Sobre férias, praia, livros e filmes
Estou
de férias em Xangri-lá, na casa dos meus pais. Aliás, esse tem sido o destino
das minhas férias nos últimos cinco ou seis anos. Sou um semimorador de
Xangri-lá, pois fico por aqui mais ou menos uns dois meses por ano. Essa é uma
praia tranquila, colada em Capão da Canoa, a casa no litoral de muitos
porto-alegrenses. Eu me implico com eles, os porto-alegrenses. No geral, eles
chegam aqui e pensam que estão lá: não respeitam faixa de segurança, sinais de
trânsito, filas preferenciais nos mercados e tudo o mais o que eles fazem na
caótica e suja capital dos gaúchos. Acabo resmungando: por que não ficam por lá,
diabedo? Esses dias fiz essa pergunta e minha pequena disse: mas tu também não
mora aqui! Eu respondi, de bate pronto, que sou um semimorador, pois meus pais
moram e eu fico 15% dos 12 meses do ano por estas bandas. Durante as férias,
todos os dias possíveis eu corro/caminho na praia por cerca de duas horas.
Esses dias fui correndo daqui, de Xangri-lá, até a frente da casa do meu amigo,
escritor e médico Sérgio Stangler (aquele mesmo que previu a minha morte e que
tem os originais inéditos do meu grande romance), perto do farol, em Araçá. Fui
pesquisar no Google e descobri que percorri – entre ida e volta – mais de 10
quilômetros. Tu vês.
Também
tenho aproveitado as férias para ler e ver filmes. Depois do livro do Jorge
Amado, comentado por aqui no penúltimo post, eu li “O sol é para todos”, da
Harper Lee. Um livro singelo, com uma história simples sobre o cotidiano da
família de um advogado que é contratado para defender um homem negro acusado de
estupro nos Estados Unidos segregacionista do início do século XX. Não vou dar
detalhes, mas a escrita da autora nessa obra me fez lembrar alguns livros da
primeira fase do Erico Verissimo, como “Olhai os lírios do campo” ou “O resto é
silêncio”. Terminado o livro, fui procurar o filme, que ganhou o Oscar de
melhor roteiro adaptado de 1963. Confesso que foi uma das melhores adaptações
de livros para o cinema que já vi.
Não
vou lembrar de todos os filmes que vi nesses dias. Destaco, positivamente, “The
rescue” (O resgate), um documentário que trata do milagroso salvamento do time
infantil de futebol que ficou dias preso em uma caverna alagada na Tailândia,
em 2018. Vale muito a pena e, creio eu, deva disputar o próximo Oscar da
categoria. Negativamente aponto “Faroeste Caboclo”, a adaptação da música do
Legião Urbana. Fui ver na expectativa de ver o João de Santo Cristo roubar as
velhinhas no altar, comer todas as menininhas da cidade e gastar todo o seu
dinheiro de rapaz trabalhador na zona, mas nada disso acontece. Além disso, o
pobre João só leva no cu (literalmente) durante o filme, mudaram a ordem dos
acontecimentos e suprimiram as partes em que ele se dá relativamente bem. Pobre
João. Uma injustiça. O resultado foi um filme decepcionante para quem, como eu,
ouve o clássico de Renato Russo desde os 10 anos (três décadas curtindo esse
som).
Voltando
para a literatura, dia desses li “Todo o dia a mesma noite”, um puta
livro-reportagem da jornalista Daniela Arbex sobre a tragédia da boate Kiss. Nessa
semana ouvi na rádia que estão fazendo uma série na Netflix baseada na obra,
que é dramática, emocionante, triste e revoltante. Também não darei “spoiler”.
Paralelamente a tudo isso, estou lendo um livro técnico de quase 600 páginas:
Mercado de Capitais, do professor da UFMG, Juliano Pinheiro. Um livro didático
e excelente para se alfabetizar minimente sobre finanças. Ainda vou escrever
mais sobre isso em breve, se a previsão do Stangler não se concretizar. E, por
fim, estou na metade da biografia do Lula, obra de Fernando Morais, que dei de
presente de Natal para o meu pai. Sobre ela talvez, se estiver inspirado, vou
falar mais futuramente. Ah, e obviamente, se a previsão do Stangler falhar.
Aliás, falando em morte, um dia talvez eu escreva um texto sobre o picareta
Olavo de Carvalho, que voltou para o inferno há pouco. Mas não posso garantir,
pois creio que ele não é digno da minha atenção. Se for, vai um texto para
divertir o cruel, diabólico e insaciável leitor.
Bueno,
chegou a hora da minha corrida/caminhada pela praia. Se eu não voltar nos
próximos meses é porque o Stangler acertou e, talvez, ficou rico.
Hasta!