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sábado, 18 de março de 2017

Diálogos impagáveis

Tudo começou quando estava procurando o Canal do Boi para incomodar a pequena Lary. Eu fazia isso com a minha ermã Carolina e com meu ermão Fábio quando morávamos todos juntos: eu ligava a TV no Canal do Boi para irritá-los. Coisa de irmão. 100 reais dou-lhe uma! 100 reais dou-lhe duas!!! É um belo reprodutor, vamos lá, vamos lá, 100 reais... 150... 150... Então, procurando o Canal do Boi na Sky passei pela TV Senado onde estava passando um documentário sobre Erico Verissimo. Parei ali. A Lary, obviamente, reclamou. Expliquei que eu havia escrito um livro sobre aquele tio, ao que ela duvidou.
- É sério, nenê. Tem uma caixa cheia com meus livros ali no escritório do pai.
- Quando eu aprender a ler vou ler esse teu livro chato....
Meu desprestígio intelectual continua. Primeiro, em outubro, ela não acreditou que eu iria subir no palco da Feira do Livro e, agora, cinco meses depois, ela chama o meu livro de chato. Não desisti.
- Tá bom, então quando você souber ler, vou escrever um livro de historinha pra você.
- Mentira.
- Por que não acredita?
- Porque você não sabe escrever livro...
Mas que guria desconfiada... O documentário segue. Digo que ela tem um livro do Erico Verissimo. Ela lembra. Comprei num shopping em Porto Alegre: A Volta dos Três Porquinhos. Ela vai ao quarto e volta com ele debaixo do braço para eu contar. O livro é longo. Erico se empolgava para escrever suas histórias, mesmo para os pequenos. Contei alguns pedaços, mas ela queria tudo. Enquanto contava que a Vaca Fria havia perdido o sono e que os três porquinhos mosqueteiros mais o Gato Pingado tentavam ajuda-la a encontrar, apareceu o professor Antônio Hohlfeldt na tela.
- Olha nenê, o professor do pai.
- Mentira.
- Por que não acredita?
- Porque é muito velho.
Olhei o professor Hohlfeldt falando na tela, ainda com cabelos pretos. Imagina se ela o visse agora, grisalho... Depois apareceu o Luis Fernando Verissimo.
- O pai já entrevistou esse cara também.
- Mentira.
- Mas que côsa! Só sabe dizer "mentira"? Tenho até uma foto com ele...
- Então me mostra...
- Agora não, vamos ver o filme...
Ela insiste para eu seguir contando a história da volta dos três porquinhos. Entre um capítulo e outro dou uma espiada no documentário. Então, aparece um trem.
- Sabia que o vô e a vó se conheceram num trem?
Ela primeiro se mata rindo e depois duvida, só pra variar. A conversa toda dura até metade do documentário, quando ela começa a coçar os olhinhos miúdos e dizer que está com sono. Acaba desistindo de duvidar de mim e de ver o documentário sobre esse tio maluco que escreveu um livro que se chama O Urso com Música na Barriga (que prometi comprar para ela em breve) e vai dormir, vendo um desenho na televisão. Dou um beijo na testa dela, desejo boa noite, e volto para o documentário, satisfeito por curtir esses diálogos impagáveis com a minha pequena.

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