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quarta-feira, 30 de abril de 2014

On the road - Reflexões texanas

Uma pausa no diário da Gonzofest de Louisville para algumas breves reflexões feitas a bordo, enquanto estou no ônibus, depois de um dia de estrada (ainda falta mais um) até chegar a San Diego, Califórnia. Vamos tentar botar um pouco em prática uma das ideias que Hunter S Thompson deixou para a prática do jornalismo gonzo: escrever o troço enquanto tudo está acontecendo.
Nesse exato momento estou em algum lugar não identificado do Texas, cercado por montanhas e grama seca – a impressão que se tem é que não chove aqui há um bom tempo. Provavelmente entre Dallas e a fronteira com o Novo México, próximo estado por onde o ônibus vai passar. Saí de Louisville ontem, às duas da tarde, e agora são quase cinco da tarde do dia seguinte. Cruzei alguns estados, como Teneese e Arkansas, sendo que o segundo em sendo atingido por tornados e tempestades nos últimos dias, deixando mais de 20 vítimas fatais.
Enquanto cruzávamos o Arkansas, aonde foi feita uma parada em Little Rock, passamos por uma tempestade, mas não sei identificar se era um tornado ou não (não sou meteorologista ou geólogo ou geógrafo para saber o que torna uma tempestade com ventania em tornado ou em furacão). Mas enfim, haviam muitos obesos no ônibus, por isso não fiquei preocupado que ele pudesse sair do chão.
Aliás, um gordos sentou do meu lado e outros dois nos bancos laterais ao meu. Entraram no ônibus com uma bandeja de plástico com hambúrguer cheio de condimentos e batata frita gordurosa, mesmo eles estando quase explodindo. Dois dos gordos faziam barulho de ronco, mesmo acordados, provavelmente de tão gordos – e mesmo assim não calavam a boca e não paravam de se mexer. Um tinha a pança com o umbigão de fora, pois a camiseta não dava conta. E falavam e riam alto, como o gordo caricatural das comédias americanas. O motorista pediu três vezes para baixarem o tom de voz, mas eles debochavam e davam risadas tão estúpidas quanto as suas panças.
Passados os gordos, que desceram em algum lugar pelo caminho, sentou-se do meu lado um senhor velhinho com cara do Batoré, da Praça é Nossa. Eu estava no Facebook, e quando alguma amiga minha postava uma foto que aparecia na minha timeline ele comentava “hmmmmm, she is so beatifull”. E quando alguém postava aquelas mensagens com fotos ele queria que eu traduzisse para o inglês. Enfim, pelo menos com esse acabei me divertindo um pouco, pois era engraçado traduzir aquelas mensagens toscas de Martha Medeiros e Jô Soares para um senhor texano.
Ah, e a outra coisa a comentar. Estou viajando pela empresa Greyhound, que, creio eu, é a maior empresa de ônibus interestadual norte-americana. Tchê, eu tenho seis passagens (que equivale ao trajeto Louisville-San Diego). Isso mesmo, ao invés de eu ter apenas uma passagem e a cada “conexão” apresentá-la, eu tenho uma para cada trajeto. E, além disso, eles me deram um ticket, com um número, para quando eu descesse do ônibus no caminho. Então, na primeira parada eu desci e na volta mostrei o ticket. O cara queria a passagem (além do ticket). Eu disse que estava dentro do ônibus e o cara fez eu esperar todo mundo entrar para eu ir lá buscar a porra da passagem para mostrar para ele (não sei por que então deram o maldito ticket!!!). Na outra parada, eu peguei apenas a passagem do trajeto que eu estava fazendo. Então, eu mostrei para a motorista o ticket e a passagem referente ao trajeto em questão. E a filha da puta queria ver TODAS AS PASSAGENS!! Caralho. Lá fui eu de novo buscar a papelada no ônibus. E, além disso, a cada parada, TODOS DEVEM SAIR DO ÔNIBUS E ENTÃO TEM UMA FILA PARA EMBARQUE E OUTRA PARA REEMBARQUE! PUTAQUEPARIU!!! Por isso postei no Facebook que começo a achar que os americanos querem superar os brasileiros em burocracia (apesar de na real, nós, brasileiros, é que copiamos o sistema deles em quase tudo – até no que não deveríamos).
Bom, enfim, assim cheguei em Dallas hoje de manhã, aonde troquei de ônibus, tirei umas fotos da cidade, e agora estou no meio do Texas. Nas paradas para comer já vi uns sujeitos com estilo de cowboy usando chapéu tipicamente texano. Ah, e claro, lembrei da minha colega (ou melhor, ex-colega, pois agora ela já é doutora) Lirian, que fez o sanduíche dela aqui no Texas.
Para passar o tempo, tento ouvir a Gaúcha, pois hoje de noite tem jogo do Grêmio, mas a porra do sinal cai a toda hora, o que quer dizer que provavelmente vai ser um inferno e uma angústia sem fim acompanhar Grêmio e San Lorenço.
Mesmo crendo que ninguém chegou até aqui no texto, queria comentar outra coisa, aproveitando os ares texanos. Eu desisti de comentar questões políticas e de segurança e justiça no Face, pois essa é uma verdadeira zona virtual. No entanto, vou escrever aqui a minha incapacidade de entender como a cara de pau do trio envolvido no assassinato do garoto Bernando pode ser tão grande quanto a crueldade. E não é questão de a imprensa e o jornalismo julgar e condenar antes da Justiça (até porque não confio muito na Justiça e nas instituições oficiais do nosso país). Os jornalistas divulgaram o que estava sendo apurado desde o início e, nas redes sociais, as pessoas que conheciam a família também publicaram muita coisa, como fotos e histórias revoltantes, etc. Ou seja, considerando que tudo o que foi dito sobre o fato do Bernardo ter procurado as instituições responsáveis (vejam só, para um garoto de 11 anos fazer isso a situação era horrível mesmo), tendo visto as fotos de todos os colegas do Bernardo no colo de seus pais, enquanto o monstro estava sentado e o garoto de pé em uma reunião de pais do colégio dele, tendo ouvido a entrevista em que o pai do Bernardo estava praticamente rindo ao falar que o seu filho estava desaparecido há uma semana (e que ele chama de “esse menino”), tendo lido o depoimento da ex-empregada da família que disse que a madrasta tentou sufocar o garoto com um travesseiro tempos atrás, enfim, são tantas provas que foram divulgadas ao público, e sabendo que tem gente que é assim mesmo, que põe o dinheiro acima de tudo, não tem cabimento ver agora o jornalismo dar tanta trela para as histórias absurdas e sem sentido e claramente elaboradas para aliviar a pena do trio! Porra, acabei de ler que o advogado da madrasta está dizendo que o crime foi UM ACIDENTE!!!! Não tem como acreditar!!! Aliás, não tem como acreditar numa cara de pau dessas!!! É muita desumanidade! Se esses três monstros quisessem aliviar um pouco a alma (mesmo considerando isso praticamente impossível) eles mesmos deveriam dizer “eu quero passar o resto da minha vida na cadeia para pagar pelo que fiz!”. É muito, mas muito revoltante. E, para um jornalista metido a escritor amador como eu, é impossível ver tudo isso sem manifestar nada. E o pior, pelas notícias que vejo, não me surpreendo se os grandes veículos baixarem a cabeça para ordens de uma Justiça corrupta e ficarem divulgando apenas as “versões oficiais”. Putaquepariu. Esse é o típico jornalismo engessado e medíocre, aliás, um anti-jornalismo que se baseia apenas nas versões das autoridades, que não são nem um pouco confiáveis nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, como já mostraram Hunter Thompson, Gay Talese e tantos outros....
É triste ver jornalistas baixarem tanto a guarda para essas instituições oficiais, ao invés de fazerem o seu trabalho (e o pior é que quando fazem, chove acadêmicos de diversas áreas querendo dizer que “o jornalista não é policial e não é juiz”. Pois aí é que está. O jornalista deve revelar os fatos, e não se basear na versão da polícia ou do juiz. E se a polícia e o juiz estão fazendo um péssimo trabalho, isso deve ser mostrado, sim senhor. Aliás, imaginem se Truman Capote tivesse escrito A Sangue Frio de um escritório em Nova York baseado nas versões oficiais e apenas na história das "autoridades".
Bom, me empolguei. Caso eu não volte mais a bordo, no próximo post sigo com a Gonzofest, que celebra o trabalho e a vida de um cara que, à sua maneira, cumpriu a função que o jornalismo e o jornalista tem na sociedade.
Enquanto isso, sigo on the road.

2 Comentários:

  • Óia tchê, essas burocracias idiotas me irritam tanto que nessa situação eu já teria ido preso ou seria expulso do ônibus porque ia xingar muito esses caras! Kkkkkkkkkk
    Fuck german!

    Por Blogger Marcos, às 1 de maio de 2014 às 03:21  

  • Quanto a esses assassinos tô com tanto nojo que até evito ver as reportagens; pra piorar a mulher do cara foi trazida pra penitenciária de Ijuí! A assassina tá aqui! Putaqueopariu!

    Por Blogger Marcos, às 1 de maio de 2014 às 03:26  

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