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terça-feira, 23 de novembro de 2010

O calhorda

Lendo o livro “Filho do Hamas”, do palestino, ex-islâmico e agora cristão, Mosab Hassan Yousef, descobri que o ex-líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), o defunto Yasser Arafat, não foi um herói, tampouco um mártir, mas sim, um calhorda de marca maior. Ou um Jaguará, como diriam aqui no Rio Grande do Sul. Confesso que fiquei triste ao saber disso, pois, no Fórum Social Mundial de 2004, em Porto Alegre, lembro de ter participado de uma passeata pela libertação do povo palestino, tomando latinha de cerveja, gritando “Free, Free Palestine!”, com uma bandeirinha de plástico da Palestina. Lembro que havia pôsteres do Yasser Arafat, que era uma espécie de herói, e xingamentos contra Ariel Sharon e Geroge Bush. Tudo bem, estes últimos até mereciam ser xingados, mas a exaltação a Yasser Arafat, como vim a descobrir, era, no mínimo, questionável.
Resumindo, Mosab Hassan Yousef era filho de um dos xeiques-fundadores do Hamas, que surgiu com objetivos mais saudáveis do que explodir carros e homens bombas em meio aos civis israelenses. Yousef conta toda a história do grupo terrorista e, por ser filho de um xeique, ele participava das reuniões da Autoridade Nacional Palestina com os grupos terroristas, etc. Enfim, é muita coisa para escrever aqui, portanto, para saber mais, leia o livro. Entretanto, em um dos pontos, ele passa o caráter real de Yasser Arafat. Para ele, o líder da ANP fazia um jogo de cena para o público e para a imprensa internacional, enquanto ferrava com o seu povo. Por exemplo: dizia para a imprensa internacional e para os líderes das potenciais mundiais que reprimia o terrorismo, enquanto ele mesmo financiava e cedia seus próprios homens para promover atos terroristas.
Vejam só o seguinte trecho:

A Conferência de Cúpula de Camp David entre Yasser Arafat, o presidente americano Bill Clinton e o primeiro-ministro israelense Ehud Barak terminou em 25 de julho de 2000. Barak ofereceu a Arafat cerca de 90% da Cisjordânia, toda a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental como capital de um novo Estado palestino. Além disso, um novo fundo internacional seria criado para indenizar os palestinos pelas propriedade que haviam perdido [no passado]. Aquela oferta de “terra em troca de paz” representava uma oportunidade histórica para o sofrido povo palestino, algo que poucos teriam ousado imaginar que fosse possível. Mesmo assim, não era o suficiente para Arafat.
O líder da ANP se tornara extraordinariamente rico como símbolo internacional do sofrimento. Ele não estava disposto a abrir mão daquele status e assumir a responsabilidade de construir uma sociedade que funcionasse. Então, insistiu para que todos os refugiados voltassem para as terras que possuíam antes de 1967, uma condição que ele tinha certeza que Israel não aceitaria.
A rejeição da oferta de Barak por parte de Arafat foi uma catástrofe histórica para seu povo, mas o chefe da Autoridade Nacional Palestina voltou para o seio de seus correligionários linha-dura como um herói que desdenhara o presidente dos Estados Unidos, algéum que não havia recuado e feito concessões, um líder que enfrentava o mundo inteira de maneira obstinada. [...] Naquela época, eu acompanhava meu pai nas viagens e nas reuniões com Arafat e comeei a ver com meus próprios olhos como aquele homem amava a atenção da mídia. Ele parecia adorar ser retratado como uma espécie de Che Guevara palestino, um indivíduo à altura de reis, presidentes e primeiros-ministros, e deixou claro que desejava entrar para a história como um herói.
Ao observá-lo, eu costumava pensar: “Que ele seja lembrado em nossos livros de história não como um herói, mas como um traidor que vendeu o próprio povo e se aproveitou dele. Como um Robin Hood às avessas, ele saqueou os pobres para se tornar rico. Esse péssimo ator comprou seu lugar na ribalta com sangue palestino (p.146-147).


E assim, segue o baile. Tu vês. Curiosamente, na Rodoviária de Porto Alegre, vi uma matéria falando que o Pelé parou a guerra, conseguindo reunir Arafat com o líder israelense da época, que não lembro quem era. Pensei: “puro jogo de cena. Pelé parou a guerra porra nenhuma, o Arafat que quis aparecer para a mídia internacional nas custas do cara”. O problema é que, primeiro, a mídia, e depois, o público, engolem toda a patavina enlatada. Depois de uma encenação, Pelé é imortalizado pelo exército (!?) e, bestialmente, declara “fico triste em ver que depois que fui embora a guerra continuou”. Caraca. Como disse o Romário, certa vez, Pelé sem falar é um poeta. Mas o mais triste de tudo é pensar que por conta de um louco que queria ser santo para o seu povo e líder político histórico para o resto do mundo, foram exterminados milhares, quiçá, milhões de vidas no Oriente. Mais uma vez: é fogo, meu povo! Fica a dica de leitura desse excelente livro.

14 Comentários:

  • Este comentário foi removido pelo autor.

    Por Blogger Aline, às 23 de novembro de 2010 às 17:14  

  • Realidade antropofágica!

    Por Blogger Aline, às 23 de novembro de 2010 às 17:16  

  • manolo... tu tava beudo qndo escreveu isso neh? ashauhsuahsa

    mas enfim... o pelé é gêio cara e o Romário um bostão...

    e quanrto aos palestinos, sou da opinião que nada que o mundo faça vai resolver aquilo lá... são uns lunáticos, fanáticos, com causas estranhas...enfim...

    abraço ae!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 23 de novembro de 2010 às 20:08  

  • *gênio

    foi isso q eu quis dizer que o pelé é, só pra esclarecer...

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 23 de novembro de 2010 às 20:09  

  • pelé era gênio só com a bola no pé. fora de campo é bom caráter, mas ingênuo. beudo ta quem acredita na lorota que o "Pelé parou a guerra". le o livro q tu vai entende melhor, e vai entender melhor os palestinos e o oriente. abraço

    Por Blogger Eduardo, às 24 de novembro de 2010 às 04:40  

  • interessante muiiiiiiiiiiii interessante, como tb não entendo bem as guerras naquelas regiões, acredito mesmo que ninguém que esteja no poder se preocupe mesmo com a população...é irracional tudo aquilo, irracional como o Estado Brasileiro...

    Por Blogger Carolina, às 24 de novembro de 2010 às 04:45  

  • Cara, todo herói é um pouco canalha. O heroísmo é uma construção. Tem um documentário interessante sobre o Che Guevara, chamado Personal Che, que mostra como o cara é visto como santo - santo mesmo, as pessoas oram pra ele, fazem pedidos, atribuem milagres - por bolivianos pobres e, ao mesmo tempo, é adorado por grupos neonazistas alemães que o comparam a Hitler. Só estou falando isso pra dizer que a construção de um herói exige a desconstrução do homem, do ser humano falível - não raro, fraco e inseguro - por trás daquela imagem. Isso é uma coisa. Outra coisa é a força mobilizadora que essas imagens exercem nas multidões. Não é um processo racional. Aliás, bem pouca coisa na história da humanidade - e na vida da gente! - é racional. Eu vi uma entrevista do autor desse livro que você está comentando na Globonews. Acho que ele é tão calhorda quanto aqueles que critica. E acho que tem um conflito edipiano mal resolvido. Eu não gosto de discutir o conflito árabe-israelense. A visão que nós - ocidentais, cristãos - temos desse assunto é muito limitada. Já vem filtrada por uma visão que tende a colocar os israelenses como o povo sofrido que sobreviveu à tragédia do holocausto e os árabes com os fundamentalistas malucos que jogam aviões contra prédios cheios de civis. O mundo não é assim, tão preto no branco. Olhando de fora, é muito fácil considerar aquilo tudo uma imensa estupidez. Mas pra quem nasceu e cresceu naquele universo, pra quem foi alimentado por uma longa história de ódio e conflito, deve ser bem difícil manter a distância crítica e o discernimento. Visitei, na semana passada, a exposição que está rolando no Centro Cultural Banco do Brasil aqui do Rio sobre o Islã. É uma história brilhante, cara. Uma cultura foda. Não tem nada a ver com fundamentalismo. A tolerância religiosa foi um dos critérios mais respeitados nos primórdios da religião islâmica. A riqueza cultural de Portugal e Espanha deve muito à influência da cultura árabe. Eu tenho convicção que a agressividade ocidental é que criou o monstro fundamentalista. Acho que não houve fundamentalismo mais imbecil que aquele que moveu os católicos durante as cruzadas, por exemplo. E acho também que você tem todo direito de discordar de mim. Abraço, cara.

    Por Blogger ababeladomundo, às 24 de novembro de 2010 às 05:33  

  • Já tinha pensado em ler esse livro, agora me deu mais vontade ainda...

    ps: adere à ideia do Mr. Gomelli de colocar o +18 nos teus textos! Minha mãe leu esse do calhorda e disse "teu colega escreve muito bem, vou ler tudo" eu não deixei huahuahauhauahau.

    Por Blogger Dilea Pase, às 24 de novembro de 2010 às 08:49  

  • ah!!! Encontrei um blog bem interessante. Desilusões perdidas que fala sobre a vida (real) dos jornalistas. Bom pra rir da nossa própria cara.
    http://desilusoesperdidas.blogspot.com/

    Inté

    Por Blogger Dilea Pase, às 24 de novembro de 2010 às 08:53  

  • fala ababelado! mas eu concordo, a´liás, "A tolerância religiosa foi um dos critérios mais respeitados nos primórdios da religião islâmica", isso fica claro quando ele conta como foi a fundação do hamas, que bem depois virou um grupo radical. enfim, só fiz um recorte do livro, pq ele abrange muito mais. por isso, mesmo com o autor sendo um calhorda, sigo recomendando, pois eh mto esclarecedor para entender a cultura islamica e nao vermos eles como simples "malucos"

    Por Blogger Eduardo, às 24 de novembro de 2010 às 10:41  

  • Eu também exagerei ao chamar o cara de calhorda. Achei aqui a tal entrevista dele pra Globonews. Se alguém quiser assistir, antes de ler o livro, talvez valha a pena.

    http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1598599-17665-314,00.html

    Abraços!

    Por Blogger ababeladomundo, às 24 de novembro de 2010 às 11:20  

  • Acho que sei lá....é como gre-nal, um quer o fim do outro.....desde 1000AC

    Por Blogger Silvério, às 24 de novembro de 2010 às 15:51  

  • Isso se aplica praticamente a todos os políticos, caro Dudu!
    Os caras não podem ver um microfone ou uma câmera de tv, que querem aparecer! O povo?
    É um mero detalhe,massa de manobra para que ele alcançe os seus objetivos.
    E lá no oriente é pior, os caras são fanatizados para se imolarem em nome de um ideal religioso.
    Ah! Concordo que o Pelé é gênio, com a bola nos pés. Calado é um poeta, entende.

    Por Blogger Marcos, às 25 de novembro de 2010 às 03:48  

  • a maioria dos q gritavam Free Palestine no FSM seriam mortos se vivessem em um país islâmicos: mulheres, maconheiros, gays... todos de bandeirinha. eu tb vi, mas não participei, nunca cai nesse papo.

    Por Blogger Fábio Ritter, às 27 de novembro de 2010 às 14:40  

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