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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A mulher do próximo

Como pesquisador do tema Jornalismo e Literatura, sentia-me um picareta por ainda não ter lido nada do Gay Talese, um dos autores do New Journalism mais citados e reverenciados da área. Eis que, na minha última ida para a Puclândia, peguei três livros dele: Fama e anonimato, A mulher do próximo, e um outro, que não sei agora o nome porque está no Xerox, mas que conta a história do New York Times. Pois eis que, dois dias atrás, comecei a ler A mulher do próximo.
Confesso que o resumo que está na contracapa da edição da Companhia das Letras é um tanto propaganda enganosa. Pelo que se lê ali, você pensa que são histórias de putaria sobre a libertinagem sexual das décadas de 1960 e 1970, antes do aparecimento da AIDS. Porém, é, como era de se esperar de um autor do New Journalism, uma grande reportagem sobre o tema. Até a página em que estou lendo (130), prevalecem as histórias de editores presos, literatura proibida, movimentos conservadores contra a obscenidade, tudo isso nas décadas anteriores a 1960. Porém, a partir da página 100 se entra na libertinagem propriamente dita, com casos de putaria, mas que Talese descreve sempre suavemente, sem usar palavrões, substituindo, por exemplo, “chupisco” ou “boquete” por “flenar”. Mas não deixa de ser interessante. Na primeira parte, em que ele fica falando bastante da questão das edições e tal, é curiosa a história do fundador da Playboy, que, assim como os nerds do Facebook, antes de ficar rico era um cara fodido que ninguém dava um centavo. Porém, não vou ficar aqui contando a história dele, o preguiçoso leitorinho que vá ler o livro, ora pois.
Entretanto, para o chorão leitorinho não ficar me xingando e se lamuriando, vou colocar aqui o trecho em que Talese faz uma descrição sensacional-reflexiva sobre o pênis. Eu já tinha lido Freud afirmando que toda a mulher corre atrás do pênis perdido e já tinha lido Lawrence, que descreve toda a curiosidade da mulher sobre o membro masculino, mas a descrição de Talese vale igual referência. Vejam vocês:

O homem sente, às vezes, que o pênis o controla, leva-o para o mau caminho, faz que implore favores à noite a mulheres cujos nomes prefere esquecer na manhã seguinte. Seja insaciável ou inseguro, o pênis exige provas constantes de sua potência, introduzindo em sua vida complicações indesejadas e repetidas rejeições. Sensível, mas capaz de recuperação rápida, igualmente disponível dia e noite com um mínimo de persuasão, ele tem se desempenhado com decisão, embora nem sempre com habilidade, por uma eternidade de século, sempre procurando, sentindo, expandindo-se, explorando, penetrando, pulsando, murchando e querendo mais. Sem jamais esconder seu interesse lascivo, é o órgão mais honesto do homem.
É também um símbolo da imperfeição masculina. É desequilibrado, assimétrico, pendente, freqüentemente feio. Mostrá-lo em público é ‘exposição indecente’. É muito vulnerável, mesmo quando feito de pedra: os museus estão cheios de figuras hercúleas com pênis lascados, cortados ou completamente decepados. Os únicos que sobrevivem sem danos parecem ser aqueles desproporcionalmente pequenos, criados por artistas que talvez não quisessem intimidar os órgãos menores que o normal de seus patronos. Na arte religiosa, pênis é muitas vezes representado como uma serpente, esmagada pelos pés da Virgem Maria; desde o século XI, os padres, aderindo ao voto de celibato, têm resistido a sua tentação cobiçosa. A masturbação sempre foi considerada pecaminosa pela Igreja, e há muito tempo recomenda-se um chuveiro frio para os paroquianos solteiros como uma maneira de afogar as primeiras ebulições da ascensão da paixão.
Apesar de a força moral da tradição judaico-cristã e da justiça ter procurado purificar o pênis e restringir sua semente à instituição santificada do matrimônio, ele não é por natureza um órgão monógamo. Desconhece códigos morais, foi projetado pela natureza para o esbanjamento, adora a variedade, e nada, exceto a castração, eliminará seu pendor para a prostituição, a fornicação, o adultério e a pornografia.


E por aí vai, por mais umas duas páginas. Simplesmente sensacional. Para quem vencer a monotonia das primeiras páginas, vale a pena ler esse livro. Quando descobrir mais claramente porque esse livro se chama "A mulher do próximo" conto para vocês. Hasta.

5 Comentários:

  • primeiro: tu adora uma putaria, tah q nem o gérsooo da novela hauahuhau depois isso não justifica a canilhice masculina...e por fim tu adora uma história de pobres cafagestes que ficaram ricos...pq será? seria uma esperança... freud explica...

    Por Blogger Carolina, às 3 de dezembro de 2010 às 08:57  

  • your ass, my sister...

    Por Blogger Eduardo, às 3 de dezembro de 2010 às 09:24  

  • Porra Cartolina! Que que eu tenho a ve com a bagaça?

    Por Blogger Zaratustra, às 3 de dezembro de 2010 às 11:00  

  • É como reza o famoso samba da Unidos do Caralho a Quatro:

    "Desde os tempos mais primórdios
    o caralho tá aí (tá aí! tá aí!)
    Arrombando as vaginas
    Apavorando as meninas
    de faaaaaaaaamília!!!"

    http://letras.terra.com.br/hermes-e-renato/76404/

    Por Blogger ababeladomundo, às 6 de dezembro de 2010 às 10:05  

  • A propósito, eu tava pra fazer a mesma observação que a tua irmã fez sobre "a história de pobres cafajestes que ficaram ricos". Que obsessão é essa, rapaz? Deixa disso! Como bem diz o Xico Sá: "Não caia, jovem mancebo, nesse conto de que mulher gosta é de dinheiro. Se assim o fosse, amigo, os lascados de tudo não teriam nenhuma, nunca, jamé. Repare que até debaixo do viaduto está lá a brava fêmea na companhia do desalmado. Ela e o cachorrinho magro, só o couro, o osso e a fidelidade. O que vale é a devoção".

    Por Blogger ababeladomundo, às 6 de dezembro de 2010 às 10:16  

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