O ovo assassino o (eterno) retorno
Pronto Alemão, uma Patrícia a menos que te devo.

Essa era a minha janta: uma folha de alface com três pedaços de frango. Minha alergia a ovo chegou ao ápice do sucesso. Era o assunto do casamento. Pessoas se levantavam para me ver. “Vejam, é ele! Aquele ali, de óculos, de terno e camisa verde. Ele é O ALÉRGICO A OVO!”, diziam, apontando seus dedos indicadores inquisitivos em minha direção. Eu, disfarçadamente, tentava achar alguma carne entre o couro e o osso dos pedaços de galinha que estavam em um pires minúsculo.
Mais tarde, veio a sobremesa. Tentei compensar a falta de comida em meu estômago com sagu. As pessoas me olhavam com ar curioso na fila e diziam “acho que isso tem ovo”, “acho que isso não tem”, até que chegou a cozinheira, que tinha feito a sobremesa, e informou categoricamente: “só o sagu não tem ovo”. E assim, enchi de sagu o meu pratinho da sobremesa. Dirigi-me para a mesa, sendo observado por olhares curiosos. A Cris e meu nenê, que na barriga dela habita, demonstravam-se solidários. Nessa hora percebi a importância da família em nossas vidas. Enquanto você sofre um bulling social ovístico, a sua família está ali, ao seu lado, para te acalmar.
Mas o pior de tudo foi o seguinte: que devido a fome (Desculpa Beck, mas tava com fome mesmo) eu não conseguia me concentrar em nada mais. Desde o almoço, eu só havia comido um pouco de pipoca, e REALMENTE estava com fome. A Cris dizia: “Oba, vai ter música! Vamos poder dançar!”, enquanto eu pensava onde poderia encher o bucho ao irmos embora. Até que tomei duas taças de vinho, com o estômago vazio, e algo começou a se mexer dentro de mim, como se nosso filho (a) estivesse em minha barriga virando cambotas. Putaquepariu, era o que faltava, dor de barriga. Decidi segurar, mas parei de beber. Fui ao banheiro, encontrei um primo do Beck. O papo que rolou foi mais ou menos o seguinte:
- Cara, tomei um vinho, me deu um embrulho no estômago - disse eu.
- É, a gente não está acostumado a comer tanto, aí da nisso.
“Putaquepariu”, pensei, sem falar mais nada, pois no estado em que me encontrava não me sentia apto a dar explicações e a ter que agüentar ofertas de ajudas que não resolveriam o meu problema, do tipo, “vai lá na cozinha e pede um queijo”. Acabei indo ao banheiro, e na volta, todos falavam “nossa, comi demais”, “credo, nunca havia comido tanto na vida” ou “bah, tava muito boa a comida! E a sobremesa então? Você provou aquela torta de...”. E por aí ia. Parece que todas as pessoas naquele lugar só sabiam falar de comida e da minha alergia a ovo. Até que não me agüentei mais, e antes da meia-noite, antes mesmo de tirarem as mesas para o pessoal dançar, eu falei para a Cris:
- Você quer ficar muito tempo ainda?
- Tanto faz, tu que sabe – respondeu ela.
- Então vambora.
No caminho, liguei a cobrar para o pai, para saber se havia sobrado algo da janta deles (carreteiro). Nada. Pensei em irmos até alguma lancheria (lanchonete, para os não-gaúchos), mas no fim, a fome era tanta que não queria esperar mais nem um segundo antes de comer. Chegamos em casa e a Cris fez duas torradas para mim. E assim acabou mais uma noite na vida de um alérgico a ovo.
FIM
4 Comentários:
Porra alemao!
Imagino que no teu casamento vai ter sò comida sem ovo, pra se cobrar de todos esses incovenientes da vida.
Mas enfim, o importante è o que importa. Te desconto uma Patricia da lista.
E na verdade o titulo eterno retorno do meu grogue vem do Nietzsche (saùde!), que escreveu o original Assim Falou Zaratustra.
Porra!
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Zaratustra, às 24 de maio de 2010 às 01:23
rúcula é mara! ora do maninho, mas foi bom assim tu emagrece um pouco hauhauhauhauhaahua
Por
Carolina, às 24 de maio de 2010 às 12:36
ahuashuahsuhasa... caraca Ritter... ri demais aqui...
eiitaaa... enfim um texto sem pornografia... aushausha...
por sinal... SENSACIONAL... mt bom mesmo... cara... to rindo aqui lembrando e imaginando as pessoas te olhando do jeito que tu escreveu aqui... sei q tu aumentou bastante, mas ae q ficou mais engraçado ainda...
mt bom, mt bom...
Por
Mr. Gomelli, às 25 de maio de 2010 às 20:13
Adorei esse texto!
Serviu para você mostrar toda a sua forma dramática de ver o mundo!
hauhauhaua
Beijos
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Juliany, às 27 de maio de 2010 às 23:44
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