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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O dia em que Kaká se tornou o melhor do Mundo – A VERDADE

Tudo bem, chega de modéstias. Eu não gosto muito de aparecer, gosto de ajudar os outros sem estrelismo e tudo mais, mas dessa vez vou ter que confessar a você, nobre leitorinho tupiniquim: foi graças a mim, Eduardo Ritter, que o Kaká hoje é o melhor jogador do mundo. Vou contar essa história porque acabei de voltar do litoral catarinense e foi justamente lá, nas praias de Santa Catarina, que o Kaká começou a se tornou o Kaká do Milan e da Seleção. Antes ele era apenas o Kaká do São Paulo, que não conquistava título nenhum e que era chamado de pipoqueiro pela torcida do tricolor paulista...
Mas a vida do Kaká começou a mudar de verdade quando ele estava sentado em um banco na beira da Avenida Atlântica em Balneário Camboriú, no longínquo janeiro de 2002. Naquele verão, eu estava trabalhando como mensageiro no Hotel Costa do Marfim, em Camboriú, na tentativa de ganhar alguma grana enquanto não começava o curso de jornalismo. E nós, mensageiros, gostávamos de levar os hóspedes, em especial as excursões de férias de turmas que estavam terminando o segundo grau, para a balada, para o futebol de areia, para os luais inesquecíveis à beira mar regados a caipirinha de abacaxi e muita cerveja de litro. Mas saindo da vida noturna e voltando aos dias de sol a beira mar, eis que numa bela tarde, em meio a uma pelada (no sentido futebolístico) a beira mar e a alguma caipirinha com um pessoal de Tejupá-SP (terra do Iranildo, ex-Flamengo e Botafogo - eles me diziam isso com muito orgulho) aparece um cara alto e magro se dizendo jogador do São Paulo. Ele interrompeu a pelada bem quando nosso time ia marcando o 18° gol da goleada de 18 a 4, e o pior, eu tinha acabado de dar um chapeuzinho no goleiro, inclinei o corpo para dar uma bicicleta cinematográfica, quando vi aquele sujeito de bermuda de surfista invadindo o “campo”, ou melhor, a areia.
- Pára o jogo! - disse ele.
- Que porra é essa??!! – respondi aos berros.
- Lindo! Lindo! – gritavam as gurias na beira da praia.
Eu não estava acostumado com todo aquele assédio, a mulherada me chamando de lindo e um torcedor invadindo o campo para falar comigo.
- Cara! – disse o cara magro, ofegante, e com os olhos arregalados de tanta excitação – Desculpe interromper, meu nome é Ricardo Izecson , mas me chamam de Kaká lá no São Paulo. Estou de férias e queria aprender como você faz isso?
“Que sujeito mais ingênuo. Coitado, ele não sabe que quem sabe... simplesmente sabe! Não existe fórmula!”, pensei, vendo ele se aproximar.
- Olha meu jovem – respondi em tom professoral – quando a gente é novo é normal a gente sonhar bastante. Meu sonho era ser astronauta, mas nasci no país errado, fazer o quê. Eu até acho que você pode levar jeito para jogar, e acreditaria no seu futuro se não fosse esse seu jeitão de playboy. Mas podemos dar um jeito...
- Eu lhe seria eternamente grato – disse o garoto, em tom tímido.
“Tsc, tsc, tsc! – pensei - Ele é muito educado para ser jogador de futebol. Se ele chegasse e dissesse: ´porra, tu joga pá caralho! Me ensina a fazer isso mermão!’, eu até acreditaria nele”. Mas, movido pela pena que toma conta das almas bondosas, como é a minha, eu respirei fundo e respondi num suspiro.
- Ok, ok, meu filho. Primeiro fica sentadinho naquele banco e fica observando, depois você joga e vamos ver o que aprendeu.
- Ótimo! – disse, eufórico. E saiu correndo bestialmente de volta para o banco, de onde não tirava os olhos de mim. Por coincidência, quando ele saiu as gurias pararam de gritar “lindo, lindo”, desconfio que é porque a partida iria reiniciar e elas não queriam perder nenhum minuto do espetáculo.
Bola rolando, nosso time pressionando, a primeira bola que recebi deixei três marcadores para trás, o goleiro deu um carrinho, e ficou na saudade. Puxei a bola para um lado, e ele passou feito um touro, e apenas toquei para o fundo da rede. Passei pelo tal de Kaká e dei a primeira lição: “simplicidade, garoto!”. Ele puxou um bloquinho do bolso e começou a escrever.
Saída de bola para o adversário, em poucos segundos roubei a bola de um argentino cabeludo e bati de fora da área, a bola entrou no ângulo, sem chances para o goleiro. Passei novamente pelo jovem e recitei o segundo mandamento do craque: “objetividade, rapaz!”. Ele baixou a cabeça, e seguiu escrevendo. Os pobres dos adversários deram nova largada, e quase descontaram. Na cobrança do tiro de meta, a bola veio em minha direção e acertei uma bicicleta com direito a pedalada e tudo mais. A bola ainda tocou na trave direita antes de entrar. Passei novamente pelo tal Ricardo e parei na frente dele. “Ousadia! Ousadia! Agora vai lá, é sua vez”.
A bola voltou a rolar e fiquei observando o tal de Ricardo, que ainda bem que chamavam de Kaká, porque Ricardo não é nome de jogador, mas sim de amante de mulher de sargento. O garoto levava jeito, até. Fez um gol atrás do outro, e, devo admitir, alguns mais bonitos do que os meus. Antes de ir embora ele veio me agradecer solenemente pela minha aula particular e me garantiu. “Eu serei eternamente grato a você, Dudu. Sempre estarei pronto para ajudá-lo no que for preciso. Tudo o que eu ganhar daqui para frente devo a você”, disse. Eu fiquei olhando para aquela cara de bundinha de nenê, baixei a cabeça, e fiz um breve comentário:
- Não quero nada de você, meu bom rapaz. Apenas faça o que eu lhe ensinei hoje e siga sempre em frente. O resto virá automaticamente. Seja feliz, meu jovem, você merece.
Dei-lhe as costas e caminhei rumo a pensãozinha onde eu estava hospedado no lado do Hotel. No outro dia, lá estava eu, puxando roupa suja do quarto dos hóspedes para a lavanderia. O tempo passou, e naquele mesmo ano o Felipão enxergou o talento do jovem Kaká, e o convocou para a Copa do Mundo. “Começou bem, o garoto”, pensei ao ver a notícia na TV. Em pouco tempo ele já era campeão do mundo, e logo foi para o exterior. No Milan, se tornou o melhor do mundo. Mas como você, nobre leitorinho tupiniquim, bem sabe, o Kaká é gente boa, como todos somos. E não é nada ingrato. Após 80 mil pessoas gritarem “Ah! Melhor do mundo!” para ele no Maracanã depois da goleada de 5 a 0 contra o Equador no dia 17 de outubro de 2007, em jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, ele me escreveu uma carta, que publico aqui, na íntegra.

“Caro Dudu. Enquanto o grupo está rezando o Pai Nosso aqui do lado, eu consegui me afastar dos repórteres, dos colegas e do professor para te escrever essa carta. Você disse que não queria nada de mim, mas se quiser é só pedir. Tenho até hoje minhas anotações daquela aula que você deu na beira da praia no verão de 2002, e as leio todos os dias quando acordo. Se mudar de idéia e quiser me pedir qualquer coisa, dinheiro, carro importado, viagem para a Europa, hospedagem no melhor hotel de Milão, ou até uma vaguinha como chefe da assessoria de imprensa do Milan, é só falar. Um abraço de seu disciplinado discípulo, Ricardo Izecson, o Kaká”.

Recebi a carta, e confesso que cheguei a quase me emocionar. Fiquei feliz por ter mudado a vida de uma pessoa, então, resolvi responder-lhe esses dias.

“Caro Ricardo ‘Kaká’ Izecson. Estou feliz por você. Não quero seu dinheiro, tenho mais do que isso. Muito menos sua fama. Mas você sabe aproveita-la muito bem e estou feliz porque você realmente entendeu e levou a sério o que eu lhe disse. Onde estou, nem meu cachorro me ouve. Sucesso, sempre. Um abraço, e me mantenha sempre no anonimato. Se alguém lhe questionar sobre essa história, negue! Pois eu posso cair em tentação e publicá-la, mas será um momento de fraqueza, então, deixe que eu passe por louco. É o melhor para mim. Estou torcendo por você. Abraço, Eduardo Ritter”.

3 Comentários:

  • muito legal... vc anda escrevendo bastante, boa inspiração, parabéns

    Por Blogger Cristiane Campos, às 11 de fevereiro de 2008 às 17:27  

  • "Mas saindo da vida noturna e voltando aos dias de sol a beira mar, eis que numa bela tarde, em meio a um “golzinho” – duas traves feitas com chinelos". Até ai, tudo bem!

    "Saída de bola para o adversário, em poucos segundos roubei a bola de um argentino cabeludo e bati de fora da área, a bola entrou no ângulo, sem chances para o goleiro." - hahahahahaha, quero que você me mostre onde fica o angulo de um gol feito com chinelos na areia! Excelente! hahahahaha Muito bom!

    "A bola ainda tocou na trave direita antes de entrar." Chinelo bom esse hein? Se fosse na praia aqui perto de casa, o chinelo ia sair voando e seria gol de qualquer maneira...

    Sucesso para você, Ritter!

    Por Blogger Vinicius Longo, às 13 de fevereiro de 2008 às 06:10  

  • Pior que o Kaká não seguiu o conselho da simplicidade e andou se metendo com umas igrejas duvidosas por aí.

    Por Blogger Zaratustra, às 15 de fevereiro de 2008 às 04:13  

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