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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Gonzofest - Day 4

Acordamos. Essa era uma das noites mais esperadas, mesmo que dois dias antes o William McKeen havia anunciado que não poderia comparecer ao evento devido a morte da sua sogra (!?!?). Um parêntese: McKeen escreveu a melhor e mais reconhecida biografia sobre Hunter S Thompson: Outlaw Journalist. Na época em que escreveu o livro, ele era professor de jornalismo da Universidade da Flórida. Agora ele é professor em Boston. Ok, admito, ele é metido a estrelão mesmo: aceitou meu convite no Facebook mas não me respondeu as duas ou três vezes em que tentei falar com ele. E não adianta dizer que não viu porque apareceu escrito “seen by McKeen at...” na janelinha do chat. Então, ele que vá tomar no cu, apesar do puta livro que escreveu... Enquanto biógrafo, escritor e jornalista ele é nota 10. Mas enquanto pessoa humilde é nota 0,01.
Então, Gonzinho e eu partimos rumo Monkey Wrench, que é uma espécie de Pub a moda antiga. Dessa vez consegui convencer o Gonzinho a não se chapar antes de sair, pois começava a temer pela sanidade mental dele. Chegamos lá e comecei a fotografar a decoração do troço, novamente toda em estilo Gonzo. Começamos a beber.
O problema é que a cada uma que eu tomava o Gonzinho tomava duas, ou mais. Ou seja, logo ele estava viajando.
- Gonzinho, vamos com calma, temos tempo.
- Não fode.
Esse Gonzinho.. Já não sei mais o que fazer com esse guri. Enfim, na primeira fala da noite aquele mesmo jornalista do primeiro dia que estava vendendo livros e foi embora depois de 20 minutos de evento falou sobre a sua obra. Na verdade até é interessante: é um livro-reportagem sobre plantações de maconha nos Estados Unidos. No entanto, como a minha mala já estava transbordando com super excesso de bagagem – e eu também queria economizar – acabei apenas ouvindo.
Depois, foi a vez do show de Ron Whitehead. E foi literalmente um show. Ele contou um pouco das histórias dele com o Hunter Thompson e recitou – com um super acompanhamento musical – alguns de seus textos, como o “searching for Jack Kerouac” (procure no youtube).
Em seguida, Frank Masina, um escritor, poeta e ator de New York deu um puta depoimento sobre Hunter Thompson. Postei algo no youtube. O cara, que até então eu achava apenas um “metido a besta bonitão com topete que se acha”, matou a pau. Até o Gonzinho estava concentrado nas apresentações. No entanto, um dos pontos altos da noite foi quando chamaram o poeta, músico e escritor
David Amram. O cara deve ter, sei lá, uns 80 anos. Tinha dificuldades para caminhar e parecia não estar lúcido. No entanto, foi só passarem-lhe o microfone que ele matou a pau. Porra, o cara foi amigo e andou com ninguém mais ninguém menos do que Jack Kerouac. Compôs músicas com ele. E tocou. Deu show. Deixou todos embasbacados. Sentíamo-nos em Big Sur nos anos 1950.
Quando terminaram as apresentações, Gonzinho estava emotivo. Com lágrimas nos olhos.
- Quê passa, azulzinho?
Nada. Silêncio.
- Porra, Gonzinho! Que merda é essa???? Vamos beber aê???
Ele nem dava sinal. Estava emocionado, saudosista, nostálgico. Acabei pagando uma pra ele. A depressão passou rápido quando apareceu uma ruiva que se sentou ao seu lado. O foda foi que do outro lado sentou a chapeleira maluca das noites anteriores. Acabei sobrando e deixei ele sozinho com as duas, afinal, ele estava precisando de consolo.
Fui para o bar e tomei umas com o Nick e outras pessoas. Sempre era apresentado como “o brasileiro que veio para Louisville para a Gonzofest”. Um até disse “cara, tu já tá famoso”. Apareceu até um americano que morou seis meses no Brasil e que falava mais ou menos português. Ele disse que morou em Goiás e que adorava as brasucas. E eu, caralho, me sentia muito valorizado com uma rodinha de americanos querendo ouvir sobre a minha pesquisa about Hunter S Thompson. É, amigos, provavelmente eu sinta falta disso tudo quando voltar ao Brasil e voltar a ser apenas mais um na multidão...
- Hey, this guy is the Brazilian that is here researching about Hunter Thompson!
E então mudava tudo. Provavelmente porque eu era o único gringo às avessas no local. O Gonzinho também estava fazendo sucesso. Só que, novamente, o problema era arrancar ele do meio da chapeleira maluca e da ruiva para ir pra casa.
- Gonzinho, vambora, tá tarde.
- Porra, caralho! Tu tá é velho! Me deixa um minuto!
Sinceramente, a essa hora o cansaço tinha me batido. E eu estava feliz de ver o Gonzinho recuperado do baque de horas antes. Então, botei em seu bolso uma nota de 50 dólares e disse:
- Enjoy, my friend. Mas lembre-se de guardar para o táxi.
E parti. Enquanto saía porta afora, ouvi as risadas do Gonzinho ao fundo.

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