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terça-feira, 21 de junho de 2011

Cidades antarescas

Para fazer minha dissertação de mestrado, que teve como tema o jornalista e escritor Erico Verissimo, obviamente tive que ler todos os livros do autor. Na verdade, a maioria eu já tinha lido antes de entrar no mestrado, pois, se não o tivesse feito, não teria sequer ingressado no curso. Enfim, um dos livros que mais gosto do Verissimo, e que não é a toa que é um de seus principais, é o Incidente em Antares. Desde a primeira vez que li esse livro, achei Antares muito parecida com Santo Ângelo, Ijuí, Cruz Alta, Santa Rosa e outras cidades do mesmo porte. Não é a toa que o próprio Erico admite que Antares era uma caricatura de Cruz Alta da época, cidade natal do escritor.

E, frente a alguns acontecimentos recentes no cenário nacional, vejo nas conversas nas ruas e nos debates em geral, um conservadorismo na população santo-angelense e ijuiense dignos de Antares. O primeiro tema é a legalização da união homossexual e a autorização para que casais homossexuais adotem crianças. De uma forma geral, muita gente julga que quem é a favor da autorização da união estável é homossexual. Um pensamento tipicamente antaresco. Porém, o tema mais polêmico diz respeito a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Ouvi muita bobagem de gente que raramente já saiu da região, que não conhece a realidade de outras cidades, e que acha um absurdo a adoção de crianças por casais homossexuais. Entretanto, para essas pessoas eu só dou uma sugestão: visitem as entidades assistenciais de Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, e outras metrópoles, ou passeie nas ruas dessas cidades de madrugada e veja crianças implorando por uma família, qualquer família, que só lhe dê comida e uma cama para dormir e um pouco de educação e atenção. Como você vai querer proibir qualquer tipo de adoção em um país miserável onde crianças são amontoadas em lares ou ficam zanzando na rua fumando crack? Quem é contra a adoção de crianças por casais homossexuais certamente não tem noção do que é essa realidade. Passem pela Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, por volta das 20h e vejam adultos e crianças dormindo amontoados nas calçadas, entrando na fila do sopão comunitário para não morrer de fome e pedindo esmola no sinal, ou mesmo assaltando e matando para roubar e ter dinheiro para comprar crack e, depois que fizerem isso e que conversarem com algumas dessas pessoas, voltem para conversar debater o assunto comigo...

O outro tema polêmico, em que as comunidades antarescas parecem ter problema cognitivo de entender a situação, é a legalização da marcha da maconha pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Fazendo uma matéria sobre isso, em Ijuí, encontrei inúmeras pessoas, formadas em psicologia, filosofia e outras áreas que aprovaram a decisão do STF, mas que não quiseram emitir opinião para a matéria com medo de serem taxadas de maconheiras pela sociedade. O fato é que a decisão do STF não autoriza o uso da maconha, mas sim, o direito da mobilização social sobre o tema. Aliás, como uma entidade vai proibir um protesto? Protestos não dependem de autorização judicial ou legal, pois, protestos exigem mudanças na legislação em vigor. Foi assim na Revolução Francesa. Foi assim na Guerra Civil norte-americana. Foi assim nas Diretas Já. A única coisa que o STF fez foi manter o protesto como pacífico, pois, certamente, se fosse proibido pelo órgão máximo da Justiça brasileira, haveria quebra-pau, tiros, mortos e feridos.

Como já escrevi demais por hoje, vou ficando por aqui. Um bom resto de semana a todos.

*Texto publicado em A Tribuna Regional.

2 Comentários:

  • já diria cazuza..piedade, senhor piedade, dessa gente careta e covarde... e não é preciso ir para os grandes centros... existem abrigos e crianças pelas ruas no interior tb... não tb não significa "qualquer" lar para essas crianças...mas que os homossexuais são cidadãos de direitos como qualquer outro e que se fulano dorme com ciclano ou ciclana não nos diz respeito... e sobre os protestos... a maconha vicia uma minoria, e que como os alcoolistas tem uma doença... pois sim alcoolismo eh considerado doença e não vagabundagem...

    Por Blogger Carolina, às 22 de junho de 2011 às 11:59  

  • Respeito a opinião de vcs, mas q a maconha é porta de entrada pra drogas mais pesadas, isso é comprovado...
    Como mãe de vcs, eu jamais gostaria de vê-los numa passeata a favor dos maconheiros, e tb a favor de alcoólatras, se existisse...
    Gostaria de ver respeitadas as opiniões contrárias às de vcs!!

    Por Blogger Nara Miriam, às 27 de junho de 2011 às 13:54  

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