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quinta-feira, 13 de março de 2014

Tragédia em Manhattan


*Texto publicado no J Missões de hoje.

No momento em que escrevo essas linhas, dia 12 de março, completo sete meses de Estados Unidos – seis e meio em Nova York. Há sete meses cheguei ao Harlem, em um prédio na 116 Street, entre a Park Avenue e Lexington. Fiquei morando três meses nesse lugar. Depois disso, fui para o outro lado do Harlem, para a beira do Rio Hudson. Porém, como iria para Miami e minha irmã viria me visitar na minha volta a NY, deixei reservado esses prédio na 116 Street para março, inclusive, pagamos uma parte adiantado. Um mês atrás a dona do apartamento me procurou para devolver o dinheiro pois ela receberia um amigo em março e não poderia mais me alugar o espaço, então, peguei outro apartamento no lado West do Harlem, na 181 Street.
Como na terça-feira, dia 11, passei o dia em Boston e caminhei bastante, na quarta dormi até mais tarde. Acordei perto do meio-dia, liguei a TV e me deparei com a notícia: um prédio na 116 Street com a Park Avenue explodiu. Estava lá, na TV, a rua onde morei toda esfumaçada, com dezenas de caminhões de bombeiros, o prefeito de Nova York, De Blasio, toda a imprensa, etc. Um prédio, na mesma quadra, explodiu, devido a um problema no sistema de gás. Uma igreja do lado também desabou. E os prédios ao redor tiveram que ser evacuados pois tiveram as suas estruturas afetadas.
Talvez o que eu devesse sentir fosse uma sensação de alívio, por não estar lá, mas não consigo. Vendo as imagens na TV, de familiares desesperados procurando por amigos e parentes, vendo fotos chocantes nos sites dos jornais americanos, não consigo me sentir aliviado. Muito pelo contrário, é perturbador ver essas imagens num lugar onde morei. Eu poderia estar lá, mas não estava, no entanto, as pessoas que moravam ali perto, os vizinhos de prédio, aqueles que estavam todos os dias ali pela rua quando eu passava em direção ao metrô, o pessoal que trabalha no restaurante da esquina, praticamente do lado do prédio que explodiu, onde tantas vezes almocei, enfim, tudo está lá.
Tudo isso me faz pensar no quanto todos, independente de nacionalidade, cor ou religião somos, verdadeiramente, irmãos. Não é demagogia religiosa ou política, mas sempre vemos as notícias dos outros países como algo distante, longe de nós e de nossas vidas, e, de repente, encontrei-me do lado de onde a tragédia estava ocorrendo e aquelas pessoas que nasceram e cresceram tão longe de onde eu nasci e cresci, de repente, estavam todas do meu lado. Senti o mesmo com a tragédia do avião da Malásia, vendo tantos chineses pelas ruas de Nova York e vendo a imagens de chineses chorando ao saber da perda de amigos e familiares em Pequim. Penso em tudo isso agora, mas também não esqueço das nossas próprias tragédias, como a da boate Kiss, no ano passado, ou do acidente com o avião da TAM em Congonhas. Infelizmente as tragédias fazem parte da história humana. E o que pode-se fazer numa hora dessas é simplesmente rezar (pelas vítimas e pelos que ficam) e crer que os que partiram agora estão em um mundo melhor que o nosso.

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