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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Triângulo das águas

Acabei de ler, minutos atrás, Triângulo das Águas, do Caio Fernando Abreu. Estou lendo pra caralho para tentar elevar as estatísticas de que brasileiro lê pouco: estou lendo por mim e pelos vagabundos leitorinhos que lêem nenhum, um ou dois livros por ano. Vamos ver se elevamos um pouco mais essa média, apesar de ninguém nunca ter me entrevistado perguntando quantos livros leio por ano...
Enfim, terminei de ler Triângulo das Águas, vencedor do Prêmio Jabuti de 1984. São três novelas, sendo que, nas duas primeiras, considerei o texto como uma espécie de poesia em prosa. Trata-se de um punhado de idéias e misticismos colocados em meio a acontecimentos confusos. Admito que, após terminar a segunda novela, quase desisti de ler o livro, pensando “esse é o livro mais viajandão do Caio, e possivelmente o pior”. Entretanto, a última novela, intitulada “Pela noite”, que é a maior das três, salva a obra. Creio ainda que foi graças a ela que Caio Fernando Abreu ganhou o Jabuti de 1984.
Não vou tentar explicar o inexplicável aqui (afinal, poesia não se entende, se sente) dos dois primeiros textos. Vou direto ao terceiro. Trata-se de uma história de dois caras que praticamente não se conhecem, e que resolvem passar a noite juntos (conversando, passeando, e não fazendo aquilo que o malicioso leitorinho está pensando). O relacionamento deles, que logo se percebe que é gay, sim, acaba englobando questões que, na verdade, se aplicam aos casais homossexuais, heterossexuais, pamsexuais, e por aí vai. Enquanto um dos caras viveu dois relacionamentos de longo prazo (um com uma menina, que durou 6 anos, e outro com um cara, que durou 10 anos), o outro nunca namorou firme com ninguém, sendo um legítimo “deixa a vida me levar”, ficando, no máximo, um ou dois meses com a mesma pessoa. Apesar das diferenças, vai pintando um clima entre os dois, que começam a noite no apartamento de um deles, vão para um restaurante heterossexual e dali vão para um lugar gay e assim segue a noite. Aliás, durante a saída, eles acabam vivendo várias etapas de relacionamentos: conhecimento mútuo, discussões, reflexões, ciúmes, brigas, cenas novelescas, silêncios, etc. Inclusive, numa breve separação dos dois, no meio da madrugada, em uma balada, um deles pensa:
“Desejou que ele estivesse logo de volta, para dizer coisas sem sentido, para se mexer, para ferir e ferir-se, para sorrir de lado, esfregar as mãos fazendo estalar as juntas dos dedos, uma saudade prévia, para ficar perto e fazê-lo rir de susto, de prazer, etc”. Por isso que, independente da opção sexual de Caio, ele acaba englobando sentimentos e relacionamentos que são comuns a todos os tipos de casos, namoros, ficadas, casamentos, separações, etc. E é por isso que ele é um escritor universal.
Bom, findado esse livro, vou tirar no cara ou coroa o próximo, que pretendo ler até o final de semana: “O jogador”, de Dostoiévski, ou “A dama das camélias”, de Alexandre Dumas Filho. Provavelmente eu opte, ainda hoje, pela segunda opção.
Salve, salve Brasil!
Hasta!

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