Quando a tristeza vence o humor
Estava pensando comigo mesmo sobre o porquê eu escrevo tanta bobagem. Talvez quando fizer psicologia, eu me entenda. Imagino que, se um psicólogo fosse avaliar meus textos, como naqueles testes psicológicos de seleção de emprego, daria um veredicto curto e grosso: escreve bobagens para fugir da realidade. Talvez seja isso mesmo.Aliás, a realidade muitas vezes é deveras cruel. Admito uma coisa: sofro muito pelos outros. E acho que entrei no jornalismo pelo interesse que tenho pelos outros, ou melhor, pelos seres humanos. Hoje, por exemplo, fui a Cardiocenter (clínica de cardiologia) para pegar meus exames (aqueles, do holtter 24 horas que mencionei outro dia). Entrei na sala de espera, e havia uma mulher fazendo tricô, de óculos, cabelos escuros encaracolados, aparentando algo em torno de 40 anos.
- Vai fazer exame? – ela perguntou.
- Não, vim buscar um que fiz dias atrás. O holtter 24 horas. Tenho que levar para a médica amanhã.
Ela fez um “hmmm”, e comentou:
- Como tem gente adoecendo, né?
É verdade. Nas redondezas dessa clínica há vários consultórios médicos, de todas as especialidades, que estão sempre cheios. Nunca cheguei a um plantão de hospital sem ter alguém na fila. Pessoas circulam por aquela região com envelopes brancos na mão, contendo exames que podem ser um alívio ou uma bomba.
- E a senhora, vai fazer exame?
- Sim – respondeu calmamente. Após alguns suspiros baixos ela acrescentou que provavelmente terá que fazer uma cirurgia no coração, e acrescentou – Estou tratando um câncer e aí descobri isso agora. Fazer o quê? Tenho que fazer os exames...
Fiquei sem saber o que falar. Olhei para aquela mulher falando em tom calmo e imaginei que vida existe por trás daquele sufoco abafado. Quanta coisa não deve passar em sua cabeça? Como ela não deve sofrer por ela mesma, pelo seu marido e pelos seus filhos? Com um aperto no peito, respondi:
- É verdade, não nos resta outra saída.
A enfermeira veio e me entregou os exames, enquanto a senhora seguia tricoteando, de cabeça baixa. Não sei dizer exatamente o que senti. Na verdade, acho que sei sim: senti completa impotência. Queria, de alguma forma, ajudar aquela mulher, dizer para ela que vai dar tudo certo, que vai ocorrer tudo bem na cirurgia e que ela se recuperará do câncer e viverá feliz com seu marido e seus filhos! No entanto, saí para a rua. E com um nó na garganta recebi como um tabefe o ar gelado do inverno que se aproxima, tão frio quanto a tristeza de uma doença.

























