Filosofia de bar
Passei quinta-feira de noite no famoso bar do meu tio, em Porto Alegre. O Bar Garibaldi, localizado na Avenida Venâncio Aires, próximo a José do Patrocínio. Bem em frente à Praça Garibaldi. Pois bem, já mencionei o bar em textos anteriores. Infelizmente dessa vez o Pula-Pula não estava lá, senão colocaria aqui uma foto dessa figura folclórica da cultura gaúcha e porto-alegrense. Sorte minha que a Globo ainda não descobriu esse talento, nem esse reduto humano tão curioso, portanto, posso explorá-lo com exclusividade.
Estava lá um outro senhor, que aparece em uma dessas fotos, o de barba branca, e, porra, o cara é um filósofo. Também estava lá meu amigo Cristiano, e, obviamente, o meu tio. Estávamos nós quatro filosofando acerca de relacionamentos. Na verdade eu e o Cristiano, como mais novos, apenas ouvíamos os mais velhos. Em resumo, eles chegaram à conclusão de que a única mulher que não incomoda é a mãe da gente e olhe lá, e que o único jeito de tolerar um relacionamento é tendo uma amante. “O bom é ter uma mulher certa e uma amante certa”, disse o senhor. Certa, no sentido de correta. “Antigamente eu me preocupava, achava meio antiético ter amante. Hoje descobri que é o único jeito de salvar o relacionamento”, disse ele. Já meu tio, completou: “Com mulher a gente só perde. Não dá pra tenta ganhar nada com mulher. Tem que já entrar pensando em perder o menos possível”. Em meio a essas, quando alguém se referia a mãe, um outro entendia mal e perguntava:
- A amante?
- Não, a mãe.
- Ah bom...
Ou senão o contrário:
- Quem? A mãe, essa?
- Não, a amante pô.
- Ah, bem que eu desconfiei.
Em meio a essas filosofias, o Cristiano e eu nos olhávamos e exclamávamos: “tu vês”. Achei interessante a visão de mundo deles, apesar de não concordar (por motivos mais óbvios do que 1+1=2). Mas meu tio, olhando para o Cristiano e eu, e sabendo que nós estamos curtindo nossos respectivos namoros, disse: “eu não me apaixono mais, mas quem é novo tem que mais é que se apaixonar e aproveitar. Ai não se preocupa com mais nada”, disse. “Quando somos novos a gente se incomoda, mas é a melhor coisa do mundo”, completa o velhinho.
Nesse ponto até concordo com eles, mas acho que para não entrar naquela outra de que “mulher só incomoda” e tal tem que fazer de TUDO para manter viva essa paixão e tem que AMAR de verdade, e só quem ama sabe do que estou falando. E não jogar a culpa na outra pessoa, mas sim, assumir as responsabilidades em todos os sentidos. Mas isso já é outra questã com várias controvérsias, portanto, paremos por aqui com esse assunto.
Depois deu na TV a notícia do padre maluco que voou com os balões. Mostravam as equipes de busca, e o velhinho olhando tudo aquilo começou a pensar em voz alta, bebendo sua dosezinha de whiskey: “O cara pirou. Mas também, basta estar são para pirar. Quando vê um de nós pira – dizia ele, colocando o dedo indicador na cabeça e discursando com os olhos arregalados. Já pensou – começou a falar olhando para mim – se um de nós surta e resolve que quer voar de balão! Cada um cada um. Todo mundo tem o direito de pirar e de ter sua loucura”, concluiu. Depois, ele se revoltou: “mas que padre filha da puta. Olha o prejuízo que deu com todos esses aviões e bombeiros atrás dele”, e seguiu bebendo seu whiskey.
Mais tarde, quando estávamos todos filosofando sobre segurança pública em Porto Alegre, entrou um carinha chapado de loló. O cheiro forte tomou conta do bar. O tio tocava ele para fora e ele voltava. Era como um cachorro sarnento que é expulso da calçada, mas não arreda pé. Ele dizia “eles estão ali, eles estão ali. Sai daí, vai saindo um por um bem quietinho. Vão saindo”, apontando para as mesas vazias, com olhar vidrado e a língua enrolada e cambaleando de um lado para o outro. E o tio gritava “eles já foram, e tu vai ir também!”, e ia rapidinho tocar ele pra fora com uma cadeira na mão: “vou te fincar na guampa essa cadeira se tu voltar”, ameaçava. Enquanto o tio discutia com o cara, o velhinho filosofava: “não adianta discutir com um cara desses. Ele já está completamente fora. É como discutir com louco. Que nem ontem, no jogo do Inter (5 a 1 no Paraná), um cara ficou brabo com o Pula-Pula porque ele não calava a boca. O cara só pode ser louco! Querer que o Pula-Pula fique quieto é ser mais louco que o próprio Pula-Pula...”.
Numa dessas, o cara do loló voltou, parou na frente de uma as mesas, e fiquei observando a baba que escorria pelo queixo, lambuzando toda a camiseta e o chão do bar. O tio tocou ele de novo, exclamando “mas que inferno! Isso aqui é pior que o inferno, ta lôco!”. E dessa vez ficou de cão de guarda na porta, para garantir que o sujeito não voltaria.
Vez ou outra entra alguma daquelas figuras que já falei em outros textos, tentar pegar cinza dos cinzeiros para fazer fumo de crack, ou com moedinhas para comprar cigarros avulsos. É assim o tempo inteiro. E em meio a isso, para suportar o cotidiano do bar, é só filosofando sobre a vida mesmo: “eu já não me preocupo mais. Já me tiraram tudo. Agora tenho que ficar aqui, comemorar o aniversário do Pula-Pula amanhã e esperar meus 60 anos pra fazer uma festa se ainda estiver vivo. Mas também vai ser a última...”, diz, enquanto o velhinho tenta anima-lo “não diga isso, não diga isso...”.
E enquanto eu escrevo essas linhas, sei que está rolando uma grande, animada e tumultuada festa de aniversário do Pula-Pula no bar do tio. E viva o Pula-Pula!
2 Comentários:
manuxo q sentimental, amor, amar uhuhuhuhu um sarro o tio! mas uma coisa não gostei no teu texto, comparar o usuário de loló com um cachorro, ora, ele eh um ser humano, q está sofrendo, temos q entender ele.o tio daen tb não é fácil hahaahaha
bjus
Por Carolina, às 25 de abril de 2008 às 19:54
bae, o mundo cão. eu fora
mas deixa a cris saber q tu acha q tem q ter amante
Por Fábio Ritter, às 26 de abril de 2008 às 14:14
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