Perguntas do passado
Estava olhando alguns arquivos velhos que tenho no computador, e achei textos do tempo em que eu estava na faculdade (até o longínquo primeiro semestre de 2006). Aliás, abro um parêntese para falar sobre uma situação contada pelo Moacir Scliar em uma palestra que acabou há poucas horas aqui em Santo Ângelo. Ele disse que quando estava na faculdade e escrevia para o jornal do curso de medicina, um amigo dele certa vez perguntou:
- Tudo isso que você escreve é verdade?
- Não – respondeu o Scliar. O amigo arregalou os olhos e retrucou indignado:
- Então você é um mentiroso! Como você pode escrever mentiras em um jornal?
Pois é. Apesar de não fazer dois meses que estou com esse blog, já me perguntaram se é tudo verdade. Então, para responder a todos ao mesmo tempo, eu calculo que 50% é verdade, 50% é mentira e 50% nenhuma das opções.
Mas voltando a minha fuçação (coloquei com dois cedilhas porque não achei no dicionário), achei esses textos, que, quando estava para me formar, transformei em um romance que inscrevi no Prêmio Nacional de Literatura do Sesc, e que, como não ganhei, engavetei e não tenho a intenção de publicá-lo por motivos de força maior, a exemplo do que o Scliar fez com “Histórias de médico em formação”, que ele disse ser a sua vergonha literária. Como eu não tenho nem obra para ter algum tipo de vergonha literária, só digo que não vou publica-lo por um motivo muito simples: porque não tenho verba! Rará! É mole! Pergunta lá pro Zé Simão...
Pois bem, em resumo, selecionei um desses textos para reproduzir aqui. Dei uma olhada, e se não me engano, foi escrito no final de 2004, pouco antes de eu ir para Porto Alegre tentar um estágio na Assessoria de Imprensa do Inter. Censurei algumas partes e troquei os nomes verdadeiros, mas tudo isso na época em que escrevi, e não vou alterar, portanto, os nomes seguem sendo fictícios, mas enfim, tudo pela minha segurança pessoal.... O título do capítulo era “mais merda”, já que o anterior era “merda”. Ai vai:
Mais merda (novembro ou dezembro de 2004)
Merda mesmo. Tinha acabado de bater um capítulo de duas páginas, mas deu pau nessa porra de computador e perdi tudo. Agora digito um parágrafo e ctrl + B. Como não adianta chorar o leite derramado, vamos lá. Tenho só mais dois dias de trabalho, e por isso resolvi escrever mais um pouco antes de partir rumo a minha mais nova aventura. Sábado vai ter um jogo para comemorar minha ida para o time número 2 do Rio Grande. Vai ser os Amigos do Sanchez contra os Amigos do Raul (um careca que trabalha na rádio e que também está saindo). Apesar de todo o estresse, que já contei em outros capítulos, eu gosto de lá. Gosto até dos que não gostam de mim, e com certeza sentirei falta de todos. Com essa aventura, terei que cuidar do dinheiro que me sobrou, senão brevemente voltarei a meus tempos de guri, quando eu e meus amigos contávamos as moedas para comprarmos cachaça e dois litros de refrigerante (às vezes não tinha dinheiro para o refri, e nós pegávamos qualquer outra bebida, como suco artificial de saquinho, para fazermos a mistura). É uma merda o cara ser pobre. Se bem que no fim, como diz a Rita Lee, tudo vira bosta mesmo.
Quem vai saber daqui a 100 anos quem foi Arthur Augusto Sanchez (esse era meu nome ficcional, inspirado no Arturo Bandini, do Fante) e o que ele fez em sua vidinha medíocre? Nem meus tataranetos saberão a merda do meu nome. Eu também nem faço idéia de onde estarei. Afinal, o que vai acontecer conosco? Aonde tudo isso vai parar? Onde tudo começou? Alguns me chamam de louco e outros dizem que eu não acredito em Deus. Muito pelo contrário, minha única certeza na vida é que Ele existe. Só que mesmo assim, quem criou Ele? O que existia antes Dele? O que virá depois? O que existe além do Universo? Será que pode acabar tudo a qualquer momento, quando o ser que está comandando toda essa porra resolver terminar seu joguinho virtual? Para onde vão os nossos sentimentos, as nossas angústias, os nossos orgasmos, os nossos tragos? No fim, tudo vai se perder na linha do tempo. TUDO VIRA BOSTA.
Admiro-me daqueles que se acham mais do que os outros por serem presidentes de instituições, lideranças políticas ou simplesmente porque nasceram filhos de pai rico. O que se passa na massa cinzenta dessa pobre gente? Será que eles têm a doce ilusão de que quando morrerem vão continuar com algum poder? Será que na outra fase da nossa vida os papéis não se invertem (os opressores se tornam oprimidos)? Perguntas, perguntas, perguntas...
5 Comentários:
Cara, se Falcão e Casagrande estiverem certos (vide texto no meu blog), há a vida após a morte. Mas pra isso é necessário que você seja um faraó e construa uma sepultura piramidal gigantesca, coisa improvável para nós, meros mortais.
Por Zaratustra, às 5 de março de 2008 às 16:36
Já passei da era do ctrl B, ctrl S...
Quando fiz minha mono o pc pifou, daí em janeiro só o cara recuperou os dados do HD que queimou, só alegria...
Já aperto ctrl S, quando faço uma folha "salvar como", ultima versão penúltima e a cada mês arquivo tudo em DVD e vai pra gaveta.
Ah e DVD não é qualquer um.
Vo ler o resto agora.
Fu i
Por Rodrigo, às 5 de março de 2008 às 18:14
é como dizem, um dia quem sabe o poste mija no cachorro hehehe
de qualquer modo 2006 e 2004 nem são longinquos assim, foi ontem =p
Por Fábio Ritter, às 5 de março de 2008 às 18:43
Jornalista verdadeiro é jornalista morto. Mas como mortos eles não são legais e fedem muito, e eu gosto de pessoas cheirosinhas e até gosto de jornalistas (!)
Então a mentirinha saudável tá valendo. Só num pode abusar que faz mal, dá diabetes. ou câncer. e verdade. daí morre.
Por elenmateus, às 7 de março de 2008 às 10:01
Li em algum lugar, num dia qualquer de um mes qualquer, num ano qualquer, que o escritor escreve meias-verdades. Bem como escreveste, metade é verdade e metade mentira. E viva a imaginação sem limites. Parabéns, garoto!
Por Unknown, às 11 de março de 2008 às 18:11
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