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domingo, 6 de abril de 2014

Primeira parada: Washington DC – 1° dia

A viagem de Nova York rumo a Louisville e à Gonzofest teve a sua primeira parada em Washington DC, capital dos Estados Unidos. Meu plano inicial era chegar na quinta-feira, dar uma checada na cidade e, na sexta feira, almoçar e conversar com a Clarissa Verissimo, filha de Erico Verissimo, e irmã mais velha do Luis Fernando Verissimo. Clarissa mora lá, e nada melhor do que uma conversa com ela depois de ter escrito a minha dissertação de mestrado sobre o Erico. No entanto, antes mesmo de eu viajar, ela desmarcou o encontro porque estava doente e precisava de repouso. Lamentei muito pela oportunidade perdida, mas como eu não podia fazer nada, troquei esse compromisso por mais um dia de visitas aos lugares históricos de Whashington DC, afinal, eu partiria no sábado.
Contrariando as minhas previsões, março é um mês gelado na região de NYC. Pegar o ônibus de manhã foi uma bosta. Saí do apartamento em que estava, no Up West Halem, com duas malas grandes e uma mochila nas costas, num frio de rachar. Amaldiçoei o inverno americano até a alma. Depois de andar com aqueles trambolhos no metrô lotado cheguei na fila da Megabus, que é a empresa que vende passagens intermunicipais e interestaduais a partir de U$1. Para Washington eu havia pago algo em torno de $3. Mas meu lucro foi para o espaço na hora de colocar as bagagens no ônibus. E aí vai uma dica: viajar com mala, seja de avião (conforme já relatei), seja de ônibus, é uma merda – mas uma merda ao cubo.
O carinha da empresa olhou pra mim e disse “too many bags, man”. E eu: “what can I do?”. E ele “I don’t know”. Filho da puta do caralho, pensei. Aí me baixou o espírito do Hunter Thompson com uma mistura de “jeitinho brasileiro” (sei que é asqueroso, mas na hora do desespero não tinha o que fazer), enfim, pensei em dizer que eu estava morando no prédio que desabou um dia antes no Harlem e que estava sem teto e que precisava ir para Washington de qualquer jeito e que aquelas duas malas era tudo o que eu tinha e que... Estava pensando nisso tudo, formulando um drama mental, quando o carinha voltou e disse “Ok, você pode pagar pela bagagem extra”. Depois saquei que eles sempre fazem essa cena. Não é só no Brasil que tem funcionário filho da puta e sem coração. Paguei U$25 dólares pela mala extra. Ainda assim, se comparado com as empresas “normais”, acabei lucrando, pois no total gastei U$28.
Esse lance da mala está sendo até agora uma dor de cabeça. Enfim, espero que um dia acabe. Só mais tarde eu fui me ligar de fazer um lance para não
sofrer tanto prejuízo, mas fica para a postagem de Pittsburg. Acabei chegando em Washington DC.
Primeiro: a sensação que você tem é de que está chegando, sei lá, em Catuípe. Sem exageros. Tem uma lei que limita o número de andares dos prédios, então, pelo menos na região da rodoviária, não há prédios. O ritmo da cidade é lento, interiorano. E, realmente, você logo percebe que a maioria da população é negra, conforme já tinha lido em vários lugares. E, surpreendentemente, há um enorme número de pedintes nas ruas. Eles não chegam a ameaçar, como fazem os de Fortaleza (CE), mas são chatos. São chatos porque insistem. E, muitos deles, você olha, e estão em perfeitas condições físicas e mentais e, porra, são americanos! Se tem tanto estrangeiro trabalhando ilegalmente nos chamados “subempregos”, por que eles não vão ocupar essas vagas? Enfim, uma das tantas perguntas das quais ainda não encontrei resposta... Mas é chocante você estar no país economicamente mais forte do mundo e ver, na sua capital, esse cenário com tantos problemas sociais... (abro um parêntese para dar o braço a torcer para a Lirian Sifuentes: realmente, foi só sair de Nova York para a minha visão sobre os Estados Unidos começar a mudar....).
Bom, como ia dizendo, a cidade é pacata. Nada a ver com os filmes, intervenções ao vivo que a gente vê no noticiário... O bom é que, assim como Nova York, as ruas e avenidas seguem uma certa ordem lógica. Umas são por números e outras são por letras. Ou seja, você segue a ordem 1, 2, 3, 4, 5, etc em um sentido, e no outro você segue o alfabeto: A, B, C, D... Então, eu estava na Sete com a J, ou algo assim. E fui procurando, seguindo pelo mapa. Mas eis que os americanos às vezes também são filhos da puta, e eu fui para no lado West e meu hostel era no lado East (ou vice-versa). Ou seja, você tem 1J West e East. Resumindo, andei sete quadras a toa para o lado errado... Uma merda. Xinguei todos os presidentes americanos em pensamento enquanto voltava, a pé, para o lado oposto. Fuck you Lincoln, fuck you JF Kenedy, fuck you Nixon, fuck you Bush, fuck you Obama, fuck you Clinton, etc... Fiz tudo a pé porque a cidade é plana, então, com malas de rodinhas você pode andar bastante sem se cansar tanto...
Depois de, sei lá, quase duas horas, achei o bendito (que depois seria maldito) hostel. Primeiro achei uma boa, pois era um prédio bonito, novo, organizado, com uma bela recepção. Mas, depois descobri que ali ficava o pessoal da “primeira classe”, ou seja, o meu prédio era outro, a umas duas quadras dali. E aí o troço ficou maldito, pois era um prédio velho que não havia, ou não estava funcionando, ou não ligaram, a porra da calefação. E estava frio pacaralho. Mas fui descobrir isso mais tarde, pois larguei minhas malas e fui para a Casa Branca.
Outra mudança de imagem na minha mente.
A Casa Branca, ao contrário do que via pelas imagens na TV, fica no centro. Até então eu achava que era isolada, longe da cidade, como num sítio. Mas que nada. Primeiro, nem é tão grande. Segundo, fica em frente a uma praça, bem no centro de Washington. Você está andando pela rua normalmente e, quando vê, lá está a Casa Branca. Há vários turistas tirando fotos e você enxerga perfeitamente a porta de entrada. Se o Obama aparecesse, daria para ver ele perfeitamente e, com certeza, ele escutaria o que as pessoas falam ou gritam no portão... Na frente da Casa Branca há uma velhinha acampada. Fui lá ver, de curioso, e depois de eu falar que era do Brasil, ela me entregou uma reportagem em português. Mora lá há mais de uma década em protesto contra a violência no mundo. E, claro, assim como todo mundo nesse país, espera que você dê um “tip” ou algum dinheiro em prol da sua causa.
Com o tempo você descobre que precisaria ser milionário para pagar todos os “tips” e pedidos de ajuda por boas causas nesse país tão... tão... capitalista! Então, apenas murmurei um “nice” depois de ler a matéria, dei um sorriso amarelo e saí de fininho...
Bom, como já era final de tarde, e havia o jogo do Grêmio contra o New’s da Argentina na Arena, resolvi deixar apenas a Casa Branca para o primeiro dia. O que foi uma boa, pois me deu um tempo extra para o segundo dia. Na volta, resolvi passar pelo prédio do Washington Post, pois ficava no caminho. Acabei dando bobeira, poderia ter agendado uma visita antes, afinal, foi lá que se desmembrou todo o caso Watergate que resultou na queda do Nixon nos anos 1970... Foi lá que ocorreu toda a história do livro, que viraria filme, escrito por Bob Woodward, Todos os homens do presidente...
Mas, como diria o ditado, “quem não arrisca, não petisca”, apertei o interfone na cara de pau e disse que era um jornalistas brasileiro que queria conhecer a redação... Não colou muito, pois me disseram para ligar para a Central de Atendimento. Para o inferno! Acabei tirando umas fotos na frente e seguindo de volta para o hostel. O legal é que Washington é uma cidade pequena, então você vai andando pelo centro, e mesmo sem querer, ou sem se programar, você acaba passando por prédios e monumentos históricos...
De volta ao hostel, fui ver o jogo do Grêmio. Bom, para você entender, o tal do hostel na verdade era uma casa com quatro peças: duas grandes, onde ficavam quatro beliches numa e três na outra, uma cozinha pequena e o banheiro. Eu estava numa cama de frente da porta, longe da cozinha, e o sinal da internet de lá era uma bosta. Depois de assistir ao primeiro tempo do jogo do Grêmio com a porcaria trancando a toda a hora, me dei conta de que o sinal era o problema, então fui para a cozinha de onde pude ver todo o segundo tempo.
Nessa noite havia um monte de chinezinhos no quarto (como vou comentar em outros textos, eles estão dominando o mundo). Só que eles são fechados, e acho que não falam inglês muito bem, então, eles só conversavam entre eles (em chinês, óbvio). Por fim, quando acabou o jogo, tratei de tentar dormi. Tarefa que não foi tão simples quanto parecia.
Como disse, a calefação não funcionava, ou não tinha mesmo. E estava um frio de 0 grau. Para conseguir dormir, tive que colocar duas calças jeans, duas meias e a minha jaqueta térmica. Mas enfim, apesar do sofrimento, depois de penar um pouco, contar carneirinhos e tentar relembrar mentalmente algumas coisas da vida, acabei pegando no sono e, provavelmente, sonhei com o Polo Norte e o Papai Noel...

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