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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Dudu, o psicólogo e a morena

Dudu (que não é o autor desse texto) trabalhava em uma lan house. Todos os dias ele observava uma morena espetacular que estacionava o seu carro na frente do prédio que ficava do outro lado da rua. Dudu, sem muito o quê fazer entre o atendimento a um cliente e outro, ficava esperando aquele momento sagrado do dia: o carro da morena estacionando, ela descendo do carro, geralmente com uma mini-saia curtíssima exibindo as pernas torneadas, salto alto que deixavam as suas carnes ainda mais atraentes, blusa mostrando boa parte das costas e da barriguinha e a pele dourada e bronzeada. Ah, como Dudu queria ter aquela morena, conhecer a maciez de suas carnes rijas, se lambuzar no líquido mágico que estava escondido no meio daquelas pernas sensacionais...! Ah! Às vezes, quando ela descia do carro algum cliente mala estava querendo atenção. Ele não pestanejava e dizia “espera só um segundinho” e, então, ele simplesmente babava vendo aquela morena espetacular desfilar, vez ou outra usando provocativos óculos escuros.
Dudu estava simplesmente obcecado pela morena. Acordava ansioso para ver a morena, tomava café imaginando a morena sentada à sua frente, tomava banho resgatando em sua memória o desenho perfeito daquele corpo escultural, caminhava na rua meditando com a imagem da morena, trabalhava pensando na morena, tinha orgasmos masturbatórios com a morena, até que, uma vez por dia, uma vez no início da tarde e outra no final, a morena fazia sua aparição diante dos olhos de Dudu, que ficavam hipnotizados pela sensualidade e necessidade de prazer que aquela obra prima despertava. Porém, aos poucos, Dudu ficou diferente. Não se concentrava mais no que estava fazendo, não tinha mais inspiração para nada. Só para ver a morena. Em sua mente uma voz repetia incessantemente a palavra “morena, morena, morena, morena...”. Os pais de Dudu logo perceberam a diferença nas atitudes do filho e decretaram: Dudu está deprimido. Convenceram-no a ir ao psicólogo.
- O que te traz aqui, meu jovem? – perguntou o psicólogo na primeira consulta.
- Uma morena...
E assim, Dudu descreveu os pormenores da morena.
- Mas e você a conhece?
- Não.
O psicólogo sugeriu que ele fizesse umas dez consultas até ficar bom. Trabalharia a auto-estima do rapaz, faria com que ele pensasse em outras coisas, convenceria de que havia uma desproporção entre o seu imaginário e a realidade, etc, etc, etc. Assim, o tempo passou, as consultas transcorriam conforme o programado, mas o paciente não apresentava melhora. Muito instigante.
O psicólogo acabou elaborando o mais minucioso plano para curar Dudu de sua tara pela morena. Em último caso, teria que recomendá-lo a um psiquiatra, mas considerava isso uma derrota pessoal e profissional. Orgulhava-se de resolver 96% dos casos em seu consultório. A estatística foi feita a partir de sua lista de consultas, que estavam listadas em três cadernos. Segundo ele, era um recorde, no mínimo, nacional. Olhando para Dudu, pensava: não estudei anos de psicologia para não conseguir convencer esse maluco a tirar da cabeça uma morena estonteante, afinal, o que mais há no mundo são mulheres desse tipo. Em uma das consultas, o psicólogo ficou observando Dudu: jovem, um tanto inexperiente, bem vestido, gel no cabelo, discreto, bom porte atlético, enfim, não havia nada que impedisse Dudu de arrumar belas namoradas, vários casos e muitas e variadas trepadas... Já tratara casos de homens de boa aparência, mas excessivamente tímidos, que tinham dificuldades em conseguir uma mulher. Mas em conversas breves com Dudu via que aquele não era o caso. Não senhor. Era algo único, jamais estudado pela psicologia! E ele, um psicólogo experiente, o mais conceituado da cidade, se consagraria resolvendo aquele caso! Mas o diabo era que a besta do Dudu em toda a consulta só falava na maldita morena. Em uma das consultas o psicólogo pediu para que Dudu desenhasse qualquer coisa em uma folha em branco. Quando pegou o papel rabiscado por Dudu, lá estava: um homem e uma mulher fornicando.
- O que é isso, Dudu?
- Eu traçando a morena....
O psicólogo suspirou em tom de profunda decepção. Até que um dia, uma cliente ligou para marcar uma consulta. A secretária já tinha saído e ele mesmo atendeu. Seu nome era Marta. Ao falar com ela não deu bola: tratava-se de uma voz comum. Porém, quando o psicólogo viu Marta entrar em seu consultório, no dia seguinte, não se conteve e murmurou: Jesus-Maria-José.
- Desculpe, como disse? – retrucou aquela morena fantástica.
- Dãn mói, entra aí, zartanistaconga.....
- Não estou entendo... Eu sou a Marta, marquei uma consulta com o senhor.
- Ronesfaltemate?
- Como?
- Ãhnnnnnnn. Zocêveioaquimeuconsultóriomeumeumeu.
E o psicólogo não conseguia pronunciar uma palavra contundente, muito menos formular uma frase.
- Eu sou o psicólogo – disse enfim.
- Eu presumi que fosse...
Ela ficou parada na porta, sorrindo para ele. A secretária observava a cena balançando negativamente a cabeça.
- Eu sou o psicólogo – repetiu.
Marta não disse nada, apenas olhou para a secretária como se pedisse ajuda. Até que ele pegou-a pela mão e levou para dentro do consultório repetindo:
- Eu sou o psicólogo. Eu sou o psicólogo. Eu sou o psicólogo....
Depois de meia hora, Marta saiu do consultório se achando a criatura mais normal do mundo, por ver que o psicólogo mais conceituado da cidade era maluco. O psicólogo acabou cancelando todas as consultas do dia. Chegou em casa, olhou para a mulher e disse:
- Eu sou o psicólogo.
- Eu sei.
- Eu sou o psicólogo.
- Você já disse isso. Agora vai no mercado que está acabando a comida.
- Eu sou o psicólogo.

O psicólogo tomou um banho gelado, repetindo: “eu sou o psicólogo, eu sou o psicólogo...”. A mulher se preocupou um pouco, mas pensou que o marido estava tendo um breve delírio por trabalhar demais. Acontece com todo mundo algum dia, fazer o quê? A noite chegou e dormiram mais cedo que o normal.
Ao acordar, a morena ainda aparecia sublinarmente na mente do psicólogo. O primeiro paciente do dia era quem mesmo? Ah, o Dudu. O caso do obcecado pela morena. Dudu entrou no consultório e, para variar, começou a falar sem parar da morena. Enfim, quando terminou, perguntou:
- E aí? Acha que eu tenho cura?
- Eu sou o psicólogo. Eu sou o psicólogo. Eu sou o psicólogo...
Hoje, Dudu e o psicólogo dividem o mesmo quarto em um manicômio no interior de São Paulo. Dudu pensa que o psicólogo é a morena e o psicólogo jura para todo mundo que é um psicólogo.

Fim.

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