Fim
O fato é que me senti inspirado para escrever justamente para tentar escolher com qual dos cinco me identifiquei mais. Portanto, listo e apresento brevemente abaixo os cinco personagens para, ao final, tentar escolher qual eu seria, caso tivesse que escolher uma das cinco vidas para representar a minha (ou para viver). Coisa de criança, sei, mas o que é a vida senão um monte de brincadeira de criança? (algumas de mal gosto, admito).
Álvaro (1929-2014): É o último a morrer do quinteto. Uma palavra define ele: brocha. Não apenas na cama, mas na vida. É o que dá a pincelada mais geral dos outros, inclusive, conforme Fernanda explica em uma entrevista, porque foi do conto sobre Álvaro que nasceram os demais e o livro como um todo. Entra na monotonia do casamento até que a sua mulher, Irene, termina por traí-lo com um instrutor de academia. Mesmo se sentindo indiferente a ela, opta por se separar. Age com frieza e não tem ânimo para começar a tudo novamente. Sinteticamente, acaba brochando na vida.
Sílvio (1933-2009): É o porra louca da turma. O Stifler do quinteto. O cara que bebe, cheira, fuma, faz bagunça, quer comer todo mundo – por pouco não quer comer os amigos. Acha os outros quatro uns babacas acomodados em suas vidinhas domésticas. Também se casa, mas quando a mulher descobre uma de suas amantes, pensa que foi uma dádiva de Deus, pois assim passa a se dedicar apenas às orgias. Trabalha num banco, de onde não espera nada e não quer promoção, amizade, porra nenhuma, apenas quer tirar o salário para curtir a vida. Acaba pegando uma ex-namorada hippie e gaúcha do Ribeiro e, juntamente com outra gaúcha, forma um relacionamento tríplex. Mente para os amigos que se mudou para o Rio Grande do Sul, mas na verdade se transferiu para Niterói, aonde vive uma vida desregrada e cheia de libertinagem (como diriam os adolescentes contemporâneos, uau, que forte!). Morre completamente bêbado e chapado em um carnaval carioca.
Ribeiro (1993-2013): é um chato ao quadrado. Todo certinho, acaba se apaixonando por Raquel, a hippie que depois fica com o Sílvio. Mesmo tendo namorado pouco tempo com ela, a vida dele acaba ali. Fica simplesmente obcecado pela ex e a dúvida sobre se ela estava dando para o Sílvio ou não o corrói por dentro. Depois que separam, descobre o viagra e só quer pegar virgens. Obviamente, acaba morrendo do coração.
Neto (1929-1992): se o Ribeiro é um chato ao quadrado, o Neto é um chato ao cubo. Todo metódico, é feliz com a sua vida doméstica ao lado de Célia, que casou virgem com ele. Dorme cedo, de pijamas, e acorda cedo. Célia, é lógico, odeia os outros quatro. Totalmente fiel, não gosta de festas e bebedeiras. Mesmo com o casamento entrando em crise – pois a Célia também é uma chata de galoche – ele entra em depressão profunda quando a parceira morre. Acaba com a própria vida em 1992.
Ciro (1940-1990): É o primeiro a morrer, com 50 anos. É o ídolo dos outros. Garanhão, bom papo, come quem quiser. Assim, ele se casa com Ruth, que é a deusa dos olhos de todo mundo. Os dois formam o casal perfeito. Porém, nem a beleza e o encanto dos dois superam a monotonia do casamento. Ruth sofre com as primeiras traições até que se deprime e o larga de mão. Ele arranja uma amante e, aos poucos, vai levando as suas coisas para outro apartamento, até que, quando vê, está morando lá. Oficializa o divórcio e dispensa a amante quando percebe que a vida doméstica a dois está tendo início de novo. Fica solteiro, comendo de geral (como diria a letra de um funk carioca), faz algumas loucuras com o Sílvio mas, sua vida acaba com um câncer fulminante em meio a tudo isso. A definição que a Nanda usa, na boca do personagem, para definir a doença é cruel e real: “é uma roleta russa. Puxei o gatilho e tinha a bala”. No seu leito de morte, ainda come uma enfermeira gostosa mas frustrada com a própria vida e com o seu noivado.
Bom, de maneira muito resumida, esses são os cinco personagens do livro. Nas minhas palavras ficou parecendo bem clichê e sem graça, mas a Fernanda Torres transforma essa trama em um texto atrativo e com algumas reviravoltas e surpresas (induz o leitor a pensar que vai acontecer X e acontece Y). O único defeito que eu apontaria é o uso excessivo de personagens – alguns sem importância – que acabam fazendo com que a gente se confunda entre o que aconteceu com quem. Bom, então voltemos à pergunta: com qual dos cinco eu mais pareço? Caralho, o Álvaro, o Neto e o Ribeiro são muito chatos. Até posso ser chato, mas não como eles. Na verdade, suas vidas são monótonas demais. São mortos vivos. Até o Ribeiro, que fica solteiro, joga tudo fora pela sua chatice (e destaco aqui o realismo com muito humor e ironia de Torres, pois conheço muita gente com personalidade parecida com os cinco). Sobram, então, o Sílvio e o Ciro. Acho que não sou tão porra louca quanto o Sílvio. Penso que só faria as coisas que ele fez se eu realmente perdesse tudo e não tivesse mais pelo que lutar. E o Ciro, bom, eu não tenho nada a ver com o Ciro, pois ele é aquele cara que as mulheres dão em cima, de tão bonito e bonachão. Portanto, por eliminação, entre os cinco, diria que o que mais parece comigo é o Sílvio. Mas com a ressalva que, se eu tivesse que escolher uma dessas cinco vidas para ser a minha, eu – e toda a torcida do Flamengo – escolheria a do Ciro. E se você se confundiu com os nomes - Ciro, Neto, Álvaro, Ribeiro e Sílvio - não se preocupe, pois eu até agora, mesmo depois de ter lido o livro, ainda confundo. E, provavelmente a Nanda também. Mas nada que tire o prazer de ler esse mix de comédia com drama. Até fiquei curioso para ler o segundo livro dela, uma coletânea de crônicas publicadas na imprensa brasileira. Enfim, chegamos finalmente ao fim do meu comentário sobre Fim.
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