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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O sertão do Rio Grande

Santo Ângelo e as Missões estão se transformando, ano a ano, no sertão do Rio Grande do Sul. Inclusive, quando conheço alguém de fora e perguntam de onde eu sou, respondo:
- Sou de Santo Ângelo.
- Ãhn?
- Fica do Rio Grande do Sul.
- ....
- É na região das Missões.
- [!?].
- Enfim, é uma espécie de sertão do Rio Grande do Sul...
- Ah...
Na minha humilde opinião, além de estar completamente estagnada, a nossa região ainda está apresentando cada vez mais outras semelhanças com o sertão nordestino. Primeiro, o calor no verão. A impressão que se tem, nos dias mais quentes, é que estamos no inferno. Você derrete até para pensar, então, é melhor não pensar. A partir disso você passa a entender a fama de preguiçoso dos baianos: num calor desses não dá vontade de fazer nenhum esforço físico. O problema é que aqui, como no sertão do Nordeste, não temos praia. Há dias em que não há vento algum. O clima varia entre seco e abafado. O ar que sai do ventilador é quente. Enfim, sorte de quem tem ar condicionado e pode deixá-lo ligado o dia inteiro...
Outra semelhança do nosso sertão com os demais é a nossa cultura. Entenda-se aqui cultura como hábito de um povo, e não cultura no sentido de produção artística elitizada. Muitas pessoas pensam que, por terem um pouquinho de dinheiro a mais que a média ou por terem se safado no passado de alguma falcatrua feita, estão acima da lei e dos outros. Dia desses, por exemplo, vinha eu transitando de carro pela Getúlio Vargas quando, de repente, um careca se enfiou na frente do carro, fez sinal para eu parar, e atravessou a rua, como se fosse um coronel nordestino. Meti a mão na buzina e observei pelo retrovisor ele entrar numa camionete cinza. Detalhe: ele não atravessou a avenida na faixa de segurança, o que lhe daria o direito de se enfiar na frente do carro. Não senhores. Ele atravessou a rua, obrigando-me a parar numa das avenidas mais movimentadas de Santo Ângelo, porque ele acha que tem mais poder do que os outros. Ele se julga uma AUTORIDADE. E, mesmo que fosse uma autoridade, ele não teria o mínimo direito de passar por cima da lei e dos outros. Da próxima vez vou passar por cima é da careca dele...
Esse é apenas um exemplo, porque todos os dias, basta sair de casa para observar isso: gente querendo furar a fila, motoristas não parando na faixa de segurança, pessoas com dinheiro cometendo crimes ambientais, mantendo terrenos cheios de lixo e usando a calçada na frente de casa, um espaço público, para uso particular, carros estacionados em cima da calçada, etc. Santo Ângelo está virando uma terra de ninguém, onde manda quem tem mais dinheiro e, se continuar assim, voltará ao tempo do coronelismo acéfalo.
Ah, isso sem esquecer a falta de emprego. Cada vez mais os jovens daqui partem para Santa Maria, Porto Alegre, Serra Gaúcha, Santa Catarina, etc, da mesma forma que os nordestinos do sertão fogem para São Paulo. Muitas vezes não é por não gostarem daqui, mas sim, por não encontrarem nenhuma oportunidade.
Que esses últimos dias de 2010 iluminem os pensamentos de todos: autoridades e não-autoridades, para que em 2011 a situação comece a se inverter no sertão do Rio Grande do Sul.
Um feliz Natal a todos.
*Texto que publicado em A Tribuna Regional.

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