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sábado, 18 de dezembro de 2010

O gosto da guerra

No meio tempo em que comecei a ler o “Triângulo das águas”, do Caio Fernando Abreu, como referi em outro post, e a minha ida e volta para Porto Alegre, para entregar a dissertação do mestrado, comecei e terminei de ler “O gosto da guerra”, de José Hamilton Ribeiro. Peguei esse livro na biblioteca da Puclândia. O negócio é o seguinte: zanzei pelas prateleiras cheias de livros, nas partes de literatura, comunicação e jornalismo, e catei alguns livros, entre eles, esse do Zé Hamilton. Já tinha lido uma resenha sobre ele na Revista Imprensa, anos atrás, porém, dicas como essa não esquecemos tão facilmente.
Trata-se de um livro curto (125 páginas) com letras grandes, para facilitar a vida do vagabundo leitorinho, e de linguagem fácil. Também é esclarecedor para aqueles que, como eu, não têm grande conhecimento sobre a Guerra do Vietnã. Trata-se de uma mini-aula sobre jornalismo, entretanto, fiquei pensando depois: “pô, se o Zé Hamilton não tivesse pisado naquela mina e perdido a perna, ele teria sido apenas mais um correspondente de guerra desconhecido, e hoje, talvez, eu nunca teria ouvido falar dele. Ou até teria, mas não ao ponto de me interessar em ler um livro seu...”. Maluco leitorinho, dessa vez tive que concordar comigo mesmo. A perna perdida no Vietnã fez a fama e formou a aura que se criou em torno de Zé Hamilton. Foi àquela perna que o transformou num dos maiores nomes do jornalismo brasileiro contemporâneo. Graças à perna, que Zé pôde contar, de uma forma que você devora o livro em um ou dois dias, o que é ser uma pessoa gravemente ferida, em um hospital precário, em meio a uma guerra. Entretanto, como Zé Hamilton destaca no próprio livro, ele não voltaria atrás. E, apesar dos pesares, o mérito não é todo da perna, pois se o dono da perna não tivesse a capacidade que Hamilton tem de escrever, ela teria ficado abandonada em um matagal de um campo de guerra, da mesma forma que outras, anônima.
Como em outros livros, poderia transcrever aqui todas as palavras de Zé Hamilton para mostrar ao leitorinho a qualidade da obra, entretanto, como jornalista, vou destacar aquela em que ele faz uma reflexão sobre a atividade:
“O que leva um jornalista a uma cobertura de guerra ou a uma situação de perigo, um pouco é vaidade; um pouco é espírito de aventura; um pouco é ambição profissional; e muito, mas muito mesmo, é a sensação, entre romântica e missioneira, de que faz parte de sua vocação estar onde a notícia estiver, seja para ali atuar como testemunha da história, seja para denunciar o que estiver havendo de abuso de poder (político, psicológico, econômico, militar), seja para açoitar a injustiça, a iniqüidade e o preconceito. Após tudo isso, uma pitada de falta de juízo”.
E, como diria o Gaguinho: po-po-por hoje é i-i-isso pessoal!

2 Comentários:

  • Prezado Eduardo,
    Tua perspicácia e facilidade ao abordar os assuntos de forma bastante loquaz ao mesmo tempo leve, me trazem enorme regozijo ao ler teus textos. És, de fato, um palrador que sabe, entretanto, acrescentar um senso de estética muito interessante às obras. Comentaste que estás em vias de apresentar tua dissertação. Poderias me dizer quando proceder-se-á este evento?
    Grato,
    Gabriel.

    Por Blogger Unknown, às 20 de dezembro de 2010 às 17:11  

  • Olá Gabrel. Claro, será no dia 14 de novembro, na sala de defesas do prédio 8 da PUCRS, às 9h. Só tenho que previnir que eu não falo tão bem quanto escrevo (sou um tanto tímido bem como o objeto da minha dissertação: Erico Verissimo). Mas enfim, sinta-se a vontade para comparecer. Abração!

    Por Blogger Eduardo, às 21 de dezembro de 2010 às 05:39  

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