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sábado, 1 de abril de 2017

O beijo que não vem da boca II

Sempre é bom compartilhar o sentimento puro e alheio, então, aqui vai mais um texto do meu xará Fronza, irmão do velho Ronaldo Fronza Júnior. Para quem interessar possa, segue:

Eu não sabia o que era mais rápido: a velocidade da água da cachoeira que caía a uns 50 metros de altura ou a velocidade de meu coração. O cenário era perfeito e, desde que te vi naquele início de tarde, flutuando em minha direção para dar um educado beijo no rosto, eu percebi que aquele seria um dia inesquecível. Eu olhava para aquelas águas, que você dizia serem geladas, e não sabia se deixava a insanidade tomar conta de mim para dar um mergulho naquele líquido fluído que se movimentava tão rapidamente barranco abaixo, ou se criava coragem para te falar tudo o que eu sentia e tudo o que desejava. Mas a timidez, que vezemquando volta como acontecia quando eu entrava na adolescência, tomava conta de mim. Eu queria dizer que você estava linda, bela, magnífica, perfeita, que era tudo de bom que eu poderia sonhar, uma energia que faz a minha vida ficar mais rara e que coloca um sorriso gigantesco na minha cara, mas enfim, a única coisa que eu consegui dizer foi algo totalmente banal como: “essa água deve ser tão gelada quanto a da Califórnia”. E quanto mais eu tentava consertar, mais bobagens insignificantes eu falava, do tipo, “deve ser gelada por causa das geleiras do Polo Norte que derretem e vão para a costa oeste americana...”. Essa é a versão que ouvi dos moradores de Los Angeles, mas porra (sorry, but... você também gosta dum palavrão...), eu saquei que não estava indo para lugar nenhum falando isso...
Aquela era uma situação mágica: você completamente linda, em frente de uma singela paisagem, com o barulho das águas caindo ao fundo... E meu coração não me ajudando nem um pouco, apenas acelerando e me deixando mais sem jeito... Nem mesmo o fato de ter enfrentado parto de cinco filhos, de ter viajado pelo mundo, de ter trabalhado em jornais e rádios tendo que entrar ao vivo para falar sobre coisas que eu não tinha ideia do que significavam, de ter defendido TCC, dissertação e tese de doutorado e de pós-doutorado, de ter que enfrentar o pânico de avião viajando 12 horas até o norte dos Estados Unidos e ao oeste da China, de ter conhecido o fundo do poço e ter conseguido me reerguer sem saber como, de ter trabalhado como empacotador de supermercado e auxiliar de mecânico para ter o que comer, de já ter me apaixonado e me decepcionado mil vezes, de ter que falar em público sem ter o que dizer, enfim, nada que eu havia vivido até aquele momento se comparava com o que sentia diante de você, em frente àquela cachoeira. Não que o nervosismo tenha sido maior ou menor do que em outros momentos. Mas foi único. Eu estava ali, diante de uma bela paisagem, estando completamente apaixonado por você, falando um monte de bobagens simplesmente para evitar o apavorante silêncio... Foi então que um anjo, um santo, um cúpido, enfim, sei lá eu quem, chegou ao meu ouvido e disse: “vamos cara, se mexe, senão você vai deixar passar essa mulher magnífica, que pode ser a garota linda e doce que você tanto sonhou”. Então, olhando para o alto, observando aquela água caindo lá de cima, respirei fundo, e resolvi te encarar. Você baixou os olhos e eu perguntei se eu poderia ser sincero. Você disse que sim e, então, um breve diálogo aconteceu. E, depois de ouvir algo como “puta que pariu”, já tendo você em meus braços, finalmente nossos lábios se encontraram. Os sinos tocaram.
E eu percebi naquele momento, que aquele não era um beijo que vem da boca, como no romance do Ignácio Loyla Brandão. Aquele era um beijo que vinha do coração, da alma, das águas que seguiam caindo ao nosso lado. Aquele era um beijo que nunca mais seria apagado da memória, acontecesse o que acontecesse. Era um beijo ao mesmo tempo esperado e inesperado, aguardado e rejeitado, desejado e refutado, sonhado e conquistado. Foi um beijo orquestrado pelo som das águas, ritmado pelo batimento de nossos corações, sonhado pelas noites insones em que eu fiquei acordado pensando em ti. Ok, nem te perguntei se você concorda comigo, mas foi o que senti, não pela boca ou pelo cérebro, mas pelo coração. Um beijo insano e cheio de energia. Um beijo ditado pelo ritmo e pela beleza das águas da cachoeira, que nunca param de cair... assim como eu gostaria que nossos lábios nunca parassem de se encontrar... Foi muito bom. Foi mágico, inesquecível e indescritível. "Vou pedir, aos céus, você aqui comigo... vou jogar... no mar... flores pra te encontrar!". Foi musical e foi poético.

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