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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Nova defesa ao New Journalism e ao Jornalismo Gonzo - 2° round

Estranhamento, refletindo sobre a minha briga com meus leitores (que, coincidentemente são todos meus amigos de longa data, além de alguns parentes), percebi que, coincidentemente todas as críticas sobre o texto Jornalismo Convencional x Jornalismo Gonzo, foram feitas por... adivinhem? Outros jornalistas! Será que isso tem a ver com um dado que já vi ser apresentado em mais de um congresso que diz que os jornalistas não sabem o que os leitores querem ler? Vou apelar aqui para dois professores meus do mestrado. Primeiro, o Jacques Wainberg. Ele sempre dizia, meio que para provocar os alunos mesmos, que o público não quer informação. O publico quer entretenimento. “Os jornais são muito chatos”, ele dizia. E é verdade. Talvez por isso o índice de leitura dos jornais seja tão baixo. Como já diria o Bourdieu, os jornalistas escrevem para eles mesmos. Eles se vigiam e usam a linguagem para que os outros jornalistas entendam e avaliem o texto.
E, por fim, para terminar com a discussão com meus colegas-leitores-amigos-jornalistas, cito o que o meu orientador, Antonio Hohlfedt, disse no congresso da Intercom de 2009, em Curitiba. Com palavras mais bonitas e refinadas que as minhas, ele disse que com a ampliação da internet, o jornalismo literário, talvez o new journalism, e eu, por conta própria, estendo para o jornalismo gonzo, sejam a última chance de salvação do jornalismo impresso (a discussão era sobre a possível morte dos jornais impressos). A coisa é óbvia. Por que eu, tendo todas as informações curtas em sites, vou querer comprar um jornal ou revista que só traz pura e simplesmente a informação? Tendo a internet e até a TV, o sujeito, para comprar algo impresso, vai querer algo diferente, uma reportagem mais analítica, mais aprofundada, mais comentada, enfim, com diversas das características do new journalism, e, quiçá, do jornalismo gonzo. Aliás, a TV já está se dando conta disso, com programas tipo o CQC.
Para encerrar, comentando meu comentário sobre a matéria de Zero Hora, é óbvio que eu não vou querer que minha filha se encontre na situação daquelas criaturas, entretanto, obviamente eu não vou morar na Cidade Baixa, uai! Os responsáveis pela educação daquelas criaturas são os pais delas, e não a prefeitura de Porto Alegre! Porra! E, além disso, eu sei a desproporção da matéria com a realidade porque eu já morei na Cidade Baixa e, quando lá residia, eu passava praticamente todos os domingos pelo local indicado na matéria para fazer compras no Zaffari, até porque há muitos outros pontos com pessoal se reunindo para beber até vomitar! O que eu defendo é que, seja lá por qual motivo for, eles tenham um local para se reunir e fazer o que querem. Inclusive, é óbvio que se proibirem as criaturas de ficarem lá, elas logo vão encontrar outro lugar. E, agora sim, para encerrar, também é explícito que a matéria da ZH teve um caráter homofóbico, mesmo que disfarçadamente.
E vamos ao segundo round

3 Comentários:

  • Concordo com o tal do Wainberg. Mas só em parte. Há, sim, o aspecto entretenimento, mas ele só é determinante mesmo no jornalismo popular, caso do Meia Hora, no Rio, do Diarinho, em Santa Catarina, ou do Super Notícia, em Minas Gerais, que é, por sinal, o jornal mais vendido do país. Os jornalões (Folha, Estadão, Globo, Estado de Minas, Zero Hora, Correio Brasiliense, etc.) dependem menos da quantidade de leitores do que da qualidade desses leitores: o que dá sentido a esses jornais é a legitimidade que eles conquistam junto àquele público que, em tese, dita os rumos do país (a classe média, o empresariado, os chamados "formadores de opinião"). Era disso que eu estava falando, quando me referi ao posicionamento editorial do Zero Hora. É papel deles refletir a opinião de seus leitores de classe média (com seus católicos e evangélicos) que não gostam de prostituição por questões morais, que já mencionei, e também econômicas (a prática faz o preço dos imóveis cair e, a longo prazo, prejudicam o comércio e, reza a lenda, estimulam a violência). Já a "circulação circular da informação" é parte de uma configuração mais complexa, que varia de lugar para lugar, de acordo com as características do público e dos veículos. Ajuda a entender, mas não esgota, nem de longe, o assunto. (Continua no próximo comentário).

    Por Blogger ababeladomundo, às 6 de abril de 2011 às 08:17  

  • O comentário do Antonio Hohlfedt é interessante. Eu concordo que há hoje uma demanda por abordagens jornalísticas que dêem conta da complexidade e trabalhem na construção de sentido ou na "contação de histórias". O factual tende a deslocar-se mesmo para a Internet. A Piauí faz exatamente isso, resgata as técnicas do new journalism. E faz o melhor jornalismo do país hoje, na minha opinião. Mas é lida por uma minoria. E isso não vai mudar. Você não vai ver as pessoas lendo a Piauí no ponto de ônibus. O trabalhador vai continuar preferindo as notinhas sacanas do Meia Hora às matérias investigativas de 15 páginas da Piauí. Durante boa parte da minha vida, critiquei os jornalões. Continuo criticando, na verdade. Mas acho que eles são um mal necessário. Acho que cumprem um papel na consolidação de uma fotografia do Brasil (não raro algo distorcida, adulterada ou fora de foco) que serve, se não de parâmetro, pelo menos de ponto de partida pra se pensar o país. É a melodia básica em torno da qual é possível improvisar. Desculpa ficar polemizando no teu blogue, cara. Mas é que esses assuntos ainda mexem comigo. Apesar de achar que "tá tudo dominado", gosto de conversar sobre essas coisas pra sentir que - apesar do meu ceticismo, do cinismo e do azedume - "debaixo desta neve mora um coração".

    Por Blogger ababeladomundo, às 6 de abril de 2011 às 08:36  

  • viu como não é bem ãnsim? e, como diria o pé di mais um, citado pelo seu madruga: "da discussão nasce a luz".

    Por Blogger Eduardo, às 6 de abril de 2011 às 09:58  

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