
Há muito tempo venho cultivando a minha mini-fazenda no Orkut. Uma distração leve, desestressante. De certa forma, até entorpecente. Como já escrevi em outro texto, compro vacas, porcos, ovelhas, planto milho, lírio, algodão, abóbora moranga, enfim, faço de tudo na minha mini-fazenda. Tenho vários carros e várias casas. Porém, estava pensando esses dias: por que tanta satisfação em uma fazenda virtual se eu nunca morei e nem pretendo morar em algo semelhante? Pensei, pensei, pensei, até que conclui que, como diria McLuhan, o meio é a mensagem. Ou seja, no caso do estudioso canadense, ele apontou que o que importa não é o conteúdo dos meios de comunicação, mas sim, os próprios meios. Nesse sentido, no meu caso, a minha atração não é pela fazenda em si, mas sim pela lógica desse tipo de jogo: ganhar dinheiro para poder comprar mais. Esse é o princípio dos jogos onde você administra uma cidade, um café, uma boate, uma casa, um clube de futebol, enfim, o que menos importa é o conteúdo, mas sim, o a lógica do jogo.
Fiquei me questionando quanto a isso porque existe por aí um plano de me levarem para um sítio, fazenda, ou algo do gênero. Aliás, não só eu, mas mulher e filhas também. E se tem alguma coisa que, literalmente, me mataria de tédio em pouco tempo (uma semana, um mês, um ano?) seria isso: uma fazenda. Nada contra quem goste de estar em paz consigo mesmo no meio da natureza e dos animaizinhos, mas, sinceramente, isso não é para um jornalista urbano como eu. Pelo menos, não para um jornalista de 28 anos.
Fazer isso seria o mesmo que pegar o meu diploma de jornalista, todos os livros que li sobre jornalismo, a minha monografia, meu projeto experimental de conclusão de graduação, meu artigo vencedor do Iniciacom na categoria Cultura de 2005, minha dissertação de mestrado, enfim, seria o mesmo que colocar tudo isso numa caixa e jogar num rio (sim, porque sítios e fazendas geralmente têm rios). Livrando-me dos meus apetrechos, eu simplesmente teria a vida que mais me causa embrulho no estômago: limpar estábulos, colher na horta, plantar, pegar os ovos das galinhas (para os outros, já que eu não como), tirar leite das vacas, limpar vários hectares de grama sei lá eu como, cuidar das máquinas (como se eu entendesse alguma patavina de máquina), limpar as bostas das ovelhas e das vacas com uma enxada para, no fim do dia, completamente sujo, cansado e embostado (sou meio desajeitado com atividades domésticas e fazendísticas), tomar um banho, dormir cedo (SOU BOÊMIO!)

, para no outro dia fazer tudo de novo, pois os animais seguem produzindo e cagando e as plantas seguem crescendo (e a grama também, e alguém tem que cortar, sabe cumé....). Enfim novamente, como disse, até admiro quem gosta de viver assim, até porque precisamos de agricultores para termos comida no supermercado, e acho que eles devem ser supervalorizados. Mas, eu ir morar em um sítio ou fazenda é mais ou menos como colocar um jogador de vôlei a jogar futebol, ou um jogador de futebol a jogar basquete, ou um jogador de basquete a jogar tênis. Ou, fazendo uma metáfora futebolística, seria como botar um goleiro de centroavante, um meia habilidoso na zaga ou um zagueiro trombador como meia de criação. Desculpem a pieguice mas, tipo assim: não rola. Vejo-me mais como um coiote levando estrangeiros para os Estados Unidos no México do que como alguém que vai trabalhar na terra. Entretanto, volto a frisar mais uma vez: admiro muito quem gosta desse tipo de vida, inclusive, meu pai cresceu morando “pra fora” e adora trabalhar com terra, bichos, plantas, etc. Mas, cada um cada um, ou, como diria aquela musiquinha ultra-enjoada: cada um no seu quadrado.

Aproveito o espaço cedido por mim mesmo para também responder às críticas da minha amada Mamuxca, que critica vários textos meus, dizendo que estou me indispondo com certas pessoas, empresas, políticos, etc... Mas, pensando agora, às 3 da madrugada, lembro de uma resposta que o escritor Charles Kiefer me deu em uma entrevista, quando lhe questionei sobre o quê o levava a escrever? “Não sei, simplesmente se não escrevo começo a passar mal, o coração dispara, parece que vou ter um treco, morrer...”, foi mais ou menos o que ele disse. E assim é comigo: se tem um assunto que está entalado na minha garganta, tenho que escrever. É da minha natureza. E, para ter sobre o quê escrever, tenho que estar no agito, no movimento, no meio da circulação de pessoas, e não numa fazenda. Agora, aproveitando o momento de desabafo (pra variar...) também vou usar esse nobre espaço cedido muito gentilmente por mim mesmo para responder aqueles que criticam quem escreve sobre si mesmo (coisa que praticamente todos os cronistas contemporâneos fazem: David Coimbra, Juremir Machado da Silva, Martha Medeiros, meu primo Gérson Alemão, Mr. Gomelli, July, etc...): minha literatura (se é que podemos chamar assim) é escrita para salvar a mim mesmo de minha própria insanidade. Caso alguém mais se salve (sabe-se lá de quê?) já estarei no lucro.
Um forte abraço a todos os leitores, que eu estou indo para o meu retiro acadêmico-espiritual (Intercom em Caxias do Sul e depois seminário na PUCRS). Um dia, se Deus quiser, eu volto.