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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os últimos soldados da Guerra Fria

Na década de 1990, com o fim da União Soviética, o povo cubano passou por uma crise poucas vezes vistas na história de um país. Relatos crus, reais e até pitorescos dessa crise estão no ótimo livro Trilogia Suja de Havana, do cubano Pedro Juan Gutierrez. Para superar essa crise, que resultou numa queda de absurdos 75% do Produto Interno Bruto daquele país (qualquer país já fica maluco se o PIB cai 1 ou 2%) os cubanos começaram a investir em turismo. De repente, a crise passou a ser superada. Entretanto, grupos de extrema direita norte-americanos começaram a financiar terroristas cubanos, que não aceitavam essa “venda” do país, para cometerem atos terroristas, espantando, assim, os turistas que vinham de várias partes do mundo. Para barrar os atos terroristas, Cuba enviou aos Estados Unidos 14 agentes secretos que teriam que se infiltrar na CIA e em outras entidades que financiavam os terroristas. Em 1998 os 14 agentes foram presos. E nesse ano, 2011, foi publicado o excelente livro Os últimos soldados da Guerra Fria, escrito por um dos melhores escritores e jornalistas brasileiros de todos os tempos: Fernando Morais.
Fernando Morais esteve na Feira do Livro de Pelotas no sábado e na de Porto Alegre no domingo, dia 6 de novembro. Como eu andava por Porto Alegre, optei por vê-lo na feira da capital. Cheguei cedo, achando que haveria filas para entrar, mas esqueci que estamos no Brasil. Pessoas não fazem filas para ver escritores nesse país. Só fazem filas para verem jogadores de futebol, músicos ou ex-BBBs. Graças a isso, consegui sentar bem na frente do pequeno palco montado no Santander Cultural. Durante uma hora ouvi com os olhos arregalados, sem piscar, o show de vida e de experiência narrado por Fernando Morais, com a intermediação de ninguém menos do que o professor Ruy Carlos Ostermann. Morais, que dentre outros, escreveu os livros Olga e O Mago (biografia de Paulo Coelho), deu uma breve pincelada sobre o que nos espera em seu mais novo livro: histórias surpreendentes, humanas e inimagináveis de homens que passaram por traidores para deixar o país rumo aos Estados Unidos para se infiltrar na CIA. O troço foi tão bem montado que um não sabia da existência do outro e, além disso, nem suas famílias sabiam o que realmente eles iam fazer em solo americano. Elas achavam que eles realmente fossem “traidores” de Fidel.
Como o melhor profissional que um jornalista pode ser, Fernando Morais fez várias viagens a Cuba, Estados Unidos e outros países para fazer o levantamento, entrevistou tanto os agentes quanto pessoas presas por praticar atos terroristas em Cuba. Numa dessas entrevistas, Fernando Morais contou que passou o dia com um preso condenado a morte por dois atentados terroristas em Cuba, que resultaram na morte de dezenas de pessoas. Em um dos atentados, ele detonou uma bomba em uma casa noturna de Havana. Ele contou que chegou ao presídio de manhã e só saiu à noite, tomando café, almoçando e jantando com o condenado, que se revelou uma pessoa lúcida, humana e repleta de sentimentos comuns a qualquer um. Inclusive, ele chegou a falar para Morais que havia coisas que qualquer pessoa acharia tremendamente bestial em sua personalidade. Em uma delas, ocorreu mais ou menos o seguinte diálogo entre o jornalista e o preso, já perto do fim da visita no presídio:
- Mas me diga uma coisa – pediu Fernando – você é um cara inteligente, lúcido, com pensamentos humanistas. Por que você colocou aquelas bombas para matar dezenas de pessoas que você sequer conhecia? O que te levou a fazer isso?
- Eu queria ser como o Silvester Stallone – respondeu o condenado.
- Ãhm?! – Retrucou Fernando, sem acreditar no que ouvia.
- Sim. Eu queria ser como ele, explodindo bombas nos filmes. A diferença é que ele no fim do filme termina na cama com a Sharon Stone. Já eu vou terminar meu filme na frente do batalhão de fuzilamento.
Enfim, essas e outras histórias estão nesse livro que tratei de garantir para a minha estante com uma dedicatória muito valiosa de um dos monstros vivos do jornalismo e da literatura nacional e mundial. E a notícia boa é que a história já foi vendida para o cinema, ou seja, logo teremos essa preciosidade em nossas telas.
Hasta la vista!
* Texto publicado em A Tribuna Regional

2 Comentários:

  • baaah manolo... tu ainda te ilude que o pessoal vai valorizar algo que realmente deveria ser valorizado... hahaha

    "Cheguei cedo, achando que haveria filas para entrar, mas esqueci que estamos no Brasil. Pessoas não fazem filas para ver escritores nesse país. Só fazem filas para verem jogadores de futebol, músicos ou ex-BBBs."

    Não tem muito mais o que dizer a respeito neh... a fila só se forma se o escritor for algum ator famoso ou pessoa da TV... ¬¬

    tchê... eu só te digo uma coisa... tenho admiração por essa tua voracidade em "devorar" livros e mais livros...

    massa!

    Se todos tivessem um pouco disso pelo menos... mas nããão... é muito mais fácil ficar vendo as novelas da globo e torcendo pra fulaninha não dar pro fulaninho porque ele é mau... ¬¬

    Abraço ae manolo!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 9 de novembro de 2011 às 20:59  

  • Porra alemao, por ele ter escrito a biografia do Paulo Coelho jà caiu no meu conceito. Se bem que, certamente, ele a fez porque finalmente ganharia dinheiro com livros.

    Mas a verdade é outra e diversa, como sempre

    Por Blogger Zaratustra, às 10 de novembro de 2011 às 15:11  

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