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sábado, 19 de abril de 2014

Chicago - Os brasileiros

Quando cheguei em Chicago e peguei um táxi até o hostel, o motorista, sei lá porque diabos, saiu com essa: “acabei de levar uns brasileiros para esse lugar que você está indo”. No entanto, assim que cheguei no hostel, demorei um pouco para encontrar os tais brasileiros. Na verdade, os primeiros brasileiros que encontrei foi na manhã seguinte ao empate do Grêmio com o News na Argentina pela Libertadores. Estava tão empolgado com o gol nos 45 do segundo tempo, que fui tomar o café da manhã com a minha camiseta do Grêmio. Havia três gurias e um cara no café, e eu vi que uma das gurias cutucou a outra com o cotovelo e, rindo, apontou em minha direção. Eu olhei para os lados para me certificar de que era de mim que estavam falando, mas não havia ninguém por perto. Pensei que eu estivesse com a camiseta virada, com alguma sujeira, ou tivesse esquecido de colocar as calças, sei lá, nunca a mulherada fica me olhando dando risadinhas... a não ser que eu esteja vestindo algo muito bizarro... Mas, como elas continuavam me olhando incessantemente, e eu estava passando em direção a cozinha, cumprimentei, em inglês:
- Hello.
Ao que responderam:
- Você é brasileiro? – em claro e bom português.
Bom, acontece que uma das três era de Cerro Largo e também era gremista. Então, tomei café com o pessoal, que iria embora já na manhã seguinte. Era uma turma do Ciências sem Fronteiras, que fazem Engenharia ou qualquer outro curso das ciências exatas. Eles me explicaram mais ou menos como funciona a bolsa deles e, devido a um feriadinho que havia, não lembro de que, estavam aproveitando para passear em Chicago. Na verdade, essa foi a única vez em que vi esse grupo.
Dias depois, eu estava novamente com a camiseta do Grêmio, assistindo no computador a Grêmio e Juventude pelo Gauchão, quando de repente chegou um cara meio alemão, alto e com a maior pinta de americano. Como outro dia eu estava assistindo a um jogo do Grêmio e um americano foi espiar, só de curioso, pensei que era outro gringo enxerido. Mais uma vez cumprimentei em inglês:
- Hello.
- E aê, tá vendo o jogo do Grêmio?
O cara, inacreditavelmente, era gremista. Ele estuda em Santa Maria e também está pelo Ciências sem Fronteiras, mas em uma universidade em uma cidade no norte do estado de Nova York. Também estava aproveitando a semana de folga na faculdade para passear em Chicago. Esse é o Christofer, que foi no jogo do Bulls, que comentei num post anterior, e que conheceu o Louco. No fim, ele ficou uma semana inteira na cidade, então, acabou se tornando uma boa parceria para passar o tempo no hostel. Praticamente todas as noites jogávamos pebolim e sinuca. Enquanto eu raramente perdia no pebolim, ele me massacrava na sinuca (só ganhei uma).
Bom, também tivemos papos cabeça. Na verdade, um dos pontos de reflexão sobre a sociedade americana é a lei bizarra que não permite que menores de 21 anos bebam. É bizarro, porque como eu comentei com o Christofer, o cara pode ter 21 anos, ser pai de família, trabalhar, sustentar a si mesmo e aos outros e, mesmo assim, ele não tem o direito de tomar UM COPO DE CERVEJA NUM DOMINGO DE TARDE EM CASA PARA RELAXAR! Aos poucos vou entendo cada vez mais porque o Hunter Thompson era tão revoltado com as regras e as leis americanas... Ele se indignava contra esse controle estúpido que o estado tenta ter na vida das pessoas. Mas, enfim, como o Christofer tinha 19 anos (apesar de aparentar ter mais de 21), ele, teoricamente, não podia beber. Então, quando ele queria beber, eu acabava comprando a cerveja na farmácia – outra coisa bizarra: perto de onde estávamos havia um mercado que não vendia cerveja, mas por outro lado, você poderia sair da farmácia com um fardinho de Buds. E, assim, geralmente a gente ficava por ali, no hostel, bebendo, jogando sinuca, pebolim e filosofando sobre a humanidade. Teve um outro brasileiro, mineiro, que apareceu numa noite – o mesmo que citei no texto sobre o louco.
Pois é, e apesar de nós chamarmos o Louco de “louco”, provavelmente o louco e os americanos que estavam no hostel devem ter dito o mesmo sobre a gente certa noite. Acontece que eu, o Christofer e o mineiro estávamos sentados na recepção do hostel, bebendo umas Bud, e começamos a discutir assuntos polêmicos, como a queda da obrigatoriedade do diploma de jornalista, política, futebol, essas coisas... Não vou entrar aqui nos argumentos de ambos os lados, mas creio que já era uma da madrugada, a ceva já estava tomando conta dos neurônios, e só lembro de berrar muito com o Christofer, botando as mãos na cabeça, dizendo “não acredito! Não acredito que você pensa isso!!”. No outro dia ele disse que pensou que eu fosse bater nele... Tchê, acho que não chegaria a esse ponto, mas o fato é que provavelmente eu apanharia, pois ele é muito maior do que eu...
Na hora pensamos que a discussão era a de mais fundamento, mas no outro dia, rimos muito quando lembramos do ocorrido e das histórias do louco....
E, antes de vir embora, no nosso último dia na cidade, chegou uma mineira, que estuda teatro e que ia ficar em Chicago para uma semana de curso. Acabamos nós três almoçando juntos, antes de eu e Christofer partirmos de tarde.
Foi engraçado e irônico, porque eu, que antes de vir para cá dizia que não iria andar com brasileiros (mais para pegar o inglês mesmo), me senti muito bem na companhia dos outros brasucas. Claro que é bom para o inglês e tudo o mais as conversas com os gringos, mas de vez em quando você sente falta de falar em português com alguém que entende exatamente o que você está falando (mesmo que isso gere uma puta discussão)....
Well, essas foram as minhas experiências verde-amarelas em Chicago. Antes de partir para a Gonzofest, em Louisville, vou dar uma pincelada geral sobre a cidade, no próximo e, creio eu, último texto sobre a cidade de Al Capone.

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