Picaretagem e analfabetismo funcional & futebolístico
Tenho me preocupado com a capacidade cognitiva dos seres humanos, em especial, dos brasileiros. Falando de forma bastante simplista, a capacidade cognitiva do ser humano está no ato dele descodificar e decifrar as mensagens que recebe, sendo que para isso, ele tem que ter aparatos mentais para unir uma informação com a outra e, com isso, entender a mensagem, seja ela falada, escrita, desenhada, etc. E nesse quesito o Brasil realmente preocupa, porque a falta dessa capacidade é o que chamamos de analfabetismo funcional, ou seja, a pessoa sabe ler uma palavra isolada, entende o seu significado, mas num contexto, ela não consegue interpretar a mensagem. Em pesquisa recente, o Brasil obteve um dos piores resultados no que diz respeito a interpretação de textos considerados simples. Ainda sendo simplista, é como se fosse escrito em uma prova “João foi do Rio para Salvador de ônibus”, e em seguida fosse perguntado: “Como João foi do Rio para Salvador?”, e a pessoa respondesse “ãhhn.. não sei, acho que foi de avião”. E no dia-a-dia, acabo percebendo esse analfabetismo funcional presente em situações práticas em nosso imenso Brasil.

Enfim, existem inúmeros exemplos de baixa capacidade cognitiva, como por exemplo, quando você explica tudo para alguém, passo a passo, o que deve ser feito para obter um resultado “X”, e a pessoa vai lá e faz o contrário do que você disse e acaba quebrando a cara. Ou quando você diz para uma criança não enfiar o dedo na tomada e ela vai lá e enfia (óbvio que as crianças, por uma questão de idade, não vão ter o mesmo mapeamento cognitivo de um adulto), ou quando uma mulher diz para o conjugue “não me traia senão vou te deixar” e ele vai lá e trai (e vice-versa), ou ainda, quando um treinador monta um time que toda a torcida vê que está errado e que vai perder.
Na minha modesta opinião, desta vez os treinadores de Grêmio e Inter, pelo menos nesse início de temporada, não estão cometendo os mesmos erros de seus antecessores e demonstram ter uma capacidade cognitiva um pouco mais apurada que Roth e Cia. O Fosati acertou em abrir os laterais, enquanto o Silas está se dando bem escalando Jonas e Borges na frente. Quando os treinadores mostram uma boa capacidade cognitiva e montam o time usando peça por peça explorando o que cada um tem de melhor, o resultado será, no mínimo, uma derrota jogando bem. Aliás, acredito que esse vai ser o objetivo do Grêmio amanhã, no Gre-Nal de Erechim: perder jogando bem. No entanto, torço para que o Silas se revele um gênio da tática, e faça esse Grêmio limitado superar o badalado e favorito Internacional.
* Texto publicado no Jornal das Missões desse sábado