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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Prazer, Dr. Erico Verissimo

Completamente suado, devido ao esforço e ao calorão de janeiro no nordeste do Rio Grande do Sul, estou praticamente terminando mais um artigo sobre as narrativas de viagem de Erico Verissimo. Lembro-me que quando o meu orientador de mestrado, Antonio Hohlfeldt, sugeriu que eu fizesse a minha tese de doutorado sobre as narrativas de viagem do Erico, pensei que não havia pano pra manga para escrever um trabalho de mais de 200 páginas sobre o assunto. Agora, escrevendo um artigo para cada um dos quatro livros de viagem produzidos pelo escritor cruz-altense, percebo que não só dá pano pra manga para 200 páginas, como pra 400, quiçá, 500. Concordo totalmente com um artigo publicado pelo próprio Hohlfeldt: os livros de viagem do Erico são bons demais e são, injustamente, tratados como literatura menor do que os romances escritos por ele. Mas, não é sobre o artigo que quero comentar aqui, mas sim, sobre o processo que envolve a produção-circulação do paper.
Comecei a escrevê-lo pensando em enviar para o Intercom Sul (quem não conhece, pesquisa no Google). No entanto, como o período de envio de trabalhos para a Compós (idem) abre e termina ainda em tempo de enviar trabalho para o Intercom Sul, resolvi arriscar: estou fazendo um trabalho mais aprofundado (porque os textos para a Compós são maiores) e, caso não venha a ser aceito (o que acho que vai acontecer) vou enviar uma versão reduzida desse mesmo artigo para o Intercom Sul. Entenderam? Não? Bom, então releiam o parágrafo prestando atenção que eu não vou desenhar. Só desenho para a Larissa...
Esse é um dos caminhos para as publicações do fantástico mundo da Capes. No entanto, por que eu não acredito que meu artigo será aceito na Compós? Simples, não acho que o tema vá interessar aos avaliadores. Penso que eles pensam que sou um louco fissurado na obra de Verissimo e que não tenho mais o que fazer além de ficar lendo e escrevendo sobre ele e outros escritores. Além disso, a concorrência para a Compós é gigantesca e, admito, qualificada. Aliás, até me solidarizo para com eles, pois sei como é foda ter que escolher um número limitado de artigos tendo, às vezes, centenas de bons artigos. Já passei por isso e sei como é ruim e dói na consciência. Mas, fazer o quê, a vida é dura e o sistema é foda.
The point here is, como ressaltei, muitos avaliadores não acham a temática pertinente. Não está a altura “deles”. Vou enviar já preprado para ver a justificativa que vão dar para a rejeição. “Não aprofundou conceito tal” (ok, aumentem o limite de caracteres que contextualizo até a bunda da tua mãe. Sorry, but... you know...), não citou o Fulano e o Beltrano para falar de cultura (mesma coisa, só aumentar o espaço, que aumento as referências), o texto ficou ensaístico (já leu Ensaio como forma, do velho e bom Theodor Adorno?), a metodologia não ficou clara (ok, da próxima vez anexo um desenho), o tema não é pertinente ao GT (ok, fiquem discutindo as merdas que circulam no Facebook que vou cuidar do meu jornalismo literário no meu canto...), etc, etc, etc.
O meu consolo é que provavelmente esses avaliadores não sabem (vão ficar sabendo quando lerem o artigo, se é que vão ler ele inteiro) que o Erico Verissimo recebeu o título de doutor em literatura pela Universidade da Califórnia no dia 4 de junho de 1944. E por que isso me consola? Ora, porque provavelmente se o Dr. Erico Verissimo fosse avaliar os textos desses avaliadores, que ignoram a sua obra e importância para a história do jornalismo e da literatura do Brasil, ele os rejeitaria – em muitos casos escrevendo duas únicas palavras como justificativa: prolixo demais. Até por isso utilizei “Dr. Erico Verissimo” já no título do artigo. E, esse sim, merece o título que tem.
Hasta!