.

domingo, 6 de abril de 2008

Acabou o papel – e o dinheiro também!

Estava lendo, dia desses, “Um lugar ao sol” do Erico Verissimo, que é uma espécie de continuação de “Clarissa” e “Música ao longe”, com uma mistura de “Caminhos Cruzados”, como o próprio Erico explica no prefácio. Ele mesmo chama a atenção para o fato de que as dificuldades financeiras enfrentadas pelos personagens provavelmente tenham muito a ver com as que o próprio autor passava na época em que escrevia o romance.

Por motivos óbvios, não preciso nem explicar o motivo pela qual eu me identifiquei com o livro e a história toda. Só que, ao contrário do que fez o Erico na década de 30, eu não produzirei uma ficção e nem um romance (pelo menos por enquanto) para falar sobre isso. Vou contar a vocês, nobres leitorinhos tupiniquins tropicais, tudo o que se passou comigo em duas situações de forma nua e crua. Não sei se essas histórias são trágicas ou cômicas, cabe a cada um fazer seu próprio julgamento. Aliás, como diria o Mário Quintana, com mais ou menos essas palavras: “o escritor pensa em escrever uma coisa, escreve outra, e o leitor lê outra, completamente diferente daquilo que o escritor pensou no primeiro momento”. Pois então, vamos às histórias:

Como eu estava falando com meu irmão esses dias, durante uma discussão muito calorosa, profunda, reflexiva e construtiva para o futuro de toda a espécie, as pessoas defecam em diferentes lugares e de diferentes formas. Alguns “vão aos pés” em qualquer lugar, sem cerimônia nenhuma. Chegam em qualquer ambiente, encontram um banheiro, e vão lá dar uma “cagadinha”, e saem de lá sem remorso algum, assobiando “Carnaval em algum lugar qualquer”. Outros, até vão em qualquer banheiro, desde que não tenha ninguém por perto. Também existem aqueles que só cagam em casa, e um outro grupo, o mais neurótico, formado por pessoas que só cagam em casa, e quando ela está completamente vazia. Quando fomos no Intercom no Rio de Janeiro, no hotel onde meus amigos ficaram era feito um rodízio. Enquanto um cagava, o resto tinha que dar uma circulada pela cidade. Eu não estava hospedado lá, já que fiquei na casa do meu amigo Mário na Ilha do Governador. Mas como sou do grupo que caga em qualquer lugar, um dia resolvi pedir o banheiro emprestado e todo mundo foi para a rua curtir o clima carioca de setembro.

Você deve estar se perguntando: “e o que tem a ver a dificuldade financeira com esse lance de cagar?”. Pois eu lhe explico: antigamente eu não cagava em qualquer lugar, mas a necessidade me levou a mudar a minha mentalidade acerca desse importante assunto.
Tudo começou no verão de 2001/2002. Eu havia deixado Santo Ângelo em dezembro rumo a Balneário Camboriú para trabalhar no Hotel Costa do Marfim como mensageiro (isso já rendem outras histórias, mas vou me ater a questão da merda propriamente dita). Cheguei lá sem grana (pra variar) e minha mãe me orientou a passar no nosso antigo apartamento em Meia Praia para pegar uns pilas que havíamos ganho com o aluguel do dito cujo. Peguei a grana, que deu para pagar a pensão, que ficava do lado do hotel. Com o dinheiro que ganhava de gorjeta (variava de 10 a 20 reais por dia) eu pagava as despesas diárias, que era basicamente a comida que eu consumia depois das três da tarde, já que eu trabalhava das 7h às 15h, e nesse período eu ganhava café da manhã e almoço. Muitos desses cafés eu tomei sem dormir, mas enfim, com as gorjetas eu comprava o lanche da tarde, janta, e o que sobrava ia para o trago. Obviamente que não sobrava muito, mas o trago geralmente era bancado por alguém que ganhasse melhor na pensão, por algum colega do hotel, e, na maioria dos casos, por hóspedes, que nessa época do ano eram formados majoritariamente por excursões de estudantes do segundo grau. E o melhor: eram grupos de todo o país. Tinha paulistas, mineiros, paranaenses, mato-grossenses, sul-matogrosenses, gaúchos, e por ai vai.
Como se pode perceber, levando em conta que eu gastava mais ou menos o seguinte: 10 reais em comida e 10 reais em trago por dia, não sobrava nada para outras despesas, como por exemplo, papel higiênico. Mas logo nos primeiros dias eu achei uma solução. Quando saía do hotel, geralmente a vontade de cagar dava lá pelas seis da tarde, no intervalo entre o futebol na praia e a saída da noite. Eu chegava na pensão, tomava um banho, colocava uma bermuda e um chinelo, e ia rumo ao Shoping Center para usufruir do seu luxuoso sistema sanitário. Ia lá, cagava com toda a tranqüilidade do mundo, e saía do banheiro olhando as vitrines, assobiando “Carnaval de Veneza”.
Com o passar dos dias passei a revezar as cagadas no shoping com as cagadas no hotel. Quando não estava muito legal, falava para o outro mensageiro: “segura as pontas ai que surgiu uma emergência”, e ia para o banheiro onde passava vários minutos sentado na privada e filosofando mentalmente sobre a vida. E o mais importante: sem gastar com papel higiênico.
Mas minha situação melhorou quando recebi, e ai sim, pude ir ao supermercado e encher o carrinho com muito papel higiênico. Foi com muito gosto e orgulho que eu ia alcançando cada pacote de papel higiênico para a mulher que estava no caixa.

A segunda história, tentarei contar de forma mais resumida. Foi na minha estada de quatro meses em Porto Alegre no ano passado. O dinheiro estava acabando, assim como o papel higiênico. Meu tio, percebendo que eu estava usando o papel higiênico dele, tratou de deixar somente um rolo, e quando acabava, me deixava na mão, ou melhor, no jornal. Desconfio que ele passou a deixar o seu papel no quarto, e levava até o banheiro quando fosse dar uma cagada. Mas não achem isso estranho, nós dois somos Ritter, e como todos na nossa família, temos algumas atitudes estranhas...
Mas enfim, como ia dizendo, o dinheiro e o papel higiênico, que havia comprado na promoção leve 8 e pague 6, estavam acabando. A solução foi apelar para os banheiros de outras edificações. Primeiro fui até o Praia de Belas. Era longe pacas para uma simples cagada. Não valia a pena o esforço. Chegava lá exausto, às vezes até já tinha perdido a vontade de cagar. Depois, passei a usar o banheiro da rádio mesmo. Mas foi só umas três ou quatro vezes. Foi então que entrei para os panfletos, e com o dinheiro que economizava indo a pé ao invés de pegar o busão, já deu para comprar um pacote da promoção leve 4 e pague 3. Depois, quando recebi o salário da semana, fui orgulhosamente comprar o pacote da promoção leve 8 e pague 6. Infelizmente nunca mais encontrei essa promoção.
Para encerrar, foi assim que perdi o preconceito com os banheiros desconhecidos. Hoje posso estar em qualquer lugar do mundo, que se a vontade bater, lá vou eu rumo a privada sem constrangimento nenhum, assobiando “O céu é só uma promesa”, dos Engenheiros.

7 Comentários:

  • Mas barrrrrbaridade Ritter! huaishais
    Ninguem ia imaginar isso naquela epoca do estágio neh ! huaishuiashu
    Nanana... agora sei o ke era ke eu e a Oka sentia qndo estavamos naquela salinha lá neh hahahahahah

    Abraçoooo guri!

    Por Blogger Ceres Avila, às 6 de abril de 2008 às 21:02  

  • eu cago em qualquer lugar, desde que não tenha barulho e não seja muito sujo hauhauah.

    Por Blogger Fábio Ritter, às 6 de abril de 2008 às 21:06  

  • Resumindo, tu é um cagão! hhahaha

    Por Blogger Espaço Diverso, às 7 de abril de 2008 às 03:45  

  • O mais importante, depois que se adquire o hábito de cagar em lugares diversos, não é propriamente o lugar, mas sempre - eu disse SEMPRE - antes de sentar e manchar a porcelana, é verificar se há o bendito papel.

    Eu, que quando criança me cansei de cagar e só depois ver que não tinha papel, hoje sempre verifico. Aí aparece a Lady Murphy, e no único dia que não vi, estava, obviamente, sem papel. Ainda bem que era na casa dum camarada.

    Abraço

    Por Blogger Zaratustra, às 7 de abril de 2008 às 11:16  

  • não vou nem comentar!
    tu perdeu a vergonha na carahuahauhau
    kpz maninho bom texto
    eu ainda não estou nessa tua fase
    hahahaha
    bjus

    Por Blogger Carolina, às 7 de abril de 2008 às 15:53  

  • Muito profundo o papo que tiveste com teu irmão. Eu sou dessas que só c...em casa. Não completeia palavra por motivos óbvios, não fica bem na minha idade.
    Diz para a tua mãe que tudo que escreveste é normal, mas que ela não chore pelos padecimentos do filh por uma coisa tão banal.como uma simples cagada.

    Por Blogger Unknown, às 10 de abril de 2008 às 13:04  

  • Muito profundo o papo que tiveste com teu irmão. Eu sou dessas que só c...em casa. Não completeia palavra por motivos óbvios, não fica bem na minha idade.
    Diz para a tua mãe que tudo que escreveste é normal, mas que ela não chore pelos padecimentos do filh por uma coisa tão banal.como uma simples cagada.

    Por Blogger Unknown, às 10 de abril de 2008 às 13:07  

Postar um comentário

<< Home