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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cadê a minha passagem????

Dia desses aconteceu comigo algo que pode ocorrer com qualquer cidadão brasileiro e que me deixou a pensar sobre uma série de questões. Primeiro vamos aos fatos. Estava eu aí, na capital das Missões, e tinha comprado com meu dinheiro suadinho a minha passagem para voltar a Pelotas. Chegou à noite de véspera da viagem, fui arrumar minha bagagem, meus livros, roupas, etc, até que fui conferir minha passagem dentro da carteira e, adivinhem? Ela havia sumido. Revirei o quarto procurando a dita cuja, que não estava lá, em lugar nenhum. Então, recuperei mentalmente os lugares por onde andei acompanhado da carteira naquele dia. Haviam basicamente dois: uma livraria e uma van que vende lanche no centro. Como os dois funcionavam à noite, fui até esses dois locais conferir se não tinha deixado a passagem cair no chão ao tirar o dinheiro da carteira, ou se simplesmente não havia dado a passagem embolada em meio ao dinheiro. Nada. Voltei para casa, frustrado.
A essa altura eu tinha duas opções: ou eu ficava em Santo Ângelo e arriscava perder meu emprego como professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) ou eu assaltava algum cidadão aí nas ruas de Santo Ângelo para ter dinheiro para comprar uma passagem nova, pois, final do mês, para um pai de família, sacumé, né? Aliás, nessa época do mês acho que dificilmente alguém tem em torno de R$100,00 sobrando, de bobeira.
Mas, antes de apelar, resolvi ligar para a Estação Rodoviária de Santo Ângelo. Expliquei a situação, mas me orientaram a fazer um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia. Foi aí que comecei a estranhar o troço todo, pois que diabo tem a ver o fiofó com as calças? Os boletins de ocorrência são, nada mais, do que o depoimento de uma pessoa, que sofreu algum dano, que perdeu algum documento, etc. Não é prova de nada. É um indício para uma investigação. Senão, daqui a pouco as pessoas vão começar a passar na Delegacia, dizendo que perderam a passagem para viajar de graça! Mas tudo bem. Apesar do estranhamento, fui até a DP. Chegando lá, a reação dos policiais foi óbvia: riram da minha cara. E com razão. Mas não riram da minha situação, mas sim, da orientação feita pela Rodoviária. Então, compadecidos da minha tragi-comédia, eles ligaram para a rodoviária e perguntaram qual o embasamento jurídico que a Rodoviária tinha para encaminhar passageiros que perderam a sua passagem para a DP? Não houve resposta. Aliás, qualquer argumentação é derrubada com a seguinte contra-argumentação: passagem não é documento. Então, o policial que estava me atendendo ligou para a empresa que me vendeu a passagem. A argumentação da empresa Planalto, ao telefone, foi mais ou menos essa: se o sujeito perde a passagem, tem que comprar outra. A comparação feita pelo funcionário foi a seguinte: é como se você vai a um show ou a um estádio de futebol e perde o ingresso. Por se tratar de uma empresa comercial, e que não é a única a oferecer esse serviço, achei no mínimo questionável essa declaração. Enfim, ao chegar em casa tratei de ligar para a Planalto, em Santa Maria. Expliquei toda a situação e fiquei com a seguinte impressão: só solucionaram o meu problema após eu dizer que era professor da UFPEL e que eu teria que estar no outro dia de noite na rodoviária de Pelotas para buscar uma das editoras da Zero Hora, que daria uma palestra para os alunos, o que era verdade. Ou seja, já pensou se eu passo uma pauta dessas para a ZH do Estado?
Não fiz isso, mas sei o quanto uma matéria dessas representaria negativamente para a empresa. Entretanto, fiquei me questionando: e se eu fosse um operário ou uma empregada doméstica, será que a empresa teria resolvido o meu problema? Ou será que ela não se sente ameaçada por essas pessoas “comuns”? Eu só consegui embarcar no meu lugar após muita insistência, porque no início o discurso da Rodoviária e da empresa era: problema é seu, compre outra, não temos nada a ver com isso.
Meu primeiro pensamento foi o seguinte: nunca mais vou viajar pela Planalto, pois posso tranquilamente pegar um ônibus pela Embaixador até Porto Alegre e ir de Ouro e Prata até Santo Ângelo, que, aliás, leva menos tempo do que viajar direto de Pelotas até Santo Ângelo... Mas, como passou minha fase de radicalizar, e como minha situação, bem ou mal, foi resolvida, não vou fazer isso.
Em tempos de capitalismo exacerbado e pós-modernidade é muito perigoso para uma empresa que presta um serviço público (inclusive a Rodoviária) querer tapear seus clientes. Na delegacia, citei o exemplo dos aeroportos: hoje você só embarca com a identidade, não há mais o bilhete de passagem. Eis o futuro para as empresas de ônibus. E a primeira que começar a adotar esse sistema, estará bem à frente das demais.
Por hoje é isso. Hasta!

*Texto publicado em A Tribuna

5 Comentários:

  • tu q só não perde a cabeça pq eh grudada, e a culpa é da empresa de ônibus???

    Por Blogger Carolina, às 25 de novembro de 2011 às 10:34  

  • hahaha...tu é muito desligado manolo... hahahah

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 26 de novembro de 2011 às 21:31  

  • Porra alemão, compre pela internet, eles emitem um voucher, podes imprimir quantas vezes quiser, depois é só fazer o check-in na hora do embarque. E no cartão dá para fazer em 5x.

    Por Blogger Silvério, às 1 de dezembro de 2011 às 14:16  

  • Eu, que te acompanho desde sempre, torno a dizer: presta atenção onde colocas as coisas importantes, senão um dia perderás muito mais que uma passagem de busão............... e a empresa tem toda razão, sim senhor!!!

    Por Blogger Nara Miriam, às 2 de dezembro de 2011 às 03:19  

  • É assim mesmo professor!Já passei por algumas situações com a Planalto de extrema ira. Serei bairrista, mas tenho que defender o Expresso Embaixador. Se fosse aqui, em Pelotas ou até mesmo POA, a empresa pediria imagens das câmera de segurança ou falaria com atendeu para comprovar a compra e não lhe deixar na mão. Eles zelam pelo cliente.

    Por Blogger Alexandre, às 12 de dezembro de 2011 às 09:23  

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