Um cara fudido, mas de valor!
Mas enfim, estava cansado dessa vida. Por puro amor a profissão de jornalista eu saía às seis da tarde da sala do chefe, após levar uma mijada porque fiquei um minuto das minhas oito horas em pé sem gritar, e porque ninguém subiu até a porra do escritório com um maldito dum panfleto que tivesse assinado com o meu nome, e ainda ia a pé até o prédio da RBS, na Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, para fazer meu estágio voluntário na Rádio Gaúcha. Como eu dizia, estava cansado dos panfletos e resolvi pedir uma ajuda para aqueles que me davam mais conversa na rádio. Um deles era o José Aldo Pinheiro, que simpatizou comigo por eu ser de Santo Ângelo, sendo que ele trabalhou três meses na Rádio Santo Ângelo, que pertence aos mesmos proprietários do jornal onde eu trabalho hoje. Para quem é do sul, é fácil identificá-lo. Ele é narrador esportivo e apresentador do Plantão Gaúcha, e também narra algumas partidas e faz reportagem de campo pela Sportv. Além disso, também trabalha na TV Com, e se não estou enganado, já ouvi jogos da RBS narrados por ele também. Enfim, é um global, já que a RBS é a emissora ligada a Globo aqui no Rio Grande do Sul. Gente fina, ele.
Contei-lhe resumidamente minha história dos panfletos, enquanto ele me olhava sem piscar, meio angustiado, até. Quando terminei de falar, ficou me olhando sem abrir a boca. Eu comecei a pensar “caraí, será que meu sotaque é tão horrível que ele não entendeu porra nenhuma do que eu disse?”. Ele continuava me olhando sem piscar, até que murmurou em voz baixa, mas audível. “Porra, tu é um cara fudido”.
Essa foi a minha vez de arregalar os olhos. Comecei a rir de nervoso, não esperava uma descrição tão direta da minha situação, porém, sincera. E apesar das palavras, deu para perceber que foi sem maldade. Pela minha cara, acho que ele percebeu que pensou aquilo em voz alta e tratou de corrigir, depois de mais um silêncio. “No sentido de que você é um cara de valor. É uma pessoa que corre atrás, poucas pessoas são assim...”. Depois disso ele prometeu tentar achar alguma coisa para mim relacionada à comunicação em Porto Alegre, e pediu para que eu ligasse no dia seguinte. Eu comecei a rir novamente, sem saber como explicar a minha REAL situação, e como ele dizia: “Liga mesmo. É que estou sempre na correria...”, eu segui rindo de nervoso e de desespero, até que lhe disse: “é que não tenho cartão (nem de orelhão, muito menos de celular) nem dinheiro para comprar um”. Então parece que ele lembrou da parte do cara fudido e disse de bate-pronto: “Tsc! Liga a cobrar mesmo Duduzão. Tu é dos nossos!”. Legal. Empreguinho à vista.
No outro dia, estava eu almoçando em um restaurante na Borges de Medeiros quando resolvi ligar (tinha sobrado cinco pila, senão eu comia nas “maxorra” da Riachuelo, que é R$2,50, ou no R.U. da UFRGS, que é R$1,75, mas que ficava muito longe do centro. Em ambos ganhava um copo de suco grátis). Ele atendeu:
- Alô.
- Alô, é o Eduardo, que está indo ai na rádio... Liguei para lembrar que... – ele interrompeu.
- Teu código é 55? – o de Porto Alegre é 51.
- Sim – respondi. Cinco segundos de silêncio até ele falar novamente:
- Ah, não tem problema, pode deixar Duduzão. Vou ver o teu negócio aqui.
Ele estava em meio às negociações na tentativa de achar algum meio de comunicação sem preconceito com pessoas do interior (o que parece impossível) quando abriu a vaga no Jornal das Missões, onde estou trabalhando hoje. No final das contas, vim para Santo Ângelo de um dia para o outro e comecei a trabalhar aqui, e nunca mais falei com o Zé Aldo. De repente achou que eu morri, sei lá. Ou senão, pensa que peguei paixão pelos panfletos... Mas o mais provável é que nem se deu conta de que eu não estou mais lá. Enfim, tenho que agradecer a ele de qualquer forma pela atenção e preocupação que demonstrou, já que a maioria deles não tem tempo (apesar que não tenho certeza disso, acho que falta de tempo muitas vezes é igual a falta de interesse) nem para saber se o colega que senta o lado está respirando ou não... (pra que saber uma coisinha dessas, afinal? O que é uma vida?).
Enquanto eu voltava para a “terrinha” de ônibus, após quatro meses no UMBIGO do mundo (ah, que ilusão dos gaúchos, como diziam meus amigos cariocas para me irritar, mas na verdade eles nem imaginavam que eu concordava com eles) olhando pela janela aquela pacata paisagem, ia pensando e prometendo para mim mesmo: um dia eu ainda deixo de ser um cara fudido.... E esse dia é..... HOJE!!!!
Está chegando a hora de ir para a praia!! Entonces: hasta la vista, bybes!!!!!!!
8 Comentários:
Ah Ha!
Fala Gaucho!
:)
Finalmente um espaço para comentar.
É, eu conheço muitas histórias de pedir ajuda para emprego e comigo aconteceu também, eu acabei conseguindo um emprego de limpador de avião. Dá pra acreditar?
O problema é que não resisti nem tres meses lá, com os primeiros 45 dias de contrato, eu pedi recissão e sai. Não havia respeito profissional nenhum lá. A diginidade como principal aquisição do trabalho era negada para os profissiionais e eu não podia continuar aceitando isso.
Hoje eu sou artista e também sou um cara fudido, mas feliz!
:)
Até a próxima!
Vinicius Longo
Por Vinicius Longo, às 6 de fevereiro de 2008 às 05:30
Essa gurizada...
Mas depois que passa, é engraçado. Se bem que panfletear em porto alegre não seve ser nada, nada bom.
Mas é assim. Então a gente se forma é é isso. Eu me formei e caí dentro de agência, não saí nunca (pulei, de uma pra outra) e, seguindo o exemplo do carioca aí, vou pular longe e ser artista!
=)
hehe.
boa praia pra ti, se tu distribuia planfletos, eu sou uma garota que os faz (aqueles, de mercado, com 300 ofertas todo mês). :/
beijo!
Por Carla Arend, às 6 de fevereiro de 2008 às 06:00
O Zé Aldo é um cara de grandes frases. Essa tua tá boa, mas eu ainda prefiro: "Família é família e sacanagem é sacanagem".
Boa, Frankinho!!!!
Por Rafa Mano Diverio, às 6 de fevereiro de 2008 às 08:18
Orraaa Dudu!
Os Panfletos da Vida neh!
Tem cada uma que a gente passa que não imagina que vai sobreviver!
Mas agora tá feliz! Espero tu do Jornal para o Mundo neh!
heheheh
Bjoo
Por Ceres Avila, às 6 de fevereiro de 2008 às 12:17
e aí parcero !!! que história hein!!! assim como tantas que vc já contou aki.. dá p rir pra caramba...Sabe Dudu, é uma alegria saber que vc está realizando seus sonhos, vc sabe que sou tua fã de carterinha... como pessoa e principalmente como profissional. Tive o prazer de ter trabalhado com vc, e ter tido a oportunidade de aprender contigo... seu carisma, teu carater, e principalemte a tua paciência, são referência p muitos...eu estou inclusa rsrsrs..continue escrendo estas pérolas p gente... um super bjo.. e muito sucesso p ti...
Por Unknown, às 7 de fevereiro de 2008 às 03:44
Este eu conheço porque é da familia... tem potencial para ir longe...basta centrar a cabeça na atividade fim , que é o jornalista... colunas bem escritas, como é característica desta familia de jornalistas. além dele tem o fábio tambem....a gurisada vai longe. atenciosamente
Por Sandro Silvello, às 7 de fevereiro de 2008 às 09:19
..uma boa historia. muito legal teu blog.
Por Tereza, às 10 de fevereiro de 2008 às 16:36
uma boa historia... blz de blog.
Por Tereza, às 10 de fevereiro de 2008 às 16:37
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