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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Muchas gracias!

Podemos imaginar a cena: Renato Gaúcho em Ipanema, segurando um copo de chope com uma mão, enquanto coça a cabeça, nervosamente, com a outra. O Independiente começa bem o jogo e ele logo se empolga, comentando com um amigo sentado ao seu lado: “essa zaga do Goiás é fraca, tá pra nós”. Pouco depois, após um rebote do goleiro Harlei, do Goiás, Velazquez toca para o fundo do gol. Renato se levanta, abraça os amigos, ergue os braços com os pulsos cerrados, como se fosse um simples e animado torcedor gremista sentado em uma cadeira do Canecão, em Santo Ângelo. Porém, quando tudo parecia que seria mais fácil do que o esperado, Rafael Moura empata. Renato suspira. Por um momento, pensa que a vaga de seu time para a Libertadores está sumindo igual ao chope que estava há pouco em seu copo. Minutos depois, nova redenção: dois gols de Parra, ainda no primeiro tempo, voltam a transmitir a ilusão de que o título do Independiente seria conquistado com facilidade.
Veio o segundo tempo, e Renato não acreditava no que via: era o Goiás quem dominava as principais ações em campo e criava as situações mais claras de gol. Nos últimos minutos, ele já torcia para que o árbitro terminasse logo o jogo. Na prorrogação, a angústia seguiu intensa, assistindo ao Goiás meter uma bola na trave e ter um gol anulado. Era algo surreal aquela decisão. Quando acabou a prorrogação, Renato soltou mais um suspiro, dessa vez num misto de alívio com desespero.
Enquanto não iniciavam as cobranças de pênaltis, Renato toma cinco canecas de chope e esquece de tudo ao seu redor: só pensa que quando tudo acabar vai beber pra comemorar ou pra esquecer. A ressaca do outro dia será de satisfação ou de amargura. Quando começam as cobranças, os gols do Independiente são comemorados com gana, e os do Goiás são lamentados com um aperto forte no peito. Entre o tempo em que Felipe chutou na trave e Tuzziu fez o gol do título, Renato pensou em toda a sua vida.
Primeiro, lembrou da sua mãezinha, que falecera no início do ano em Bento Gonçalves. Depois, sentiu um frio na barriga ao lembrar a derrota que sofreu para a LDU em uma final de Libertadores quando treinava o Fluminense. O frio na barriga aumentou ao lembrar que esse mesmo Independiente tirou o título da Libertadores do Grêmio em 1984. Porém, começou a se reanimar ao lembrar as atuações gloriosas vividas pelo tricolor nos títulos da Libertadores e do Mundial de 1983. Mas a empolgação aumentou mesmo a partir do momento em que, num flash de imagens rápidas, passou todos os orgasmos que ele teve com as cerca de 5 mil mulheres com quem ele afirma ter transado até hoje. Eram expressões faciais e gemidos de rostos brancos, pretos, amarelos, cabelos curtos, longos, lisos, crespos, loiras, ruivas, morenas, japonesas, altas, baixas, gordas, magras, gostosas, casadas, solteiras, divorciadas, namoradas, noivas, ninfomaníacas, enfim, todo o tipo de fêmea. E ele sentia que no momento em que a bola do título do Independiente entrasse, o êxtase que ele sentiria seria talvez maior do que muitos daqueles orgasmos. E foi assim que Renato comemorou intensamente o título dos argentinos.
No outro dia, de ressaca, depois de ter feito sexo loucamente com sua esposa até perto do meio-dia (ou com outra, vá saber...), Renato atende ao telefone e atende a um jornalista, declarando: “Hoje estou feliz: a luzinha no fim do túnel se tornou um sol”. E ao desligar o telefone, e olhar pela janela o sol radiante que estava na praia, ele lembrou de uma castelhana que fez loucuras com ele após um jogo contra um clube argentino, e murmurou: “muchas gracias, hermanos e hermanas”.
Um bom fim de semana a todos e uma “boa” estréia no mundial para os colorados na terça.

* Texto que será publicado no Jornal das Missões deste sábado.

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