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domingo, 27 de abril de 2014

Gonzofest - Day 2

O Gonzinho roncou a noite inteira e tive que dar umas almofadadas nele. O filho da puta acordou antes do que eu, lá por duas da tarde, e mandei ele dar uma volta e que retornasse apenas na hora de sairmos para o segundo dia da Gonzofest, que seria na Open Galery. Antes do azulzinho narigudo azul voltar, eu conferi no Google Maps a localização do troço e constatei que era relativamente longe de onde estávamos hospedados. Ele chegou. O desgraçado entrou no quarto fedendo a elementos químicos não identificados e não estava falando coisa com coisa. Mandei tomar banho e ficar pronto, pois teríamos que sair mais cedo para achar o tal lugar.
Pegamos o busão 23 na Brodway (creio que quase todas as cidades americanas tem a sua Brodway) e descemos na 4th Street (estávamos na 36th com Brodway). Então, acreditei que o troço fosse relativamente perto de onde descemos, mas tudo não passou de ilusão.
Passamos pelo Central Park - um parquinho com o mesmo nome do coirmão famoso de Nova York - pela University of Louisville e andamos mais um monte. Passamos uma ponte e o estádio dos Cardinals Louisville, o time de baseball e de futebol americano da cidade. E, finalmente, depois de mais de uma hora de caminhada, chegamos na tal Open Galery.
O lugar era pequeno mas sinistro. Provavelmente o espaço mais bem produzido de todos os utilizados para a Gonzofest. Era uma galeria de arte, com toda a decoração feita em estilo Gonzo, mas havia sala, cozinha, sofás, mesas, e um bar improvisado num canto. O Gonzinho sumiu. Em pouco tempo, apareceu com dois copos de vinho. Eu disse: “vá devagar, bicho estranho!”, mas ele nem bola. Em pouco tempo começou a dizer que estava vendo mulheres só de roupas de baixo andando pelo salão. Por um momento jurei ter visto o mesmo, mas não, creio que era tudo fruto da imaginação do Gonzinho...
Logo que chegamos, o cansaço físico bateu. Foram alguns quilômetros de caminhada. Sentei no sofá, junto com um cachorro preto, que andava circulando por lá com um lenço kentuckyiano. O bicho sentou no meu lado e trocamos uma ideia rápida.
- O que você pensa que o Hunter Thompson pensaria disso aqui se fosse vivo?
- Olha bicho, não sei – começou o cachorro – Mas pelo que conheci dele, provavelmente estaria bebendo, sendo o centro das atenções, conversando com todo mundo e pedindo para que cada um lesse em voz altas um de seus textos, exatamente como ele fazia em Owl Farm.
Boa. O Gonzinhou voltou abraçado em duas mulheres seminuas. É o preço que se paga por ser fofo. Elas pegavam no seu nariz grande e azul e faziam “cuti-cuti”. Ao contrário da obesa da noite anterior, que quando o enxergou abanou balançando os dedinhos, agora ele queria ficar no meio de uma loira e uma ruiva. Legítimo jaguara, como diriam nas Missões.
Dali a pouco sentou uma mulher afrodescendente do meu lado, de cabeço pixaim. Contou-me que era jornalista de um país da América Latina, que já não lembro o nome – algo como Haiti ou Panamá. Quando eu disse que era brasileiro, pediu para me entrevistar. Ok.
Falei sobre a minha pesquisa, como fui parar em Nova York, o motivo de eu gostar do Jornalismo Gonzo e me interessar no trabalho do Hunter Thompson. Passou um tempo, e outra jornalista sentou-se do meu lado. Trabalhava para uma revista de cultura de Kentucky. A mesma conversa. Depois que fiquei a sós com o cachorro preto no sofá de novo, eu simplesmente fiquei um bom tempo ali, sentado, olhando tudo, tomando uma cerveja, observando tudo o que se passava.
Quando ganhei ânimo para sair dali, conversei com o Ron Whitehead, que como disse no post anterior, vai ser tema de um texto futuro específico. Também conversei com o senhor da Califórnia e com a dupla que na noite anterior estava bêbada e que, curiosamente, agora estavam tão sãos quanto um mórmon. Um carinha, que disse trabalhar para uma rádio local, aproximou-se e perguntou se eu era o brasileiro. Pediu para me entrevistar. Eu expliquei que meu inglês não era lá essas coisas, mas como ele topou, vambora.
Durante a noite, várias bandas se apresentaram e, novamente, houve várias leituras de textos com acompanhamento musical. Para quem leu a biografia de Thompson, isso faz todo o sentido, pois ele, sempre que terminava de escrever um texto, pedia para alguém ler em voz alta para ele ver a “sonoridade” e a “música” das palavras e da narrativa. Ou seja, era comum um convidado chegar a Owl Farm, no Colorado, e ser recebido com um “pegue isso aqui e leia em alto e bom tom, please”.
No geral, as pessoas estavam estranhamente mais bem comportadas do que na noite anterior. Talvez estivessem intimidadas pela decoração mais agressiva. Ou cansadas mesmo, vá saber. O único que não se intimidou foi o Gonzinho, que em pouco tempo estava ensinando a Dança do Esquisito pra um grupo de americanos.
O pessoal já estava dispersando quando o Nick novamente me ofereceu carona. Até ele estava irreconhecível, pois estava absolutamente sério e comportado. No caminho, percebi que estava nervoso. Quando começamos a entrar na parte negra da cidade, o bairro em que eu estava hospedado, ele explicou os seus motivos: “não me sinto confortável nessa região, sabe... E o pior é que não tenho nem uma arma aqui comigo...”. É, meu amigo, problemas raciais e sociais não são exclusividades brasileiras...
Cheguei em casa e, dessa vez, dormi antes que o Gonzinho.

3 Comentários:

  • Damn man, the gonzinho're doing better than ordering!

    Por Blogger Marcos, às 28 de abril de 2014 às 03:23  

  • fuck german! cool parties

    Por Blogger Zaratustra, às 28 de abril de 2014 às 15:55  

  • Leitura interessante. Um rítmo rápido e a imaginação fluindo... com o Gonzinho, o cachorro que conversou sentado no sofá kkkk. Muito bom. Divertido! Fico imaginando a loucura... "Daquele" cara que estava lá vendo tudo isso. kkkk. ver pode ser uma questão literária, lutúrgica ou Gonzoniana, ou tudo isso junto. Bom mesmo! Ah, dá uma repassada na ortografia depois. Deve ter sido um desafio e tanto escrever esse texto aí American Gonzo Man!

    Por Blogger Márcio, às 28 de abril de 2014 às 19:43  

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