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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Fábrica de diplomas

Acabei de ler poucos dias atrás um livro que fazia tempo que me seduzia: Fábrica de Diplomas, do Felipe Pena. Como estou numa fase meio ranzinza, não vou detalhar aqui a biografia do Felipe Pena, apenas me limito a dizer que é um dos grandes teóricos do jornalismo e, descobri agora, um excelente romancista policial. Não entendi muito bem se o Fábrica de Diplomas conta exatamente com o mesmo texto do Analfabeto que Passou no Vestibular, que se não me engano é o primeiro romance de Pena. Enfim, se é, ficou melhor esse novo título, pois o outro levava o potencial leitor a pensar em uma história completamente diferente da que está no papel. Enfim, chega de conversa fiada e vamos ao que interessa.
É clichê mas é verdade: o livro é daqueles que te prende do início ao fim. A cada capítulo lido, você fica louco para ler o seguinte, pois, ao melhor estilo folhetim/novela os capítulos são encerrados sempre deixando um mistério no ar, que desperta a curiosidade do leitor para a sequência da história. Outro mérito, é que os capítulos têm, em média, dez páginas. Com isso, num dia em que se tem pouco tempo para se dedicar à literatura, você pode pegar o livro antes de dormir e ler um capítulo. O difícil é ficar no “um”, pois provavelmente você fique louco de curioso para ler o seguinte... Já se você tem tempo, pode ler três, quatro ou cinco capítulos no mesmo dia, fazendo intervalos, etc. No meu caso, li as 334 páginas em exatamente sete dias. Enfim, a metodologia de leitura varia de leitor para leitor, mas, no meu caso, parece que o livro foi feito sob medida, pois não gosto de capítulos nem muito extensos, nem muito curtos. Chamo a atenção, entretanto, ao fato de que esse não é um livro daqueles que você vai lendo fragmentadamente, do tipo, lê duas páginas cagando no banheiro, outras duas no ônibus, outras três no intervalo do Globo Esporte, etc. O ideal é ler a obra com atenção, até porque, devido a gama de personagens, muitos com personalidades complexas, descritas em profundidade, a compreensão da leitura exige um tanto de concentração e meditação sobre os fatos. Resumindo, é um livro para quem gosta de ler. Não aconselharia alguém que não tem o hábito da leitura a começar justamente por esse.
Como leitor-crítico-analítico da blogosfera, dividiria o livro em três grandes temas:
1) A educação superior como máquina de caça-níqueis e de enriquecimentos pessoais
2) A educação superior inserida no contexto do tráfico de drogas do Rio de Janeiro
3) A corrupção de todo o sistema (político, educacional, etc), que aparece justamente na forma de suspense policial
Além disso, o livro tem o grande mérito de manter uma grande questão-chave até o final e que prende muito a atenção do leitor: quem é o Doutor? Essa pergunta norteia a história e, obviamente, não vou apresentar aqui a resposta, para não estragar o prazer de ninguém.
Ainda poderia me aventurar a fazer algumas análises de construção literária, mas como essa não é exatamente a minha praia, não vou arriscar. Apenas digo que cada personagem foi minuciosamente pensado e a distribuição das histórias paralelas nos diferentes capítulos ficou bem estruturada e equilibrada. Enfim, lendo o livro, pelo menos da minha parte, deu para perceber que Pena, justamente por ser doutor em literatura, utilizou inúmeras técnicas literárias eficientemente. Quem é acostumado a ler bastante percebe isso, já quem não percebe, também não perde nada, pois o que importa é a história do romance.
Felipe Pena goste ou não, mas lendo o livro me veio à mente os livros do Jô Soares. Dos quatro do gordo global, li três: Shangô, O homem que matou Getúlio Vargas e Assassinatos na Academia Brasileira de Letras. Achei o estilo parecido, entretanto, ressalto aqui que, desses três, os dois primeiros são excelentes, enquanto que no da Academia achei o desfecho da história completamente frustrante, ao contrário do livro de Pena, que tem um final surpreendente e bem bolado. Já o Esganadas, ainda não li, mas minha mãe já pediu de natal, o que leva a sua inclusão no fim da lista de espera de livros que ainda pretendo ler antes de morrer.
Construindo esse texto, fico maravilhado como aqueles velhinhos que recém aprenderam a mexer na internet, pois o blog permite que eu, um mero mestre em Comunicação que nunca publicou nada de relevante, faça uma análise crítica, mas sem fundamentação teórica, de um doutor em literatura.
Para encerrar, destaco mais um ponto forte e um ponto fraco do livro. O ponto fraco, na minha visão de leitor, foi a quase ausência de um humor mais leve, mais sutil. Enfim, não saberia definir isso, pois a narrativa apresenta várias cenas de humor, mas é um humor mais intelectual. Faltou, a meu ver, um pouco mais de humor moleque, descompromissado com técnicas literárias... Já o outro ponto forte é que depois que você lê esse livro você nunca mais vai enxergar uma universidade com os mesmos olhos de antes...
Quer saber mais? Então desligue a TV e o computador e vá ler o livro, porra!

2 Comentários:

  • mais um livro que tu comenta aqui e que eu fico com vontade de ler... opa, peraí... já passou... HSUHAUSHAUHSUAHSA

    capaz capaz...

    a vontade existe, mas a preguiça também... um dia quem sabe... hahaha

    no momento minhas leituraa obrigatóriaa estão mais voltadas para as leis que caem nos concursos... que por sinal, eu quase nunca aprendo nada... mas enfim...

    Abraço ae manolo!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 21 de novembro de 2011 às 19:56  

  • Porra alemao, nòs somos meros jornalistas criticando os grandes da literatura mundial. Essa é a boa coisa da bagaça toda.

    Por Blogger Zaratustra, às 22 de novembro de 2011 às 16:13  

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