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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Terceira parada: Detroit (medo e delírio num quarto de hotel)

A viagem de Pittsburgh para Detroit foi bizarra. Creio que eu já nem pensava mais. Não sabia mais quem eu era nem aonde eu estava. Mas a vista dos dois primeiros bancos que se tem no andar de cima da Megabus era maneira. O problema era dormir, pois ficava tudo claro. E a senhora que me ajudou a embarcar estava afim de conversa: contou a vida dela, dos filhos dela, dos netos, dos ancestrais, etc. Mas eu não sentia nada. Talvez alívio por finalmente estar viajando sem ter que pagar excesso de bagagem. Resumindo, creio que das cinco da manhã, quando saímos, até a uma da tarde, quando chegamos em Detroit, eu tenha dormido uma hora. No caminho, o ônibus entrou em outras cidadezinhas, dentre as quais, Clevland. Aprendi a pronunciar corretamente Clevland. Você precisa colocar a língua lá no fundo e então jogá-la para a frente na pronúncia dos dois “L”s. Cllllevllllland. Yes! Fiquei mais aliviado ao saber pronunciar Clevland corretamente.
Chegamos em Detroit e realmente o cansaço era sinistro. Não paguei excesso de bagagens, mas acabei tendo que pegar um táxi, pois não sei se meu cérebro associaria bem as coordenadas para pegar um ônibus até o hotel. Na verdade era um hotelzinho de beira de estrada, chamado Stay Inn. Era o mais barato que encontrei na internet, mas o quarto era muito bom. Na cama cabiam tranquilamente três adultos. Ou dois gordos. Mas bem gordos. E cada um poderia dormir sem encostar no outro. Nunca tinha visto cama tão grande.
Eu queria conhecer a cidade, mas realmente não tinha condições de fazer nada. Falei rapidamente com a patroa no Brasil e a Larissa estava doente, com febre, vômito. Então, juntou-se tudo, cansaço, vontade de estar em casa, de cuidar do meu nenê, e chorei feito uma criança. Pela primeira vez, só para os que diziam que eu sentiria saudades se enxerem de razão, chorei muito. Até que simplesmente dormi. Creio que devo ter dormido das quatro da tarde até às dez, quando entrei novamente na internet para ver como estava a minha nenê. E então dormi de novo, creio que da meia noite até as dez da manhã do outro dia. O ônibus para Chicago sairia no final da tarde e o check-out do hotel era às onze. Fiz a porra do check-out, aliviado por ter colocado o sono em dia e porque a Larissa estava melhor, e peguei um táxi. O frio era de matar, creio que uns -8 °C. Ou seja, meu plano de ficar matando tempo na praça na beira do rio ficou meio insano e o taxista me convenceu a me deixar no “Big Coney Island”. Imaginei que fosse um shopping, afinal, ele enchia a boca para dizer “vai até o BIG Coney Island, lá você pode tomar um café, esperar, comer um negócio e tal”. Cheguei no lugar e o taxista me largou lá dentro, mostrando-me para o dono, o que me fez ter certeza de que ele ganhava algum lanche ou coisa parecida por levar seus clientes lá... De início pedi um café, pois tinha almoçado no restaurante do hotel antes de sair. Havia um monte de gente com roupa de irlandês, pois era o tal do St Patrick Day, dia em que todo mundo sai para beber no café da manhã. Entrei no clima, e acabei tomando duas ou três Buds. Faltando pouco mais de uma hora, resolvi sair e ir até a praça aonde tem monumentos e de onde você enxerga o Canadá do outro lado do rio.
Eu não sabia que a cidade do outro lado era o Canadá, mas comecei a ler as placas e, para confirmar, perguntei para um morador de rua que se aproximava para pedir uns trocados: “lá é o Canadá?”. “Yessss, lá é o Canadá!”. Então ele começou a dizer que namorava todas as atrizes, cantoras e modelos famosas americanas. De repente eu estava excitado – no bom sentido. Não fui para o Canadá, mas vi o Canadá! Quase abracei o mendigo.
Tirei mil fotos lá, até a hora de ir pegar outro busão, dessa vez para Chicago, aonde finalmente eu teria tempo para descansar e colocar as coisas em dia – principalmente os pensamentos: seriam doze dias na terra do Al Capote.
Comprovando a minha teoria de que a questão não é que os americanos cumprem a risca todas as regras e que, na verdade, depende muito do funcionário (alguns são filhos da puta, outros não), dessa vez o motorista era uma mistura de Bob Marley com Perdigão, ex-jogador do Inter. O cara era muito gente fina, bem humorado, ficava conversando e brincando com todos os passageiros. Ele simplesmente pegou a minha mala e colocou no bagageiro, sem medir e sem pesar, e ainda fez uma piadinha, que não lembro qual foi, mas que entrei no ônibus dando risada... E assim, finalmente, eu entrava aliviado num ônibus americano.
Durante o caminho tirei muitas fotos, pois você vai vendo os campos cheio de neves, e um monte de fazendinhas, a maioria sem cercas, como as que você vê nos filmes....


Depois de admirar o caminho, à noite, finalmente cheguei na cidade da quarta parada: Chicago!

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