da idéia, pois tem consciência que quanto mais adiar, pior vai ser. Melhor encarar agora. Os dois se olham.
- E aí? – diz ele.
- E aí! – responde ela.
Os dois se beijam. Como diria Humberto Gessinger, beijos sem paixão. Crime sem castigo. Os carinhos com as mãos são mútuos. Como estavam sedentos de carne, logo ele fica de pau duro e ela molhadinha. Ela desce a mão até o seu antigo amigo e começa a acariciá-lo. Ele fecha os olhos e geme baixo. Passa as mãos suavemente nos seus seios e depois desce pela barriga até chegar nas coxas. Puxa habilmente a calcinha para o lado, como nos velhos tempos, e tateia o objeto perseguido suavemente com o dedo médio. Ela geme e morde os lábios. Ele beija o pescoço. Sabe que essa tática não falha. Beija o queixo, e volta para os lábios, segurando-a pela nuca. A paixão está voltando, pelo menos por instantes. Fazia tanto tempo que não faziam absolutamente nada que agora nem sabem por onde começar: ela vai por cima? Ele? Ela vira de costas? Fica de quatro? Chupa? Fazem um 69? 69 é uma boa, pensa ela, que desce até o membro duro, colocando sua preciosidade na frente dos lábios dele, que não resiste e cai de boca. O 69 esquenta. Ficam nessa por um bom tempo, como antigamente. Então, ela larga o brinquedo e monta em cima dele. Dessa posição, partem para todas as possíveis e imagináveis: de quatro, tesoura, candelabro italiano, de pé, e termina com ele sentado na ponta da cama e ela em seu colo rebolando por cima. Em pouco tempo, após longos e furtivos gemidos, os dois caem estatelados no colchão, molhado de suor, sêmen e outras coisas. Deitam. Pensam. E agora? Chegou a hora da verdade.
- E aí? – pergunta ela.
- E aí! – responde ele.
- No que está pensando? – diz ela.
Silêncio.
- Em nada - responde ele.
Ela suspira, decepcionada.
- Se eu disser a verdade você me diz também?
- Claro – responde ela, sem muita certeza.
Ele respira fundo. Ainda está na dúvida entre falar a verdade ou mentir. Porra, depois que eles acabaram e deitaram na cama ele passou imediatamente a pensar em coisas banais. “Bom, mas já que estamos nessa merda, que se foda! vou falar a verdade”.
- Bom, depois que a gente terminou e deitou aqui... eu estava pensando... bom, eu estava pensando... – por um momento ele esquece que ela está no quarto e realmente fala no que estava pensando – estava pensando se esse tal de Moreno realmente vai dar certo jogando ao lado do Cleber, saca. Porque, sei lá, vê o Barcelona contra o Santos. O Santos tinha Neymar, Ganso, etc, mas não adianta ter vários bons jogadores que não são entrosados. Então, estava pensando se vamos terminar 2012 mais uma vez da forma como foram os últimos anos.... Sei lá, é muito triste, não sei se agüentaria...
Ele olha para o lado e ela está chorando.
- Você é um cachorro!
- Calma, meu bem, não é sinceridade que vale?
- Não! – ela explode em fúria – NÃO! NÃO! NÃO!
Ele a abraça e, depois de um longo tempo, pergunta:
- Bom, e você, no que estava pensando?
Ela instantaneamente pára de chorar. “E agora, meu Deus? Como vou falar a verdade? Ele não vai suportar... Bom, mas se eu tive que ouvir que ele estava pensando no time dele, então ele merece. Vou contar...”. Ela respira fundo e, também como se estivesse sozinha no quarto, desata a falar.
- Eu estava pensando no sexo que tivemos.
Ele fica com vergonha de sua própria insensibilidade. Enquanto ele pensava nas contratações de seu time, ela refletia sobre o sexo. Lembrou de um livro que viu uma vez num sebo: Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor. Ou seria o contrário? Bom, pouco importa. De cabeça baixa, sentindo-se como um cachorro sem alma, ele a ouve dizer:
- Estava pensando se conseguiria fazer esse tipo de sexo com você...
Ele a olha com estranheza e mal ouve sua voz dizer: “como assim?”.
- É. Desde o início eu estava pensando no Anselmo. Desde que fechei os olhos e te abracei.
De súbito ele esqueceu Cleber, Moreno, Messi, Neymar e o caralho. Porra! Poderia estar pensando em tudo! Em absolutamente tudo! Em roupas para comprar, na casa que está bagunçada, nas contas do final do mês, enfim, em tudo, menos naquele porra daquele merda daquele Anselmo! Com isso, ele confirmava sua hipótese: ela nunca conseguira esquecer aquele crápula desgraçado. Mesmo com ele interpretando o ex-namorado da mulher, acabou se sentido traído. Ou pior: mais traído do que se realmente tivesse sido traído. Não agüentou a dor e, como uma criança, pôs-se a chorar.
Pouco depois, pegou suas coisas e foi para a sala dormir. No dia seguinte o divórcio foi encaminhado.
Sabendo do caso, o doutor pôs-se a repensar a sua teoria.
FIM

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