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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Totó do futebol?


São muitos os casos de amor, suspeitas e traição na literatura e na dramaturgia nacional e internacional. Numa das mais clássicas, em Dom Casmurro, de Machado de Assis, o personagem Bentinho termina o romance sem saber se foi ou não traído por Capitu. Poderíamos dizer que ele é o corno imaginário: mesmo que na realidade ele não fosse corno, ele passou a ser, pois, na sua imaginação, ele age como um corno. Como diria algum filósofo qualquer: cornice é um estado de espírito.
Mas não é só na ficção que a literatura conta com cornos. Hugh Hefner (foto), fundador da Playboy, por exemplo, muito antes de ter a idéia de exibir as beldades americanas nuas em páginas de papel na década de 1950, era um simples funcionário de alguma empresa qualquer, noivo de uma mulher comum. Na época, as mulheres casavam virgens, sabecumé. Mas Hefner não se conformava, e tentava de todas as formas traçar a mulher antes do casamento, entretanto, suas investidas foram em vão. Para chegar às redes com a pretendida, ele ficou noivo. Tudo ia bem, até que certa vez, vendo um filme no cinema (naquela época as pessoas também iam aos cinemas) a noiva começou a chorar compulsivamente. Após muita insistência de Hefner, ela confessou: havia liberado para um outro cara. Hefner sentiu-se traído até a alma, mas acabou deixando passar e casou com a fulana, vindo a ter uma filha com ela. Porém, a partir de então, ele focou a sua vida nos negócios, e deu no que deu: tornou-se um bilionário que contava com meia dúzia de amantes, a maioria capas ou coelhinhas da Playboy americana.
Já os mais devassos, como o americano Charles Bukowski e o cubano Pedro Juan Gutierrez, não se importam muito com relacionamentos. Caso alguma mulher os traísse, eles diriam para elas algo como “mas e desde quando nós temos algo além de sexo?”. Outros sofrem até a alma, como o francês Alexandre Dumas filho, autor do clássico Dama das Camélias, em que ele narra o relacionamento que teve com uma prostituta na década de 1840. Para ele, tudo era motivo de desconfiança, desconforto e pânico, entretanto, amava a cortesã como poucas vezes se viu alguém amar uma mulher na literatura universal.
Enfim, vendo tudo o que está acontecendo entre o Grêmio e o Ronaldinho Gaúcho, fico me perguntando: que tipo de corno o Grêmio é? Foi traído até a alma pelo seu ídolo há exatos 10 anos e, agora, simplesmente esqueceu de tudo em uma crise aguda de amnésia. Será que o meu professor Juremir Machado da Silva tem razão, e o Ronaldinho é a Clara da novela das oito enquanto o Grêmio é o Totó? Será que perdoará o Ronaldinho e voltará a ser traído, da mesma forma que o personagem de Toni Ramos?
Analisando friamente, a impressão que se tem é que o Grêmio é o homem que foi traído pela mulher amada há 10 anos, acabou fazendo beiço e promessas de que nunca mais a procuraria, mas ao voltar a ter a chance de tê-la de novo, pensando em todas as suas curvas, prazeres e encantos, não resiste e tenta a felicidade novamente. Porém, nessa história toda os gremistas terão duas possibilidades: na primeira, a consagração com um belo futebol e títulos, que apagará o episódio da traição de Ronaldinho em 2000. Nesse caso, é como se o amante traído voltasse a encontrar a ex-amante a todo o vapor sensual e sexual. Na segunda opção, ele pode bancar o corno manso, que, apesar de perdoar a ex-amante, não consegue desfrutar de seu belo corpo, mesmo tendo-a do seu lado. Enfim, uma espécie de Totó. Aliás, esse é um nome bem sugestivo para esse tipo de corno...
Ah, e feliz ano novo a todos!

Texto publicado no Jornal das Missões de hoje.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Maifrendi

Estou na página 175 do “Abusado”, de Caco Barcellos, e já me sinto no direito de indicá-lo aos leitores imaginários desse blog. Acho que fez mais sucesso do que o Rota 66 (que já é um puta livro) simplesmente porque é melhor, mais empolgante e mais envolvente. Resumidamente, Caco apresenta a biografia do traficante Marcinho VP, que ganha o nome fictício de Juliano VP, e das guerras que envolviam a tomada de posse do Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro. Só por curiosidade, para tudo Marcinho dizia: “Viado Puto, Viado Puto, Viado Puto...”. Daí o VP no nome.
Mesmo sem ainda terminar de ler o livro, senti-me na obrigação de colocar aqui o breve relato que envolveu os traficantes e os jornalistas que cobriam a guerra pela posse do morro entre os traficantes Cabeludo e Zaca. O pessoal do morro logo descobriu que havia um jornalista inglês e o apelidaram de Maifrendi. Numa dessas, Cabeludo pede para o seu “assessor de imprensa” Chico Boca Mole chamar o Maifrendi para uma entrevista exclusiva, e vejam só no que deu:

- Aí, Maifrendi, o chefe quer mandá uma sinistra pros gringos – disse Chico Boca Mole ao repórter inglês.
Cabeludo afastou-se meia hora da guerra para dar entrevista. E o repórter, que falava apenas algumas palavras em português, perdeu horas tentando traduzir as gírias e palavrões, com a ajuda do “assessor” Chico Boca Mole. Eram muitas as dúvidas em cada frase:
- Caga Sangue é Vacilão? What means? Que significa? – perguntou o repórter.
- Vacilão ou bundão, ou Mané, ou otário, o que tem que morrê! – respondeu Chico Boca Mole.
- Oh, Yes. The one who must die. Tem que morrer! And Caga? And Sangue?
- É o nome do cara, Maifrendi.
- Oh Yes, the guy.
- Isso aí, viado, cuzão.
- E o que significa Paulista deu uns tecos?
- Aí tu já está querendo demais. Vai estudar, Maifrendi.


Vejam vocês! Os traficantes têm até assessor de imprensa! Aliás, uma das dificuldades dos jornalistas quando iam gravar com Chico Boca Mole era fazê-lo falar alguns segundo sem dizer palavrões, pois ele chegava para os jornalistas e dizia:

- Manda aí na manchete: Zaca é um chifrudo arrombado!
Os repórteres tinham que implorar para que ele gravasse pelo menos algumas palavras no linguajar comum.
- Tá bem, nova manchete: retira o chifrudo arrombado. Coloca aí: Zaca, tu vai morrê, mané!


Caraca. Acho que vou começar a mandar uns currículos para o Dono Marta...
Hasta!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A dama das camélias

Apesar do protesto do mestre dos magos Ababelado (aparece só de vez em quando e deixa mais perguntas do que respostas) li “A dama das Camélias” antes de “O jogador”. Inclusive, outro que já furou a fila foi o meu presente de Natal: Abusado, do Caco Barcellos.
Mas vamos ao livro de Alexandre Dumas filho. Na obra, considerada por muitos críticos literários como uma das 100 melhores da história da literatura universal, Dumas filho conta biograficamente a relação, repleta de amor, arrependimentos, contrariedades, choros e risos, que teve com uma prostituta. O livro foi publicado em 1848 em Paris. Apesar de ser uma história auto-biográfica, ela é narrada em primeira pessoa por outra personagem, que conhece Armand Duval, pseudônimo de Dumas filho. Já a cortesã, que se chamava Marie Duplessis, no romance recebe o nome fictício de Marguerite.
Confesso que li esse livro cheio de expectativas, pois conhecia o resumo da história, e que a leitura da obra correspondeu aos meus anseios, para a crítica irônica do mestre dos magos. A cada linha lida me perguntava: “caraca, será que esse cara tá me tirando? Será que aconteceu tudo isso aí mesmo?”. Pois é. Como outros livros, é difícil tentar resumir uma obra em que cada parágrafo e cada frase te surpreendem (olhem que eu já vi, li, ouvi e assisti muita coisa nessa labutada vida). Os sentimentos que a personagem tem para com a amante também é característico e universal a todos aqueles que estão ou já estiveram apaixonados. As palavras de amor, esteticamente perfeitas, idem. O ciúmes que ele sente pela cortesã (algo meio contraditório, mas enfim) é de cair o queixo. E o a dedicação que a persnagem apresenta para manter o túmulo da amada sempre limpo e enfeitado com camélias sendo postadas em sua homenagem com visitas diárias ao cemitério, deixam qualquer candidato a romântico com uma puta inveja.
Encerro colocando aqui uma citação, que catei aleatoriamente, sem muita reflexão, em meio às suas 217 páginas:

“Costuma-se recriminar aqueles que se arruínam por atrizes e por mulheres da vida. O que me causa espanto é que eles não cometem, por elas, vinte vezes mais loucuras. É preciso como eu ter vivido essa vida para saber o quanto os pequenos agrados de todos os dias que elas fazem ao seu amante costuram fortemente ao coração – já que não temos outra palavra – o amor que eles sentem por elas”.

Depois da história de amor de Dumas filho com a prostituta, que se tornou clássico literário, o escritor casou-se duas vezes e morreu apenas aos 71 anos. Tu vês. Pô, com certeza esse é um cara que eu gostaria de ter entrevistado, pois, após ler seu livro, fiquei curioso para saber como ele carregou o fardo de toda aquela história pelo resto de sua vida. Ah, teria mais algumas considerações a fazer sobre o envolvimento de seu pai na história toda, o famoso Alexandre Dumas (de Os três mosqueteiros, etc), mas fica para a próxima, pois vou voltar ao Morro Dona Marta na história de Caco Barcellos. Hasta!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Todo mundo odeia o Dudu

Manjam aquele seriado que passa na Record, Todo mundo odeia o Cris? Pois é. Sou fã do Cris, pois entendo perfeitamente ele e seus dilemas. O coitado não faz nada e sempre estão brigando com ele. Especialmente hoje, na véspera de Natal, me senti na pele do próprio Cris.
Fui acordado de susto pelos meus pais, tendo que sair, assim, do meu maravilhoso sonho em que eu estava nas nuvens com uma anja em uma praia paraibana. Eles diziam sem parar:
- Tu tomou a cerveja do Natal! Mas como? Assim não dá! Era a cerveja do Natal.
Mal tive tempo de formular alguma resposta plausível, e ouvi minha irmã:
- Vai nos A.A., eles são bem legais...
Porra. “A.A. na tua bunda”, ainda retruquei. Respirei fundo e não adiantou dizer que iria comprar mais cerveja para repor a cerveja do Natal, para acalmar meus pais. Já minha irmã, só restou mandar ela tomar naquele lugar com os A.A. dela, enquanto ela ria da minha desgraça.
Depois do almoço, minha irmã foi deitar, e minha mãe me pediu para que eu lavasse a louça, que meu pai a secaria.
- E a Cartolina? – indaguei.
- Estou pedindo pra ti – respondeu minha mãe.
E assim, lavei a louça e meu pai a secou, enquanto minha irmã ficou lá, atirada, olhando suas unhas recém pintadas. Que cosa.
Depois,eu estava estirado no sofá, lendo “A dama das camélias”, quando meu pai veio dizer que eu não tinha lavado toda a louça, que faltava o liquidificador. Pouco depois, a mãe veio brigar que eu teria molhado o banheiro, o que não é verdade, pois foi a Cartolina com a sua vasta cabeleira. Mas não importa, eu sou o bode expiatório, bem como o Cris. Já passei por isso profissionalmente uma vez, no meu primeiro emprego na área de jornalismo, onde tudo o que acontecia de errado era culpa minha, mesmo que eu nem estivesse no local do crime.
Enfim, como não tenho mais saco para isso (a não ser para observar e dar risada), abri uma latinha de cerveja e segui lendo a “Dama das camélias”. Depois eu compro mais cerveja.
Feliz Natal a todos.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Aos sogros

Para os sogros do Brasil não ficarem com ciúmes da homenagem feita às sogras anteriormente, segue uma figura para eles:

Qual é?

Como estou cansado para escrever, apelo para as figurinhas, que vezemquando representam com perfeição o que a gente está sentindo... Agora, cabe ao leitorinho escolher qual é a melhor das 10 opções (quem votar concorre a um carro no final do ano):

1)

2)

3)

4)

5)

6)

7)

8)

9)

10)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O sertão do Rio Grande

Santo Ângelo e as Missões estão se transformando, ano a ano, no sertão do Rio Grande do Sul. Inclusive, quando conheço alguém de fora e perguntam de onde eu sou, respondo:
- Sou de Santo Ângelo.
- Ãhn?
- Fica do Rio Grande do Sul.
- ....
- É na região das Missões.
- [!?].
- Enfim, é uma espécie de sertão do Rio Grande do Sul...
- Ah...
Na minha humilde opinião, além de estar completamente estagnada, a nossa região ainda está apresentando cada vez mais outras semelhanças com o sertão nordestino. Primeiro, o calor no verão. A impressão que se tem, nos dias mais quentes, é que estamos no inferno. Você derrete até para pensar, então, é melhor não pensar. A partir disso você passa a entender a fama de preguiçoso dos baianos: num calor desses não dá vontade de fazer nenhum esforço físico. O problema é que aqui, como no sertão do Nordeste, não temos praia. Há dias em que não há vento algum. O clima varia entre seco e abafado. O ar que sai do ventilador é quente. Enfim, sorte de quem tem ar condicionado e pode deixá-lo ligado o dia inteiro...
Outra semelhança do nosso sertão com os demais é a nossa cultura. Entenda-se aqui cultura como hábito de um povo, e não cultura no sentido de produção artística elitizada. Muitas pessoas pensam que, por terem um pouquinho de dinheiro a mais que a média ou por terem se safado no passado de alguma falcatrua feita, estão acima da lei e dos outros. Dia desses, por exemplo, vinha eu transitando de carro pela Getúlio Vargas quando, de repente, um careca se enfiou na frente do carro, fez sinal para eu parar, e atravessou a rua, como se fosse um coronel nordestino. Meti a mão na buzina e observei pelo retrovisor ele entrar numa camionete cinza. Detalhe: ele não atravessou a avenida na faixa de segurança, o que lhe daria o direito de se enfiar na frente do carro. Não senhores. Ele atravessou a rua, obrigando-me a parar numa das avenidas mais movimentadas de Santo Ângelo, porque ele acha que tem mais poder do que os outros. Ele se julga uma AUTORIDADE. E, mesmo que fosse uma autoridade, ele não teria o mínimo direito de passar por cima da lei e dos outros. Da próxima vez vou passar por cima é da careca dele...
Esse é apenas um exemplo, porque todos os dias, basta sair de casa para observar isso: gente querendo furar a fila, motoristas não parando na faixa de segurança, pessoas com dinheiro cometendo crimes ambientais, mantendo terrenos cheios de lixo e usando a calçada na frente de casa, um espaço público, para uso particular, carros estacionados em cima da calçada, etc. Santo Ângelo está virando uma terra de ninguém, onde manda quem tem mais dinheiro e, se continuar assim, voltará ao tempo do coronelismo acéfalo.
Ah, isso sem esquecer a falta de emprego. Cada vez mais os jovens daqui partem para Santa Maria, Porto Alegre, Serra Gaúcha, Santa Catarina, etc, da mesma forma que os nordestinos do sertão fogem para São Paulo. Muitas vezes não é por não gostarem daqui, mas sim, por não encontrarem nenhuma oportunidade.
Que esses últimos dias de 2010 iluminem os pensamentos de todos: autoridades e não-autoridades, para que em 2011 a situação comece a se inverter no sertão do Rio Grande do Sul.
Um feliz Natal a todos.
*Texto que publicado em A Tribuna Regional.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Triângulo das águas

Acabei de ler, minutos atrás, Triângulo das Águas, do Caio Fernando Abreu. Estou lendo pra caralho para tentar elevar as estatísticas de que brasileiro lê pouco: estou lendo por mim e pelos vagabundos leitorinhos que lêem nenhum, um ou dois livros por ano. Vamos ver se elevamos um pouco mais essa média, apesar de ninguém nunca ter me entrevistado perguntando quantos livros leio por ano...
Enfim, terminei de ler Triângulo das Águas, vencedor do Prêmio Jabuti de 1984. São três novelas, sendo que, nas duas primeiras, considerei o texto como uma espécie de poesia em prosa. Trata-se de um punhado de idéias e misticismos colocados em meio a acontecimentos confusos. Admito que, após terminar a segunda novela, quase desisti de ler o livro, pensando “esse é o livro mais viajandão do Caio, e possivelmente o pior”. Entretanto, a última novela, intitulada “Pela noite”, que é a maior das três, salva a obra. Creio ainda que foi graças a ela que Caio Fernando Abreu ganhou o Jabuti de 1984.
Não vou tentar explicar o inexplicável aqui (afinal, poesia não se entende, se sente) dos dois primeiros textos. Vou direto ao terceiro. Trata-se de uma história de dois caras que praticamente não se conhecem, e que resolvem passar a noite juntos (conversando, passeando, e não fazendo aquilo que o malicioso leitorinho está pensando). O relacionamento deles, que logo se percebe que é gay, sim, acaba englobando questões que, na verdade, se aplicam aos casais homossexuais, heterossexuais, pamsexuais, e por aí vai. Enquanto um dos caras viveu dois relacionamentos de longo prazo (um com uma menina, que durou 6 anos, e outro com um cara, que durou 10 anos), o outro nunca namorou firme com ninguém, sendo um legítimo “deixa a vida me levar”, ficando, no máximo, um ou dois meses com a mesma pessoa. Apesar das diferenças, vai pintando um clima entre os dois, que começam a noite no apartamento de um deles, vão para um restaurante heterossexual e dali vão para um lugar gay e assim segue a noite. Aliás, durante a saída, eles acabam vivendo várias etapas de relacionamentos: conhecimento mútuo, discussões, reflexões, ciúmes, brigas, cenas novelescas, silêncios, etc. Inclusive, numa breve separação dos dois, no meio da madrugada, em uma balada, um deles pensa:
“Desejou que ele estivesse logo de volta, para dizer coisas sem sentido, para se mexer, para ferir e ferir-se, para sorrir de lado, esfregar as mãos fazendo estalar as juntas dos dedos, uma saudade prévia, para ficar perto e fazê-lo rir de susto, de prazer, etc”. Por isso que, independente da opção sexual de Caio, ele acaba englobando sentimentos e relacionamentos que são comuns a todos os tipos de casos, namoros, ficadas, casamentos, separações, etc. E é por isso que ele é um escritor universal.
Bom, findado esse livro, vou tirar no cara ou coroa o próximo, que pretendo ler até o final de semana: “O jogador”, de Dostoiévski, ou “A dama das camélias”, de Alexandre Dumas Filho. Provavelmente eu opte, ainda hoje, pela segunda opção.
Salve, salve Brasil!
Hasta!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sonho de nenê

Bom, como o vagabundo leitorinho está de férias e não tem paciência para ficar sentado na frente do computador em pleno calor do verão, fico eu escrevendo para mim mesmo, numa espécie de terapia auto-curativa da minha sanidade mental.
Tenho três tópicos para escrever, mas vou postar em três textos diferentes, para não chatear o chato leitorinho. O primeiro é sobre o sonho dos nenês. Na verdade, transformarei os dois próximos em textos de ficção, para ficar menos ofensivo às partes envolvidas. Mas fica aqui, explícito, que não são textos de ficção, ou melhor, são textos semi-ficcionais, com pitadas duduzianas de imaginação. Enfim, voltemos aos sonhos dos nenês...
Nessa madrugada, lá por 3 e meia, estava com minha pequena no colo e fiquei observando suas expressões faciais. Que cosa. A bichinha estava sonhando. Enquanto respirava a mil por hora (af, af, af, af), como se estivesse correndo, ela dava um sorrisinho. O sorriso dura, digamos, cinco segundos, o suficiente para que eu fique rindo muito olhando para ela. Depois, de repente, ela faz umas caretas, e, sem mais nem menos, ela começa a fazer o movimento com os lábios como se estivesse mamando na teta da mãe dela. Ou seja, devido a isso, penso que ela sonha que está mamando. Entretanto, quando ela volta a sorrir, penso que ela está sonhando que está conversando com a sua teta, que é o mundo dela, até aqui. Porém, quando faz as caretas, ela deve sonhar que alguém quis roubar a sua teta. Vezemquando ela está lá, dormindo, fazendo mil e uma caretas e volta e meia dando umas risadas muito engraçadas, quando de repente, ela abre bem a boquinha e solta um”iiiiiaaaahhhhhh” e então da uma choradinha, bem alta, como se tivesse levado um susto, esticando rapidamente as pernas e os bracinhos. Eu beijo a sua testa e, sem abrir os olhos em nenhum momento, ela volta a fazer as milhares de caretas, e segue dormindo, rindo e resmungando.
Caraca, só com uma visão como essa para, ao invés de sentir sono e cansaço no meio da madrugada, sentir uma satisfação imensa vendo aquele rostinho miúdo rindo de olhos fechados em meus braços. O quê eu não entendo é como tem gente que, mesmo sendo pai ou mãe, não sente essa satisfação. Que cosa!

sábado, 18 de dezembro de 2010

O gosto da guerra

No meio tempo em que comecei a ler o “Triângulo das águas”, do Caio Fernando Abreu, como referi em outro post, e a minha ida e volta para Porto Alegre, para entregar a dissertação do mestrado, comecei e terminei de ler “O gosto da guerra”, de José Hamilton Ribeiro. Peguei esse livro na biblioteca da Puclândia. O negócio é o seguinte: zanzei pelas prateleiras cheias de livros, nas partes de literatura, comunicação e jornalismo, e catei alguns livros, entre eles, esse do Zé Hamilton. Já tinha lido uma resenha sobre ele na Revista Imprensa, anos atrás, porém, dicas como essa não esquecemos tão facilmente.
Trata-se de um livro curto (125 páginas) com letras grandes, para facilitar a vida do vagabundo leitorinho, e de linguagem fácil. Também é esclarecedor para aqueles que, como eu, não têm grande conhecimento sobre a Guerra do Vietnã. Trata-se de uma mini-aula sobre jornalismo, entretanto, fiquei pensando depois: “pô, se o Zé Hamilton não tivesse pisado naquela mina e perdido a perna, ele teria sido apenas mais um correspondente de guerra desconhecido, e hoje, talvez, eu nunca teria ouvido falar dele. Ou até teria, mas não ao ponto de me interessar em ler um livro seu...”. Maluco leitorinho, dessa vez tive que concordar comigo mesmo. A perna perdida no Vietnã fez a fama e formou a aura que se criou em torno de Zé Hamilton. Foi àquela perna que o transformou num dos maiores nomes do jornalismo brasileiro contemporâneo. Graças à perna, que Zé pôde contar, de uma forma que você devora o livro em um ou dois dias, o que é ser uma pessoa gravemente ferida, em um hospital precário, em meio a uma guerra. Entretanto, como Zé Hamilton destaca no próprio livro, ele não voltaria atrás. E, apesar dos pesares, o mérito não é todo da perna, pois se o dono da perna não tivesse a capacidade que Hamilton tem de escrever, ela teria ficado abandonada em um matagal de um campo de guerra, da mesma forma que outras, anônima.
Como em outros livros, poderia transcrever aqui todas as palavras de Zé Hamilton para mostrar ao leitorinho a qualidade da obra, entretanto, como jornalista, vou destacar aquela em que ele faz uma reflexão sobre a atividade:
“O que leva um jornalista a uma cobertura de guerra ou a uma situação de perigo, um pouco é vaidade; um pouco é espírito de aventura; um pouco é ambição profissional; e muito, mas muito mesmo, é a sensação, entre romântica e missioneira, de que faz parte de sua vocação estar onde a notícia estiver, seja para ali atuar como testemunha da história, seja para denunciar o que estiver havendo de abuso de poder (político, psicológico, econômico, militar), seja para açoitar a injustiça, a iniqüidade e o preconceito. Após tudo isso, uma pitada de falta de juízo”.
E, como diria o Gaguinho: po-po-por hoje é i-i-isso pessoal!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A arte de secar

Como estou na correria de finalização de dissertação (entrego tudo amanhã), vou postar aqui o texto que enviei para o JM de sábado e, atendendo ao pedido do meu primo Gérson Alemão, coloco a foto do goleiro do Mazembeeeeee!!! Segue o texto:


Secar, no futebol, é uma arte. Não basta simplesmente assistir ao rival perder, tem que torcer, ficar nervoso, vibrar e comemorar a derrota alheia. Durante boa parte da década de 1980 e durante toda a década de 1990 os colorados foram especialistas nisso. Compraram camisas do Palmeiras do Luxemburgo, do Corinthians do Marcelinho Carioca, do Flamengo do Romário, do Nacional de Higuita e Aristizabal, do Ajax de Kanu, Finidi, Litmanen, Davids, dos irmãos De Boer e Cia, e por aí vai. Dia desses, numa estação de ônibus aqui em Porto Alegre, cruzei com um cara que estava vestindo a camisa do Ajax de 1995... Murmurei comigo mesmo “aguarde...”.
E, como diria o Renato Russo, quem acredita sempre alcança. Aprendemos com os colorados a arte de secar. Admito que começamos de forma mal-sucedida. Em 2006, não adiantou secar o Inter contra o Barcelona. Mas nos aprimoramos nessa arte, afinal, o artista não nasce feito, ele precisa praticar para tornar-se efetivamente um artista. E eis que, depois de secarmos com inigualável sucesso o Goiás contra o Independiente, fizemos, na última terça-feira, em todas as cidades do Rio Grande do Sul, a maior secação da história do futebol mundial, e, graças a essa arte e a incompetência do Celso Roth e seu time, que demonstrava há tempos uma mediocridade bisonha, o Inter perdeu para uma equipe semi-amadora e desconhecida da República do Congo! Mazembe ou Mabemze? Benzer? Talvez, se tivessem benzido os colorados a história teria sido diferente...
Em Porto Alegre, foi um festival de carros buzinando, gremistas gritando Mazembe, e colorados andando pelas ruas, enrolados em bandeiras, com os olhos vermelhos, andando feito baratas tontas, sem saber para onde ir. Inclusive, antes da bola rola já tinha visto dois ou três zanzando com a camisa preta e branca do Mazembe. Esse é o novo sucesso dos muambeiros da capital.
Enfim, independente de quem foi o culpado (Roth, direção, jogadores), o fato é que o Inter segue fazendo história: pela primeira vez o Mundial Interclubes não terá um sul-americano na final. Não há como negar que esse é um fato que ficará para a história.
CORNETA – Às vezes a gente arrisca a perder o amigo para não perder a piada. Dessa vez, em meio à imprensa santo-angelense majoritariamente colorada, arrisco perder a coluna, mas não vou perder a corneta. Os colorados achavam que tinham duas possibilidades nesse Mundial. Na primeira, eles seriam bicampeões mundiais e passariam o Grêmio: duas Libertadores e dois mundiais colorados contra duas Libertadores e um mundial gremista. Na segunda hipótese, eles se igualariam ao Grêmio: duas Libertadores, um mundial e um vice-mundial para cada um. Entretanto, como no futebol há um infindável número de possibilidades, eles conseguiram o que parecia impossível: permanecer atrás do Grêmio. Com o Inter perdendo nas semifinais, o Grêmio segue na frente. Agora são duas Libertadores gremistas, um mundial e um vice-mundial contra duas Libertadores coloradas e apenas um Mundial! Tu vês.
Um bom final de semana a todos. E, como a língua oficial do Congo é o francês: Au revoir!

* Texto que será publicado no Jornal das Missões deste sábado.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

MAZEEEEEEMBEEEEEE

MAZEEEEEEEEEEEEEEEMBEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE



sábado, 11 de dezembro de 2010

O Maradona da literatura

"E têm o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda".
A frase acima, segundo minha irmã, é de Caio Fernando Abreu, e resume bem alguns de meus objetivos de vida. Já li três livros do Caio: Morangos Mofados, Pequenas Epifanias e Ovelhas Negras. Os dois primeiros retirados em bibliotecas e o terceiro é do meu irmão. Por isso, infelizmente, não tenho em mãos nenhuma citação do Caio, fora essa, emprestada por minha irmã.
Considero o Caio um dos escritores mais injustiçados do Brasil, em termos de reconhecimento. Usei alguns trechos desses três livros na minha monografia de graduação e na dissertação de mestrado, além de entrevistas concedidas por ele. Considero-o um craque da literatura brasileira, com uma categoria quase incomparável. Manja aquele jogador que todos dizem que pegam a bola na veia? Pois então, as palavras de Caio sempre pegam na veia, usando uma linguagem esteticamente impecável, mesmo quando usa palavrões. Trata-se de um Maradona da literatura. Não chega a ser rei, mas é príncipe.
Estou falando de Caio Fernando Abreu, pois estou ansioso por começar a ler o livro Triângulo das Águas, que comprei na Feira do Livro de Porto Alegre. Esse livro foi o vencedor do prêmio Jabuti de 1984. Após dias de mergulho no mundo exótico da já referida “A mulher do próximo”, faltam apenas 6 páginas para concluir essa obra de Gay Talese. Depois disso, é “Triângulo das águas” na veia.
Hasta!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Muchas gracias!

Podemos imaginar a cena: Renato Gaúcho em Ipanema, segurando um copo de chope com uma mão, enquanto coça a cabeça, nervosamente, com a outra. O Independiente começa bem o jogo e ele logo se empolga, comentando com um amigo sentado ao seu lado: “essa zaga do Goiás é fraca, tá pra nós”. Pouco depois, após um rebote do goleiro Harlei, do Goiás, Velazquez toca para o fundo do gol. Renato se levanta, abraça os amigos, ergue os braços com os pulsos cerrados, como se fosse um simples e animado torcedor gremista sentado em uma cadeira do Canecão, em Santo Ângelo. Porém, quando tudo parecia que seria mais fácil do que o esperado, Rafael Moura empata. Renato suspira. Por um momento, pensa que a vaga de seu time para a Libertadores está sumindo igual ao chope que estava há pouco em seu copo. Minutos depois, nova redenção: dois gols de Parra, ainda no primeiro tempo, voltam a transmitir a ilusão de que o título do Independiente seria conquistado com facilidade.
Veio o segundo tempo, e Renato não acreditava no que via: era o Goiás quem dominava as principais ações em campo e criava as situações mais claras de gol. Nos últimos minutos, ele já torcia para que o árbitro terminasse logo o jogo. Na prorrogação, a angústia seguiu intensa, assistindo ao Goiás meter uma bola na trave e ter um gol anulado. Era algo surreal aquela decisão. Quando acabou a prorrogação, Renato soltou mais um suspiro, dessa vez num misto de alívio com desespero.
Enquanto não iniciavam as cobranças de pênaltis, Renato toma cinco canecas de chope e esquece de tudo ao seu redor: só pensa que quando tudo acabar vai beber pra comemorar ou pra esquecer. A ressaca do outro dia será de satisfação ou de amargura. Quando começam as cobranças, os gols do Independiente são comemorados com gana, e os do Goiás são lamentados com um aperto forte no peito. Entre o tempo em que Felipe chutou na trave e Tuzziu fez o gol do título, Renato pensou em toda a sua vida.
Primeiro, lembrou da sua mãezinha, que falecera no início do ano em Bento Gonçalves. Depois, sentiu um frio na barriga ao lembrar a derrota que sofreu para a LDU em uma final de Libertadores quando treinava o Fluminense. O frio na barriga aumentou ao lembrar que esse mesmo Independiente tirou o título da Libertadores do Grêmio em 1984. Porém, começou a se reanimar ao lembrar as atuações gloriosas vividas pelo tricolor nos títulos da Libertadores e do Mundial de 1983. Mas a empolgação aumentou mesmo a partir do momento em que, num flash de imagens rápidas, passou todos os orgasmos que ele teve com as cerca de 5 mil mulheres com quem ele afirma ter transado até hoje. Eram expressões faciais e gemidos de rostos brancos, pretos, amarelos, cabelos curtos, longos, lisos, crespos, loiras, ruivas, morenas, japonesas, altas, baixas, gordas, magras, gostosas, casadas, solteiras, divorciadas, namoradas, noivas, ninfomaníacas, enfim, todo o tipo de fêmea. E ele sentia que no momento em que a bola do título do Independiente entrasse, o êxtase que ele sentiria seria talvez maior do que muitos daqueles orgasmos. E foi assim que Renato comemorou intensamente o título dos argentinos.
No outro dia, de ressaca, depois de ter feito sexo loucamente com sua esposa até perto do meio-dia (ou com outra, vá saber...), Renato atende ao telefone e atende a um jornalista, declarando: “Hoje estou feliz: a luzinha no fim do túnel se tornou um sol”. E ao desligar o telefone, e olhar pela janela o sol radiante que estava na praia, ele lembrou de uma castelhana que fez loucuras com ele após um jogo contra um clube argentino, e murmurou: “muchas gracias, hermanos e hermanas”.
Um bom fim de semana a todos e uma “boa” estréia no mundial para os colorados na terça.

* Texto que será publicado no Jornal das Missões deste sábado.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A mulher do próximo – O retorno

Como prometi, vou explicar brevemente o motivo do livro de Gay Talese se chamar “A mulher do próximo”. Como destaquei em outro post, até a página 100, Talese fica falando mais da questão da censura literária contra a pornografia, nas décadas de 1940 e 1950, e a história do fundador da Playboy. Depois, como diriam os Mamonas, é que começa a baixaria. Mas é uma baixaria sem palavrões. É na categoria.
A partir de então, ele passa a contar histórias de comunidades de amor livre, onde ninguém é de ninguém, nos Estados Unidos da década de 1960. Vou resumir uma das histórias mais interessantes, mas com as minhas palavras e minha linguagem não tão delicada quanto a de Talese.
Um cara, chamado Mularo, era casado com uma mulher, chamada Judith. Antes de chegar a esse ponto, Talese já contou toda a história da vida deles, inclusive, o primeiro casamento de cada um. Mas enfim, Mularo e Judith são casados e têm filhos. Mularo é o típico pai de família, conservador sob certo aspecto, e que pega mulheres por fora. Até que ele começa a ter um caso com Barbara. Nesse momento do livro, Barbara é solteira. Entretanto, numa dessas, ela conhece John Williamson, e casa-se com ele. Para facilitar a vida do leitorinho brasuca vou chamá-lo apenas de John (João já é demais!). Enfim, a partir disso, Barbara deixa de ver Mularo. Ele até insiste, telefona, etc e tal, mas nada. Até que um dia, Barbara liga para Mularo e os dois vão para um motel. O tempo passa, e eles seguem se vendo, e Barbara vai explicando para Mularo que está em um casamento aberto: ou seja, ela pode sair e dar para quem quiser, e John idem. Aliás, a filosofia foi proposta pelo próprio John. Mularo não acredita muito no papo, mas enfim, segue comendo Barbara. Nessas alturas do livro, Talese já contou o passado de todos os envolvidos e seus relacionamentos anteriores, de seus descendentes, etc.
A história vai indo, até que um dia John liga para Mularo, que se caga de medo. Marcam um almoço. No trajeto, ele acha que John vai querer matá-lo por estar comendo sua mulher. Entretanto, John não só aceita a situação e acha bom, como convida Mularo para visitar o “grupo de encontros” que ocorria em sua casa. Mularo pensa então: “por que não?” e acaba indo, achando-se o cara mais esperto do mundo. A coisa toda vai indo, Mularo acha o encontro o máximo, porque ele pode comer as mulheres que participam dos encontros, e que geralmente estão nuas pela casa. Nesse momento, ele acha que a sua vida está perfeita: está comendo um monte de gente, Judith nem desconfia da zona toda e assim a coisa vai indo. Porém (sempre tem o porém) numa bela tarde, John liga para Mularo, mas é Judith quem atende. John convida Judith e Mularo para jantarem em sua casa, e Judith topa, achando que é um jantar em família. Mularo fica desesperado, mas não sabe como cancelar o jantar, porém, tem a idéia de prevenir a esposa sobre os encontros, dizendo que “ouviu falar no escritório que as pessoas ficam nuas na casa de John”. Judith acha o papo ridículo, e eles vão ao jantar.
Ao chegarem à casa de John, uma surpresa: estão todos vestidos e agindo normalmente, conversando sobre trivialidades da vida, etc. No meio do jantar, Judith diz algo como “e o Mularo que disse que no escritório falaram que vocês ficavam pelados! Rará! Vejam vocês....”. E todos na mesa se olham com cara de Garfield e respondem: “mas nós ficamos pelados...”. A partir daí, tudo é contado para Judith, que é descrita como uma mulher, até então, conservadora. O caso de Mularo com Barbara e as outras aventuras sexuais são revelados em todos os detalhes. Judith entra no embalo e conta que já traiu Mularo com um negão. John propõe para que o casal participe do grupo de amor livre, que vai contra a idéia de posse causada pelo matrimônio e defende a idéia de liberdade para a felicidade. Mularo se desespera com a situação, mas Judith, sem ter o que perder na história, aceita. Para testar a sinceridade de Judith, John manda uma mulher gostosa ir com Mularo para o quarto, e lá, eles transam. Quando a gostosa começa a gemer, Mularo ouve o choro de Judith na sala ao lado e brocha. Depois ele se recupera, e termina o serviço.
Tudo está meio maluco, até que num outro encontro Mularo recebe contragolpe. Ao sair do quarto em que estava com uma mina, vê John transando com Judith no meio da sala. A cena é traumatizante, e Mularo pensa em matar John, mas, com o desenrolar da história, desiste da idéia. Depois, resumindo, Judith se apaixona por John, para desespero de Mularo, que só quer Judith e mais ninguém.
Enfim, vou parar por aqui, senão vou contar todo o livro. Porém, vale lembrar, que essa e as outras histórias são reais, inclusive com os nomes verdadeiros de todos os envolvidos. Pronto, preguiçoso leitorinho. É isso. Hasta!

Os falsos cristãos

Quando fiz a Primeira Comunhão e Crisma, no primeiro semestre, aos 28 anos, sob a benção do padre Rosalvo, tive que ouvir algumas piadinhas de falsos cristãos, que foram batizados quando eram bebês, fizeram a catequese, primeira comunhão e crisma quando eram crianças, mas que, em suas vidas, fazem tudo ao contrário do que está dito na Bíblia (aliás, desconfio que nunca a tenham lido). Velhas mal-amadas, que enchiam a boca para falar “é muita falta de vergonha na cara fazer a Crisma nessa idade”, pela própria afirmação, já estão julgando e, assim, ficando a mercê para serem julgadas, afinal, não foi Jesus quem disse: “não julgues para não ser julgado”? Mas que nada, elas e seus parceiros já nasceram abençoados e santificados, portanto, eles julgam todo mundo e não precisam seguir os ensinamentos da Bíblia (para os que têm atraso de raciocínio: estou sendo irônico). Entretanto, esses candidatos a palhaços amadores são os primeiros a rezar, fazer mil promessas e novenas quando estão em aperto. Fica a pergunta: a quem estão querendo enganar? A Deus? Acham que podem enganar Deus, no dia-a-dia amando as coisas materiais, julgando os outros, condenando todo mundo sem conhecimento de causa, tendo preconceito contra negros, judeus, trabalhadores pobres? Esses sim, não têm vergonha na cara.
Agora, esses mesmos conservadores, falsos cristãos, passaram por mais ritos religiosos. Vamos entrar num assunto delicado. Matrimônio. Aqueles que disseram “mas que falta de vergonha fazer a crisma com quase 30 anos” (Jesus foi batizado aos 27 anos), são os mesmos que querem acumular cada vez mais dinheiro e são os mesmos que têm filhos fora do casamento, uma amante em cada ponta do Rio Grande e que matam cachorro a chute. São os mesmos que fazem filho, mas, além de não dar educação, pois o único ensinamento que lhes transmite é o da ganância, e que depois se negam a ajudar-lhes e, ainda por cima, enxergam os seus entes como empregados.
Vejamos o que está na Bíblia sobre a questão do materialismo no capítulo 36 de Jó, entre os versículos 18 e 21:
“Não se deixe seduzir por um presente, nem se perverter com rico suborno. Por acaso, no perigo, suas riquezas e posses valerão alguma coisa diante de Deus? Não esmague pessoas estranhas, para colocar seus parentes no lugar delas. Cuide em não se voltar para a injustiça, porque é por causa dela que você foi provocado através da aflição”.
Curiosamente, aquelas pessoas que observo serem as mais injustas e arrogantes, as que mais chamam todo mundo de vagabundo, são aquelas mais mal-humoradas. Estão sempre com cara de quem chupou limão podre, nunca admitem quando erram e, ainda por cima, julgam e condenam todo mundo. “Só eu trabalho para sustentar o resto do mundo, formado por vagabundos” é o lema de vida dessas pessoas, que, geralmente, são as mais conservadoras. Os que condenam a infidelidade têm uma dúzia de amantes. E quando alguém lhe sugere a separação, eles logo respondem “bah, mas e o que vão falar por aí?”. Pfff. Como se ninguém soubesse das suas calhordices. Os que condenam os políticos corruptos são os primeiros a tentar sonegar impostos de alguma forma e tirar vantagem ilícita de tudo, inclusive, trazendo muamba do Paraguai sem pagar impostos. Os que condenam os vagabundos são os primeiros a quererem pessoas trabalhando para eles sem receber um valor minimamente justo. E quando um pobre vagabundo fica rico, ele deixa de ser vagabundo para ser um visionário. E então, os conservadores falsos cristão são os primeiros a lamber o saco do novo rico, louco para beber todo o seu esperma, e a dizer para todo mundo “eu sempre acreditei nele”.
Deus ensinou a não sermos vingativos, mas que dá vontade de no próximo trago da minha vida mijar na porta da casa dessas pessoas, a isso dá! Amém.

Texto que será publicado em A Tribuna nessa semana, se não for censurado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sonho frustrado

Uma lembrança de infância que tenho viva no escaninho de minha memória é o desejo que eu e meu primo Alemão tínhamos de ser palhaços. Segundo meu primo Alemão, isso é fruto de minha imaginação e das conversas que tive com as vozes que me assombraram no início do ano. Já meu irmão garante ser testemunha ocular e auditiva de tal sonho profissional não-realizado. Entretanto, meu primo Alemão considera meu irmão uma fonte pouco confiável quando se trata de assuntos relacionados à nossa infância. Já minha irmã diz que nós estamos nos esforçando ao máximo para atingir esse objetivo, se é que já não atingimos.
Apesar dos pesares, acho que a classe deve ter melhorias com a eleição do Tiririca para deputado federal e espero que ele defenda a categoria no legislativo. Outra esperança é que ele abra as portas para que outros palhaços entrem no circo de Brasília, pois vá que um dia eu consiga realizar esse sonho de infância ainda frustrado...

Mundo animal

Estava lembrando, dia desses, dos meus tempos de colégio. Poi Zé. Além do já referido jogo do Grêmio que ouvi pelo rádio durante a aula de Matemática, lembro que naquele mesmo 1995, quando estava na 8ª série, surgiu os Mamonas Assassinas. Foi uma febre como nunca vi igual: todo mundo só falava dos Mamonas e só ouvia suas músicas. Roqueiros, desligados em música, baderneiros do fundo, nerds, enfim, todo mundo queria ser o primeiro a ter o CD e a decorar as letras das músicas dos Mamonas. Então, lembrei, como era um aluno relapso. Lembro até hoje que, durante a aula de inglês, enquanto a professora fazia um ditado, eu estava com a capa do CD dos Mamonas, copiando a letra do Mundo Animal. Depois, em casa, com a letra copiada no caderno, tentava decorá-la. Vejam vocês. Para matar a saudades, posto aqui a linda letra do Mundo Animal:

Atenção Creuzeback,
Creuzeback meu filho
Vamos lá que vai começar a baixaria

Comer tatu é bom
Que pena que dá dor nas costas
Porque o bicho é baixinho
E é por isso que eu prefiro as cabritas
As cabrita tem seios
Que alimentam os seus descendentes
No mundo animal
'ixéste' muita putaria
Por exemplo, os cachorro
Que come a própria mãe,
Sua irmã e suas tias
Eles ficam grudados
De quatro se amando
Em plena luz do dia.

Os animal, tem uns bicho interessante
Imaginem só como é o sexo dos elefantes
E os camelos que tem as bolas em cima das costas
E as vaquinhas que por onde passam
Deixam um rastro de bosta.

As pombas quando avoam
Por incrível que pareça
Ficam sobrevoando, com seu cu mirando;
Em nossas cabeças
Daí vem a rajada de sua bazuca anal
Já tem pomba com mira a laser
O tiro sai sempre fatal

Totalmente beautiful
As baleias no oceano
Nadando com graça
Fugindo da caça
Dos homens humanos
O homem é corno e cruel
Mata a baleia que não chifra e é fiel.

Os animal tem uns bicho interessante
Imaginem só como é o sexo dos elefantes
E os camelos que tem as bolas em cima das costas
E as vaquinhas que por onde passam
Deixam um rastro de bosta.

A mulher do próximo - versão duduziana

- Tu mereceu, filho da puta.
Émerson sussurrou essa frase ao pé do caixão de Rodrigo, seu melhor amigo. Aliás, além de amigo, era o grande ídolo de Émerson desde a infância. Agora o traste estava ali, com os olhos serenamente fechados, a pele amarelada, dois algodões enfiados no nariz, completamente imóvel e sem vida. Enquanto uma lágrima caía dos olhos, ele murmurava baixinho para si mesmo e para o morto:
- Tu mereceu, filho da puta.
Lembrou de quantas vezes avisou o amigo que qualquer hora ele iria se dar mal. Tudo começou quando os dois tinham 15 anos. A mãe de Rodrigo contratou uma doméstica de aproximadamente 30 anos. Enquanto Émerson se contentava em espiar de longe as pernas torneadas da mulher, Rodrigo, que já demonstrava ter o tino pro negócio, não precisou fazer esforço algum para baixar a saia dela e penetrá-la no sofá, enquanto ela gemia “isso, isso”. Foi a primeira mulher casada que Rodrigo traçou. Depois dela, vieram muitas. E sempre Émerson prevenia o amigo: pára com isso, filho da puta. Qualquer hora tu vai se dar mal”. Por isso ele não se cansava de repetir na beira do caixão de Rodrigo a mesma frase:
- Tu mereceu, filho da puta.
Não era uma frase agressiva para os amigos, pois eles sempre se tratavam por filho da puta. E, sempre que ouvia Rodrigo contar que havia “traçado a mulher” do Ciclano ou do Beltrano, ele avisava: “quando te pegarem, infelizmente não vou poder te vingar, porque se tu traçasse alguma mina minha eu te enfiava uma bala na cabeça”. Os dois sempre riam juntos dos avisos de Émerson. Ao longo da vida, Rodrigo traçou a própria empregada, aos 15 anos, a empregada da família do Émerson, que também era casada, a professora de espanhol do colégio, a servente da escola, as enfermeiras do hospital quando algum idoso da família era internado, as vizinhas, enfim, tratava-se de um galã não descoberto pela mídia que atraía, como o Dom Juan do filme, a atenção das mulheres, principalmente as maduras. Quando iam às festas, os olhares femininos se concentravam em Rodrigo, que, curiosamente não tinha desejo em ficar com as garotinhas inocentes e românticas da sua idade. Ele queria mulheres que soubessem do negócio, e, para saber do negócio, na concepção de Rodrigo, tinha que ter experiência. “E quem tem mais experiência que uma mulher casada?”, dizia sempre para o amigo. Dessa forma, ele foi crescendo e se desenvolvendo enquanto adulto. Até suas primas, depois de casadas, entravam para o cardápio de Rodrigo. A tia paterna mais nova, logo que se separou, caiu na rede também. Só não comeu a mãe de Émerson porque ela ultrapassava a faixa etária do radar de Rodrigo, que não pegava mulher com mais de 45 anos, idade da sua mãe. E só não pegou nenhuma irmã de Émerson, porque ele era filho único. Mas as primas de primeiro, segundo e até terceiro grau entraram para a lista. A maioria delas casadas, noivas ou namoradas.
Até que um dia, quando voltou da festa de aniversário de 31 anos de Émerson, percebeu que o seu kitnet fora arrombado. Chamou a polícia, mas, como não foi constado nenhum furto, os PMs o orientaram para que passasse a noite em outro lugar e que se percebesse a falta de alguma coisa com o tempo, entrasse novamente em contato. Porém, Rodrigo não deu a mínima para a orientação dos policiais, tomou a Coca de 2 litros que estava aberta na geladeira e foi dormir. No dia seguinte, amanheceu morto. A perícia isolou o local e constatou que havia veneno em todos os alimentos que estavam no kitnet, levantando assim, a forte suspeita de homicídio. Entretanto, eram tantos os cornos que queriam o coro de Rodrigo, que era impossível apontar um suspeito. E agora, no meio de uma tarde de domingo, de ressaca, Émerson não se cansava de repetir:
- Tu mereceu, filho da puta.

FIM

A mulher do próximo

Como pesquisador do tema Jornalismo e Literatura, sentia-me um picareta por ainda não ter lido nada do Gay Talese, um dos autores do New Journalism mais citados e reverenciados da área. Eis que, na minha última ida para a Puclândia, peguei três livros dele: Fama e anonimato, A mulher do próximo, e um outro, que não sei agora o nome porque está no Xerox, mas que conta a história do New York Times. Pois eis que, dois dias atrás, comecei a ler A mulher do próximo.
Confesso que o resumo que está na contracapa da edição da Companhia das Letras é um tanto propaganda enganosa. Pelo que se lê ali, você pensa que são histórias de putaria sobre a libertinagem sexual das décadas de 1960 e 1970, antes do aparecimento da AIDS. Porém, é, como era de se esperar de um autor do New Journalism, uma grande reportagem sobre o tema. Até a página em que estou lendo (130), prevalecem as histórias de editores presos, literatura proibida, movimentos conservadores contra a obscenidade, tudo isso nas décadas anteriores a 1960. Porém, a partir da página 100 se entra na libertinagem propriamente dita, com casos de putaria, mas que Talese descreve sempre suavemente, sem usar palavrões, substituindo, por exemplo, “chupisco” ou “boquete” por “flenar”. Mas não deixa de ser interessante. Na primeira parte, em que ele fica falando bastante da questão das edições e tal, é curiosa a história do fundador da Playboy, que, assim como os nerds do Facebook, antes de ficar rico era um cara fodido que ninguém dava um centavo. Porém, não vou ficar aqui contando a história dele, o preguiçoso leitorinho que vá ler o livro, ora pois.
Entretanto, para o chorão leitorinho não ficar me xingando e se lamuriando, vou colocar aqui o trecho em que Talese faz uma descrição sensacional-reflexiva sobre o pênis. Eu já tinha lido Freud afirmando que toda a mulher corre atrás do pênis perdido e já tinha lido Lawrence, que descreve toda a curiosidade da mulher sobre o membro masculino, mas a descrição de Talese vale igual referência. Vejam vocês:

O homem sente, às vezes, que o pênis o controla, leva-o para o mau caminho, faz que implore favores à noite a mulheres cujos nomes prefere esquecer na manhã seguinte. Seja insaciável ou inseguro, o pênis exige provas constantes de sua potência, introduzindo em sua vida complicações indesejadas e repetidas rejeições. Sensível, mas capaz de recuperação rápida, igualmente disponível dia e noite com um mínimo de persuasão, ele tem se desempenhado com decisão, embora nem sempre com habilidade, por uma eternidade de século, sempre procurando, sentindo, expandindo-se, explorando, penetrando, pulsando, murchando e querendo mais. Sem jamais esconder seu interesse lascivo, é o órgão mais honesto do homem.
É também um símbolo da imperfeição masculina. É desequilibrado, assimétrico, pendente, freqüentemente feio. Mostrá-lo em público é ‘exposição indecente’. É muito vulnerável, mesmo quando feito de pedra: os museus estão cheios de figuras hercúleas com pênis lascados, cortados ou completamente decepados. Os únicos que sobrevivem sem danos parecem ser aqueles desproporcionalmente pequenos, criados por artistas que talvez não quisessem intimidar os órgãos menores que o normal de seus patronos. Na arte religiosa, pênis é muitas vezes representado como uma serpente, esmagada pelos pés da Virgem Maria; desde o século XI, os padres, aderindo ao voto de celibato, têm resistido a sua tentação cobiçosa. A masturbação sempre foi considerada pecaminosa pela Igreja, e há muito tempo recomenda-se um chuveiro frio para os paroquianos solteiros como uma maneira de afogar as primeiras ebulições da ascensão da paixão.
Apesar de a força moral da tradição judaico-cristã e da justiça ter procurado purificar o pênis e restringir sua semente à instituição santificada do matrimônio, ele não é por natureza um órgão monógamo. Desconhece códigos morais, foi projetado pela natureza para o esbanjamento, adora a variedade, e nada, exceto a castração, eliminará seu pendor para a prostituição, a fornicação, o adultério e a pornografia.


E por aí vai, por mais umas duas páginas. Simplesmente sensacional. Para quem vencer a monotonia das primeiras páginas, vale a pena ler esse livro. Quando descobrir mais claramente porque esse livro se chama "A mulher do próximo" conto para vocês. Hasta.

Direto de Milão - by Alemão

O texto que se segue foi escrito pelo meu primo, também jornalista, Gérson Fontoura Dalla Corte [vulgo alemão], que está morando na Itália há 2 anos e três meses e que passa suas impressões sobre a participação da Internazionale no Mundial direto de Milão. Sem mais delongas, segue o texto:

“Uma partida entre Internacional x Internazionale, valendo o mundial de clubes. Pior que isso, impossível, pensaria um torcedor gremista. Mas não tem problema. Pode-se sempre torcer pro Pachuca do México, que parece ser o único clube com chances de estragar a festa de um (ou dos dois) internacionais. Ou, um pouco a contragosto, torcer na final pela squadra italiana.
Já o torcedor colorado pensa somente no homônimo rival italiano que, apesar do nome, carrega nas vestes as cores do rival: azul e preto. Uma motivação a mais. Lembram-se, felizes, de como foi 2006, quando venceram o mais que favorito Barcelona, à época com Ronaldinho, Eto’o e companhia. E têm já a certeza da vitória.
Samuel Eto’o retorna à final, agora com a camiseta da Internazionale. Na última temporada européia, é bom lembrar, o time venceu tudo o que disputou, e a base é a mesma, exceto pela mudança drástica de treinador: no lugar do português José Mourinho, agora no Real Madrid (que perdeu de 5 no clássico com o Barcelona, dias atrás), o espanhol Rafael Benitez, que começou mal a temporada 2010-2011.
Benitez atuou alguns anos como jogador profissional na Espanha, sempre em equipes pequenas. Por causa de um problema no joelho, interrompeu a carreira e decidiu ser técnico. Depois de passar por vários times com altos e baixos, conseguiu o primeiro título espanhol com o Valência em 2002, repetindo-o em 2004, ano em que vai para a equipe inglesa do Liverpool e conquista vários títulos, entre eles a Copa dos Campeões em 2005. Depois de seis anos, chega à Inter.
Football Club Internazionale Milano foi fundada em 9 de março de 1908 por dissidentes do rival Milan – que por ironia do destino tem a cor vermelha no uniforme (talvez o vermelho do time brasileiro também sirva de motivação pra eles). Venceu 18 vezes o campeonato italiano e têm dois mundiais: 1964 e 1965, ambos contra o Independiente. No atual campeonato a equipe demonstra a mesma inconstância do técnico: uma sequência de dois empates com os lanternas e duas derrotas – uma, aliás, no derby contra o Milan – quase custaram a cabeça Benitez. Porém, a classificação antecipada para a próxima fase da Copa dos Campeões, seguida da incontestável vitória contra o Parma por 5x2 deram novo ânimo ao elenco. Embora em quinto lugar, está somente a 7 pontos atrás do líder Milan, com mais da metade do campeonato pela frente.
O técnico Benitez afirmou recentemente que “a participação no mundial é mérito do time, e não do técnico sozinho”, rebatendo os jornalistas que davam todo o crédito a Mourinho. O zagueiro argentino e capitão Zanetti declarou que todos querem muito o título e vão lutar para isso. Zanetti é o companheiro de Lúcio na defesa. Lúcio enfrentará o time que o consagrou pela primeira vez e tudo que os colorados desejam é uma ajudinha do ex-ídolo. Embora o caráter profissional provavelmente prevalecerá.
Enquanto tudo isso os torcedores do Grêmio sonham com o dilúvio no deserto de Abu Dabi...”

Um bom final de semana a todos.

* Texto que será publicado no Jornal das Missões deste sábado.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Diário de um nenê

Olhando minha baby, fico imaginando no que ela está pensando. Às vezes ela acorda às três e meia da madrugada querendo mamá. Então ela mama, e ficamos esperando ela arrotar. Ninguém espera eu arrotar. Vezenquando, quando arroto, sou xingado. As pessoas são estranhas, vá entender? Depois que arrota, lá por quatro horas da manhã, ela fica olhando tudo com os olhos BEM abertos. Olha para mim, nos meus olhos. Fica ali, me olhando. Então, ela começa a fazer força, dá uma gemidinha, fica vermelhinha igual uma pimentinha e faz “ããããhhhhmmmmmmmmmm”. Depois que se retorce, ela volta a olhar tudo e, dali a pouco, ela começa a abrir a boca procurando a teta. Aliás, a coisa que ela mais gosta na vida é teta. Teta, teta, teta, teta, teta! Ela só pensa em teta.
De início até tentamos dar um bico pra ela. Mas que nada. Via que era pura tapeação, não saía nada daquele pedaço de plástico, e começava a chorar, até que ganhava a teta. Aliás, vendo minha baby, descobri que os bebês têm uma arma mortal: o choro. Quando quer a teta, ela abre aquela boquinha minúscula, mas abre BEM mesmo, e põe a goela no mundo. É um Deus nos acuda. Todo mundo sai correndo para colocar ela a postos para mamar. E enquanto não tiver segurando a teta e tomando mamá, ninguém faz ela parar de chorar. É uma verdadeira arma e que funciona perfeitamente. Fiquei imaginando o presidente de algum país qualquer em uma reunião com o Fundo Monetário Internacional:

- Queremos renegociar a dívida.
- Desculpe, senhor presidente, mas essa dívida é irrenegociável.
- Ah é?
- É.
- Então tome isso: nhéééééééééééé! buááááááááá!!! nhéééééééééééé! buááááááááá!!! nhéééééééééééé! buááááááááá!!!
- Tá bom, senhor presidente, tá bom! Renegociamos a dívida!

Vejam vocês. É uma verdadeira arma.
Também imagino como seria o diário da minha baby.


“Querido diário. Hoje acordei com fome. Tinha um homem com cara de bobo, provavelmente meu pai, me olhando com cara de idiota, falando ‘guti-guti’ e apertando minhas bochechas. Olhei bem pra ele para ver se ele se mancava que estou com fome. Ele achou graça do troço e então chorei beeeeem forte pra me darem logo meu mamá. Minha mãe me pegou no colo e ganhei minha teta. Gosto daquela teta. Não vivo sem ela. Depois que não agüentava mais mamá, ela me deixou em pé no colo dela. Meu pai seguia ao redor de nós, com cara de bobo. To começando a desconfiar que ele é meio idiota. Mas gosto dele. Meu estômago começou a doer, e chorei um pouco. Depois arrotei, peguei no sono e dormi.
Quando estava sonhando com a teta, me acordaram. Tiraram toda a minha roupa, e meu pai seguia com cara de bobo ao redor, agora disparando uma luz forte na minha cara, enquanto minha mãe brigava com ele, dizendo: ‘coitadinha, ela se assusta com esse flash”. Flash deve ser a luz que sai daquele quadrado que ele fica segurando e rindo. Minha mãe me revira toda, e volta e meia eu resmungo. Mas, depois que me vestem de novo, sinto-me bem melhor, mais seca e limpa. Aí percebo que estou com fome de novo. Quando esses dois idiotas vão perceber isso? Eles ficam ali, ao redor, com caras de bobo. Então, choro e logo em seguida ganho minha teta...”.

Tu vês. Qualquer hora terei que ter uma conversa séria com essa guria, pois, como já disse o David Coimbra em Meu Guri, a vida não é só teta.