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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Maifrendi

Estou na página 175 do “Abusado”, de Caco Barcellos, e já me sinto no direito de indicá-lo aos leitores imaginários desse blog. Acho que fez mais sucesso do que o Rota 66 (que já é um puta livro) simplesmente porque é melhor, mais empolgante e mais envolvente. Resumidamente, Caco apresenta a biografia do traficante Marcinho VP, que ganha o nome fictício de Juliano VP, e das guerras que envolviam a tomada de posse do Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro. Só por curiosidade, para tudo Marcinho dizia: “Viado Puto, Viado Puto, Viado Puto...”. Daí o VP no nome.
Mesmo sem ainda terminar de ler o livro, senti-me na obrigação de colocar aqui o breve relato que envolveu os traficantes e os jornalistas que cobriam a guerra pela posse do morro entre os traficantes Cabeludo e Zaca. O pessoal do morro logo descobriu que havia um jornalista inglês e o apelidaram de Maifrendi. Numa dessas, Cabeludo pede para o seu “assessor de imprensa” Chico Boca Mole chamar o Maifrendi para uma entrevista exclusiva, e vejam só no que deu:

- Aí, Maifrendi, o chefe quer mandá uma sinistra pros gringos – disse Chico Boca Mole ao repórter inglês.
Cabeludo afastou-se meia hora da guerra para dar entrevista. E o repórter, que falava apenas algumas palavras em português, perdeu horas tentando traduzir as gírias e palavrões, com a ajuda do “assessor” Chico Boca Mole. Eram muitas as dúvidas em cada frase:
- Caga Sangue é Vacilão? What means? Que significa? – perguntou o repórter.
- Vacilão ou bundão, ou Mané, ou otário, o que tem que morrê! – respondeu Chico Boca Mole.
- Oh, Yes. The one who must die. Tem que morrer! And Caga? And Sangue?
- É o nome do cara, Maifrendi.
- Oh Yes, the guy.
- Isso aí, viado, cuzão.
- E o que significa Paulista deu uns tecos?
- Aí tu já está querendo demais. Vai estudar, Maifrendi.


Vejam vocês! Os traficantes têm até assessor de imprensa! Aliás, uma das dificuldades dos jornalistas quando iam gravar com Chico Boca Mole era fazê-lo falar alguns segundo sem dizer palavrões, pois ele chegava para os jornalistas e dizia:

- Manda aí na manchete: Zaca é um chifrudo arrombado!
Os repórteres tinham que implorar para que ele gravasse pelo menos algumas palavras no linguajar comum.
- Tá bem, nova manchete: retira o chifrudo arrombado. Coloca aí: Zaca, tu vai morrê, mané!


Caraca. Acho que vou começar a mandar uns currículos para o Dono Marta...
Hasta!

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