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sábado, 13 de novembro de 2010

O beijo da gorda

Quando era pequeno, detestava beijo. Estava eu lá pelo pátio de casa, no alto de meus seis ou sete anos, pensando em questões importantes da vida, decidindo se atiraria uma pedra num passarinho (eu nunca acertava), ou se apertava a campainha da vizinha para sair correndo, ou ainda se incomodaria meu irmão ou minha irmã, quando, de repente, do nada, aparecia alguma tia de outra cidade ou alguma senhora gorda qualquer, apertava as minhas bochechas e lascava um beijo na bochecha de fazer SMAC! Rapidamente, eu passava as mãos no rosto para me limpar do beijo. Minha mãe volta e meia me repreendia por essa atitude, mas era automática. Vez ou outra acho que até resmunguei um “que nojo!”. Enfim, tinha aversão a beijo. Entretanto, como o mundo da voltas, veio a adolescência e conheci outros tipos de beijos. Depois que descobri como era bom beijar, passei a correr atrás de beijos. Óbvio que não o das senhoras gordas (nada contra elas), mas das beldades que faziam a gurizada soltar suspiros.
Outra coisa que não via com muita simpatia era pegar bebês no colo. Primeiro, porque eles nunca paravam quietos. Eu pegava e automaticamente eles começavam a espernear, a chorar, enfim, não se sentiam bem nos meus desajeitados braços. E eu, muito menos. No entanto, como a vida é altamente mutável, na última segunda-feira veio ao mundo minha filha Larissa, que nasceu no Hospital Santo Ângelo, e desde então não quero fazer outra coisa a não ser segurá-la em meus braços. Fico ali vários minutos, quiçá horas, olhando seu rostinho pequenino, seus olhinhos fechados, com ar sereno, e essa imagem é a melhor imagem que eu posso querer ver no mundo.
Digamos que hoje eu não consigo imaginar a minha vida sem beijar e sem pegar minha filha no colo. E acho que é assim que os colorados ficaram depois de 2006. Após experimentar o gostinho de títulos internacionais, os torcedores do Inter só querem mais e mais e mais. Antes de 2006 eles até almejavam títulos como os da Libertadores e do Mundial, mas como nunca tinham conquistado, meio que sentiam nojo quando os gremistas vinham ao seu redor murmurar que eram campeões da América e do Mundo. Hoje, os colorados esnobam os gremistas, pois eles são os atuais donos da América e em breve devem ser, pela segunda vez, os conquistares do mundo. Já não conseguem mais imaginar as suas vidas sem estar disputando títulos internacionais. Já não se contentam com títulos regionais e nacionais. Estão como a minha bebê, que só quer a teta da mãe dela. E experimente tirá-la do bem bom enquanto está mamando para ver o que acontece...
É, amigos, o mundo da voltas. E é graças a isso que o Grêmio quer, mais do que tudo, aprender a vencer o Santos na Vila Belmiro, hoje, para, quem sabe, voltar a disputar títulos internacionais. Enquanto isso, os gremistas têm que se contentar com campeonatos menos significativos, da mesma forma que o moleque, que olha a garota bela passar diante dos seus olhos, tem que se contentar com os beijos das amigas gordinhas da mamãe.
Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no Jornal das Missões desse sábado.

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